
O Benfica ganhou o primeiro troféu do escalão sub-23 esta época, a Taça Revelação, ficando ainda no terceiro lugar da Liga Revelação. Vítor Vinha, treinador desta equipa composta maioritariamente por jovens entre os 17 e os 20 anos, aponta que este sucesso está aliado àquele que a formação do Benfica teve também nos iniciados, juvenis e juniores – escalões nos quais foi campeão nacional.
«O projeto é tão grande que se tiveram de conjugar alguns fatores. O primeiro é a qualidade dos nossos jogadores. Temos dos melhores jogadores, com muito talento, com muita vontade de trabalhar e, portanto, esse é o principal fator. Depois, é a qualidade dos recursos humanos à volta destes mesmos jogadores, em todos os departamentos», que fez com que este fosse «um ano de ouro».
Um aspeto de enorme importância para o Benfica Campus é o desenvolvimento do lado humano do jogador, que já está muito presente no trabalho levado a cabo por João Faria Rodrigues, técnico que levou os iniciados do Benfica à conquista do campeonato.
«No que ao futebol diz respeito, há frontalidade máxima, com cuidado na forma como se expõem pontos de vista. Nós, adultos, para com crianças que têm um sonho e que ainda não têm capacidade e experiências de vida suficientes para compreenderem determinadas coisas, devemos ser frontais, mas devemos ter cuidado na forma como expomos.»
Essa frontalidade está ligada à exigência que se pretende incutir nos jogadores, que, como se sabe, também precisam de atividades próprias das suas idades: «Temos a consciência de que estamos num enquadramento de altíssima exigência, mas também que eles são crianças e que precisam de ter, em treino ou criando momentos fora dele, momentos de lazer, de brincadeira.»
Tais atividades são implementadas desde cedo. Pedro Torrado, coordenador técnico dos escalões de benjamins (sub-11), infantis (sub-13) e do Centro de Formação e Treino de Faro, destaca a importância que a dança e a luta têm no desenvolvimento nas crianças destes escalões.
«Com a dança procuramos desenvolver a fluidez dos movimentos», numa altura em que as crianças têm «uma janela de oportunidade maior» para melhorarem «estas questões mais motoras»: «Se nós trouxermos uma pessoa aleatória da rua para o nosso treino, com muita repetição, vai conseguir fazer um determinado movimento. Não vai é conseguir fazê-lo, se calhar, com a qualidade que nós observamos um Bernardo Silva ou um João Félix fazer. E isso tem a ver com essas questões mais motoras.»
Já a luta serve para os jogadores «conseguirem utilizar o balanço do adversário para tirarem partido daquilo que são os seus movimentos».
Caminho para a equipa A
O objetivo da formação é formar jogadores aptos a corresponderem à exigência da equipa principal do Benfica, onde, claro, o nível técnico e físico é de enorme importância. Mas, aponta Pedro Torrado, que possivelmente a diferença entre aqueles que chegam aos mais altos patamares do futebol e os que não chegam «está na mentalidade» dos jogadores.
«A linha se calhar é muito ténue entre aquilo que eles já conquistaram e aquilo que outros não conseguiram conquistar e também tinham um talento ou uma facilidade em conquistar as coisas que se calhar não conseguiram potenciar. E aí parece-me claramente que as questões da resiliência foram fundamentais.»
João Faria Rodrigues também sente isso, sobretudo nos sub-15, que diz ser «um escalão que pode ser perigoso» se «o enquadramento familiar e o clube não providenciarem as condições e a envolvente necessária para que as crianças se desenvolvam enquanto tal».
Para além disso, este é o primeiro escalão com «real visibilidade para o meio do clube e para a opinião pública em geral que acompanha o futebol de formação, por disputarem pela primeira vez a primeira divisão do Campeonato Nacional». Depois, «associado a isso, pela idade, há a possibilidade de eles se vincularem ao clube através de contratos de formação. Isto traz a comparação entre os pares E associado também a isto, é o primeiro escalão em que há seleção nacional».
Mas, como aponta Vítor Vinha, por várias razões «o Benfica é uma referência mundial a nível do futebol de formação» e os resultados desta última época são das mais recentes provas disso mesmo. Resta ver que jogadores irão transitar para a equipa agora liderada por Bruno Lage, um processo que Vítor Vinha também explicou, que envolve as equipas de juniores e a equipa B.
«Há uma grande relação entre todos os treinadores da formação. Falo mais no nosso corredor entre todos, os Sub-19, entre mim e o Luís Araújo [treinador dos sub-19] entre eu e o Nélson [Veríssimo, treinador da equipa B]. Falamos diariamente sobre as necessidades de cada equipa e daquilo que é a projeção para os jogos no fim de semana. Depois, há uma ligação com a equipa principal e há canais próprios de comunicação onde nós fazemos esta transição dos jogadores.»
«Obviamente que aqui a prioridade será sempre a equipa principal e, portanto, nós só temos é de estar contentes que os nossos jogadores vão lá treinar muitas vezes e que se preparem porque também estão-nos a ajudar a nós, porque recebemos jogadores altamente mais preparados e mais capazes também para o nosso contexto», conclui.