O Benfica tropeçou frente ao Arouca, depois de não ir além de um empate 2-2, num encontro da vigésima nona jornada. Por consequência, a formação da Luz perdeu perante os seus adeptos a liderança da Primeira Liga, passando a partilhá-la com o Sporting, contando para já com desvantagem no confronto direto. Não se pode escrever que o resultado foi injusto. A formação de Bruno Lage nunca procurou estabelecer uma vantagem confortável no primeiro tempo (marcou o primeiro golo aos 60’) e permitiu inclusivamente à equipa orientada por Vasco Seabra ter bola e estar presente no meio campo ofensivo com ligeira confortabilidade.

Na memória dos adeptos do Benfica ficará a grande penalidade marcada por António Nobre, aos 72’, num lance envolvendo Nicolás Otamendi e Jason Remeseiro. Há um toque entre os dois jogadores, que para alguns é suficiente para ser assinalada uma falta, mas que para outros é algo provocado pelo extremo espanhol. No entanto, foi este lance que acordou a Luz, embalada num 1-0, numa fase em que apenas o Arouca lutava para mudar alguma coisa no resultado, que a esta fase da partida parecia injusto.

O golo sofrido foi possivelmente o melhor que podia ter acontecido ao Benfica (mesmo com as críticas). A reação da equipa foi boa, que procurou o golo a partir da reposição de bola no meio campo. O mesmo chegou depressa. Vangelis Pavlidis respondeu da melhor maneira a um pontapé de canto, colocando os adeptos novamente em apoteose, aos 79’. Andreas Schjelderup ainda foi a tempo de fazer o terceiro, que daria uma tranquilidade total no resultado, mas o mesmo foi anulado pelo VAR, aos 85’.

O que aconteceu em seguida foi somente mérito do Arouca, que aos 80’ não tinha qualquer ponto no bolso. ‘Perdido por 100, perdido por 1000’. A equipa procurou o golo até ao final da partida e conseguiu encontrar o caminho para as redes de Anatoliy Trubin, gelando os ânimos, criando um silêncio ensurdecedor.

António Nobre apitou para o término do jogo e o coro de assobios revelou-se. Tanto para o plantel e equipa técnica do Benfica, como para o árbitro e seus colegas. Acabou a partida em campo e começou uma outra, mas fora dele, que já costuma ser hábito nas fases tardias do campeonato.

As águias emitiram um comunicado a atacar a arbitragem, assumindo sem ler qualquer relatório que a grande penalidade cometida sobre Jason Remeseiro era inexistente, recordando o lance de Eduardo Quaresma no dia anterior, no Santa Clara x Sporting. A partir desse momento, ao invés de se analisar o jogo e os erros cometidos por Bruno Lage e seus jogadores, o foco passou no ataque a António Nobre e à decisão tomada por ele e contrária ao indicado pelo VAR. Pouco mais se falou de futebol, nem mesmo na conferência de imprensa, bastante curta para o padrão habitual. Em vez de tal atitude, não teria sido uma melhor ideia a presença de Rui Costa perante os jornalistas depois da partida?

Infelizmente, o final deste encontro representa bem o futebol português na atualidade. O Arouca alcançou o empate com mérito, já que não abdicou dos seus princípios numa casa como a Luz e frente a um adversário como o Benfica. Não é um feito para todos. Tudo isto, com vários elementos a desfalcar a ficha de jogo e com outros em dúvida até ao apito inicial. Vasco Seabra não foi o protagonista do jogo, mas deveria ter sido mais elogiado no final do encontro.

O Arouca dominou em vários momentos da partida o Benfica, utilizando uma construção a partir do seu guarda-redes, impondo-se com o seu meio campo no terreno do adversário. Em muitas ocasiões, conseguiu alcançar perigo com lances individuais, numa fase em que o jogo estava a proporcionar transições rápidas (Alfonso Trezza e Jason Remeseiro foram destaques neste capítulo).

O Benfica não perdeu dois pontos pelos erros da equipa da arbitragem. A equipa não conseguiu marcar um golo na primeira parte, quando tinha que demonstrar a sua força aos adeptos e que contava com ambição de se manter confortável no primeiro lugar. A ‘tropa’ falhou. Faltou coragem para realizar alterações ao intervalo, já que Ángel Di María foi claramente um elemento a menos na primeira parte e Andreas Schjelderup poderia ter entrado nessa fase do encontro, já que agitou bem mais do que o argentino.

Bruno Lage é um técnico mais confortável enquanto perseguidor do que como perseguido e os encarnados perdem a liderança em pouco tempo, que cai nos braços do Sporting numa fase absolutamente decisiva. O calendário dos leões é na teoria mais confortável que o das águias, que está marcado por deslocações complicadas, como Vitória SC e Braga (na última jornada), além de uma receção ao rival citadino que pode inclusivamente definir para que lado da Segunda Circular nesse dia.

Contudo, está tudo longe de ser definido. Na semana passada, o Sporting empatou contra o Braga e muitos afirmavam que o Benfica não ia falhar. Esta semana, o fenómeno acontece, mas ao inverso. A probabilidade de as duas equipas voltarem a perder pontos (sem ser no confronto direto) é extremamente elevada, num período em que os adversários parecem ter descoberto várias imperfeições nos estilos de jogo de Benfica e Sporting. A Primeira Liga 2024/25 vai ser até ao fim e o Benfica 2-2 Arouca é o espelho do mesmo: a procura incessante pela vitória não aconteceu e no fim colheram-se os frutos do que foi semeado ao longo de 90 minutos. Para a próxima semana haverá um novo capítulo.