É como se o topo assustasse, o movimento de olhar para cima não ver ninguém causasse vertigens. Pela terceira vez esta época, o Benfica iniciava uma jornada como líder do campeonato. E pela terceira vez acaba essa mesma jornada sem ser líder. Aconteceu depois do empate nas Aves, depois da derrota em Alvalade. Agora, com o momentum do seu lado, com os adversários em falência, o Benfica volta a não agarrar a ocasião. O empate frente ao Arouca (2-2), que marcou já nos descontos, deixa o Sporting na frente do campeonato, com os mesmos 69 pontos da equipa de Bruno Lage. Cada vez mais a I Liga caminha para se resolver nos últimos instantes, nos pormenores.

Um pormenor não foi aquilo que o Arouca fez na Luz. Sem nunca se entrincheirar no seu meio-campo, confiou na 1.ª parte na coesão da sua organização defensiva. Ao Benfica não faltou volume atacante, vagas e vagas de gente a assoberbou a área arouquense, mas abusando quase sempre do jogo exterior, face ao posicionamento meticuloso da equipa do distrito de Aveiro. Quando tudo falhou, houve sempre um último homem para salvar em cima da linha. Aconteceu com Fontán, a cabeamento de António Silva, e a Alex Pinto após remate de Pavlidis.

Após os primeiros 15 minutos, o Arouca estabilizou, tentou a sorte de longe, com Sylla a obrigar Trubin a boa defesa. A realização mostrava Mantorras, Miccoli e Nuno Gomes sentados juntos na bancada, como que lembrando que sem golos o síndrome da intranquilidade do líder estaria aí para assombrar o Benfica. Pavlidis quase afastou as preocupações antes do intervalo, com uma grande jogada individual, sentando Popovic, com o remate a bater no poste. Apesar dos 15 remates e dos nove cantos, ao Benfica faltava variabilidade no ataque e o Arouca ia para o intervalo a sonhar.

MIGUEL A. LOPES

Um sonho ao qual se agarrou nos primeiros minutos da 2.ª parte, com um futebol ousado, liderado por Jason Remeseiro, importante no momento defensivo e a ligar o ataque. Aos 47’, Trubin afastou um remate traiçoeiro de Yalçin após transição rápida do Arouca e minutos depois foi Alfonso Trezza a obrigar o ucraniano mais uma vez a esticar-se. É no período mais interessante do Arouca que o Benfica marca, aos 60’: Carreras passou por dois adversários na esquerda, movimento que tantas vezes falhou na 1.ª parte, com Aursnes a amortecer suavemente para o remate colocado de Orkun Kökçü à entrada da área.

O perigo voltou a rondar a baliza de Nico Mantl logo a seguir, com Di María a ficar perto em recarga a um primeiro remate de Kerem Aktürkoğlu e o Benfica parecia embalado para encontrar territórios de tranquilidade. Não foi assim. Yalçin empatou minutos depois, de penálti. Face ao empate, Bruno Lage lançou as alterações que tinha boicotado após o golo do Benfica, colocando Belotti e Schjelderup, jogando com dois pontas de lança na frente.

O jogo dividia-se, às vezes na atrapalhação normal de duas equipas que querem ganhar. A dez minutos do fim, um lance ganho na raça por Aktürkoğlu transformou-se num canto, esse canto tornou-se num canto curto e o Arouca foi apanhado na curva. Quando Kökçü cruzou para o segundo poste, Alex Pinto não estava lá para cobrir Pavlidis, que marcou o 11.º golo nos últimos 10 jogos na I Liga, confirmando um 2025 extraordinário, depois das dúvidas iniciais.

Gualter Fatia

Estava perto a 11.ª vitória consecutiva do Benfica, que podia igualar a série do início da temporada do Sporting. Em dez minutos, a Luz viu um golo anulado a Schjelderup, a euforia, a intranquilidade a regressar e já nos descontos o Arouca de novo a empatar, um golo que premeia a exibição de uma equipa que jogou como um grande contra um grande. E com um grande movimento ofensivo, saído de jogadores que saltaram do banco: Alex Pinto redimiu-se do erro no golo do Benfica desmarcando Nandín na direita, com o passe atrasado do uruguaio a encontrar o remate de primeira de Weverson.

À entrada da jornada 30, a I Liga está empatada e os momentos de forma parecem valer pouco. Infetado por um síndrome de intranquilidade, o Benfica tem uma semana para encontrar a panaceia. Na verdade, todos têm. Ninguém está a salvo de ser picado.