
Quando tinha quatro anos, não conseguia articular duas palavras seguidas. Chorava, gritava, os barulhos incomodavam-no, só gostava de sumo e leite com chocolate. O seu comportamento diferente das outras crianças tinha uma razão: ainda bebé foi diagnosticado com perturbação do espectro do autismo muito grave.
Agora, aos 25 anos, venceu o primeiro torneio ATP da sua carreira, em Houston, derrotando na final o compatriota Frances Tiafoe por 6/4 e 6/2, tornando-se ao mesmo tempo o terceiro tenista com pior ranking a conseguir conquistar um troféu.
Brooksby entrou na qualificação como 507.º do Mundo depois de dois anos de ausência devido a uma lesão no pulso e a uma suspensão por ter falhado três testes antidoping em 12 meses e para vencer o ATP 250 salvou match points em três partidas diferentes. Pior caminhada do que o americano, só Marin Cilic que saiu de 777.º do ATP para vencer o torneio de Hangzhou em setembro de 2024 e Lleyton Hewitt, que era 550.º da hierarquia quando venceu o torneio de Adelaide em janeiro de 1998, com apenas 16 anos.
Mas a história de Jenson Brooksby joga-se muito para lá dos courts.
«Acho que enfrentei muitas adversidades na vida, dentro e fora do ténis. Ainda fico nervoso, um pouco tenso com estas circunstâncias de pressão nos jogos, mas acho que ter enfrentado outras coisas difíceis na vida dá-me uma perspectiva diferente», explicou ele com um sorriso de orelha a orelha após a vitória.
Curiosamente, o tenista venceu na semana do Dia Mundial da Consciencialização sobre o Autismo, que é dia 2 de abril.
Jenson começou na terapia ainda não tinha três anos. Até hoje Michelle Wagner está ao seu lado. «Quando conheci Jenson, aos dois anos e nove meses, ele era uma criança gravemente afetada pelo autismo. Completamente envergonhado, com uma necessidade imperiosa de que tudo corresse bem e uma incapacidade de tolerar a frustração ou a mudança. Além disso, era hipersensível aos sons», descreveu a terapeuta.
«Quando penso ou falo sobre isso, os meus olhos enchem-se de lágrimas. É mágico, é louco quando sabemos de onde vem. Muitos dos jovens que acompanhei conseguiram tornar-se independentes e encontrar trabalho a tempo inteiro após os estudos, mas nenhum como Jenson», disse.
Quando tinha cinco anos, os pais decidiram inscrevê-lo em aulas de ténis. E ficaram de boca aberta.
«As primeiras aulas foram incríveis. Este menino não conseguia pronunciar uma palavra, mas era capaz de aplicar de forma muito precisa e incansável as instruções técnicas que lhe eram dadas em court. Nessa altura considerei esta atividade altamente terapêutica», explicou, sem contudo, imaginar o que se seguiria.
Aos sete anos, mudou de escola e os pais não informaram ninguém sobre as suas diferenças. Seguiu sem problemas e cada vez mais focado e apaixonado pelo ténis, tal como no sonho da profissionalização.
Em 2021, com 21 anos, chegou à final do ATP Newport. Perdeu. Um ano depois voltou a sair derrotado em Dallas e Atlanta, mas, nessa altura, era o n.º 33 do ranking ATP, sem que ninguém imaginasse o que tinha passado para ali chegar.
O seu american dream era cada vez mais real, mas 2023 não trouxe nada de bom. Uma lesão num pulso obrigou-o a uma cirurgia e as coisa ficariam ainda mais complicadas quando, em outubro, ainda lesionado a Agência Internacional para a Integridade do Ténis castigou-o com 18 meses de suspensão por ter faltado a três testes antidoping.
O seu mundo desabou.
A defesa explicou os problemas de comunicação entre o tenista e a entidade e a suspensão acabou por ser reduzida para oito meses assim que os investigadores souberam da sua condição médica.
Antes de regressar à competição, dias antes do último natal, Brooksby decidiu tornar pública a sua condição. «É algo que não quero ter de guardar para mim. Espero que isso inspire as famílias a não desistirem».
Tal como o próprio fez.