Podia ter sido uma estreia de sonho nos Jogos Olímpicos para a pugilista Angela Carini mas não foi. A italiana decidiu abandonar o combate, em lágrimas, aos 46 segundos, frente à atleta argelina Imane Khelif, que apresenta níveis de testosterona superiores à média. A atleta não é, contudo, uma pessoa transgénero ou transsexual, tendo nascido já com estes níveis mais elevados.
Carini, de 25 anos, sofreu o primeiro golpe de Khelif e terá fraturado o nariz. Face ao sucedido, os juízes decidiram dar o combate por terminado.
Quando Imane Khelif foi declarada vencedora, Angela Carini ajoelhou-se ainda no ringue e chorava compulsivamente ao mesmo tempo que afirmava: “Não é justo”.
“Tentei lutar. Queria vencer. Recebi duas pancadas no nariz e não conseguia respirar, doeu muito. Procurei o meu treinador e, com maturidade e coragem, disse ‘basta’. Sempre lutei lealmente pelo meu país, mas, desta vez, não consegui lutar mais”, justificou a atleta italiana, afastando a tese de que tinha desistido por considerar que estava a combater contra um homem.
Meloni deixa uma palavra a Carini
Nas redes sociais, a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, deixou uma publicação de apoio à desistência de Angela Carini, afirmando que a luta não foi justa.
"Sei que não vais desistir, Angela, e sei que um dia vais ganhar com esforço e suor que mereces. Numa competição finalmente justa", escreveu a governante.
Quem é Imane Khelif?
Nascida em Tiaret, no noroeste da Argélia, há 25 anos, Imane Khelif está a participar pela segunda vez nos Jogos Olímpicos. Em Tóquio2020, a pugilista argelina caiu nos quartos de final frente à irlandesa Kellie Harrington.
Em 2022, venceu a medalha de prata nos Mundiais de Boxe, tornando-se na primeira atleta argelina a chegar à final da modalidade.
No ano seguinte, foi excluída da mesma competição, horas antes de disputar a medalha de ouro. A decisão foi tomada pela Associação Internacional de Boxe, que organizou a prova, alegando que a atleta “não cumpria aos critérios de elegibilidade” e que iria excluí-la para manter a “justiça e integridade da competição”.
“Foi feito um teste que indicou que não cumpria os critérios de elegibilidade e que tinha vantagens competitivas em relação a outras concorrentes”, declarou a federação, que não precisa que teste foi feito, falando em questões de “confidencialidade”.
A Associação Internacional de Boxe admite, contudo, que, na altura, as atletas não foram sujeitas a testes de testosterona (como aconteceu agora nos Jogos Olímpicos de Paris).
Nesta semana, o Comité Olímpico Internacional (COI) confirmou a participação de Imane Khelif nos Jogos Olímpicos de Paris. O COI afirma que o nível de testosterona de Khelif está dentro dos parâmetros de uma mulher, e notou que a atleta já tinha competido nos Jogos Olímpicos de Tóquio, há três anos.
Também comité olímpico da Argélia condenou aquilo que chamou de ataques “sem fundamento” à pugilista argelina.
Imane Khelif não é, inclusive, a única atleta a competir nestes Jogos Olímpicos de Paris, depois de ter chumbado nos testes de eligibilidade dos últimos Mundiais de Boxe. Na mesma situação encontra-se Lin Yu-ting, pugilista do Taiwan.
Por que terá Khelif níveis superiores de testosterona?
Uma das hipóteses levantadas é a de a pugilista ser ‘intersexo’. Este é um termo que substituiu 'hermafrodita', que caiu em desuso nos dias de hoje. Refere-se a pessoas que possuem características sexuais genéticas correspondentes tanto ao sexo masculino quanto ao feminino. As pessoas intersexuais nascem com ambos os cromossomas e poderão ter órgãos genitais ambíguos, produzindo hormonas masculinas e femininas.
A atleta poderá sofrer de uma patologia chamada “síndrome de Swyer”. Neste caso, trata-se de uma variação genética do desenvolvimento sexual, que faz com que pessoas do sexo feminino nasçam com vagina, útero e trompas intactas, mas as gónadas (as glândulas das células sexuais essenciais à reprodução e onde são produzidas as hormonas sexuais) degeneram.
[Notícia atualizada às 14h45 de 2 de agosto de 2024]