
«Se é uma felicidade imensa? Sim, acho que é uma boa expressão: estou a viver uma felicidade imensa», reconheceu Patrícia Sampaio a A BOLA após sagrar-se campeã da Europa ao derrotar, por ippon, a alemã Anna-Monta Olek (5.ª do ranking), de 22 anos, na final dos -78 kg do Europeu de Podgorica. Com tal feito, a judoca do Gualdim Pais, de 25 anos, juntou a medalha continental à de bronze conseguida, nove meses antes, nos Jogos de Paris 2024. Brilhante!
Detentora de um bronze no Euro de Montpellier-2023, Patrícia, 4.ª do ranking e principal cabeça de série do campeonato, tornou-se no sexto português a sagrar-se campeão europeu num total de doze ouros e com Telma Monteiro a tê-lo celebrá-lo em seis (!) ocasiões. Junta-se ainda a Catarina Costa (-48 kg) depois desta, na quarta-feira, ter sido prata no evento. Quarta medalha que arrebatou em quatro edições seguidas. Desde Telma. Em Lisboa-2021, que Portugal não tinha um campeão da Europa.
«Não diria que foi fácil. De fora até pode ter parecido, mas esse combate [contra Tcheumo] foi o mais complicado porque era mentalmente exigente manter a paciência e o foco»
Curiosidade da demonstração de como foi o domínio de Sampaio: ganhou todos os quatro combates por ippon e apenas num, contra a campionissima Audrey Tcheumo, passou dos 3 minutos. De 35 anos, a francesa é detentora de dois pódios olímpicos (0+1+1), quatro em Mundiais (1+2+1) e sete em Europeus (5+2+0). Ou seja, nas sete vezes que foi medalhada num Euro, chegara sempre à final. Não desta vez.
É sempre difícil dizê-lo desta maneira, mas foi mais fácil do que esperava? «Não diria que foi fácil. De fora até pode ter parecido, mas esse combate [contra Tcheumo] foi o mais complicado porque era mentalmente exigente manter a paciência e o foco. É sempre diferente ganhar por shidos [castigos] do que através de uma projeção. E esse foi mais exigente desse ponto de vista», conta já após ter recebido a medalha.
»Não foi um dia fácil, foi mais um dia que correu super-bem»
«Levou o primeiro castigo, é preciso manter a estratégia. Levou o segundo, continuar igual e não tirar o foco daquilo que tínhamos programado. Mas não foi um dia fácil, foi mais um dia que correu super-bem. Tínhamos coisas delineadas e conseguimos seguir o plano sem quase dar espaço para as outras entrassem nos combates. Foi muito bom», confirma.
Impondo o ritmo do combate intenso, como gosta desde os primeiros segundos, na final Patrícia controlou a luta pelo título e praticamente nunca teve que responder a ataques de Olek que, mais receosa, preferiu sempre o contra-ataque. Tudo ficou decidido quando, ainda com 2.20m no cronómetro, projectou a germânica, contra quem nunca havia lutado, apesar desta registar nove pódios (5+1+3) no Circuito Mundial.
«Acho que este é o meu estilo de luta. A juntar ao facto de ter conseguido bastantes vezes dominar as pegas e desenvencilhar-me das delas, acabei por não dar muitas oportunidades para que entrarem porque fazia-o primeiro», acrescenta.
Depois de, em Agosto, ter conquistado a medalha de bronze nos Jogos de Paris — quarta do judo nacional depois de Nuno Delgado, Telma Monteiro e Jorge Fonseca —, a judoca do Gualdim Pais não tem parado de brilhar no Circuito Mundial, subindo ao pódio em todos os três grand slams que disputou: 3.ª em Tóquio, 1.ª em Paris e 3.ª Tbilisi.
Agora, e já tendo sido bronze no Euro Montpellier-2023 e ficado em 5.ª em Zagreb-2024, conquistou o ouro nos seniores para juntá-lo ao que ganhara duas vezes como júnior (Sófia-2018 e Vantaa-2019) e outra nos sub-23 (Budapeste-2021). Apenas nos cadetes é que foi prata (Vantaa-2016).
«Nos Jogos, fiquei sem palavras, sem saber como reagir. Passados nove meses estou na mesma situação»
Para quem, há nove meses, celebrou um bronze olímpico, o que é que isto significa este título europeu? «Este campeonato e o título europeu eram uma das coisas que tinha na minha lista de objetivos para 2025. Sabia que havia definido uma meta difícil, portanto, conquistá-lo teve um sabor especial. Nos Jogos, fiquei sem palavras, sem saber como reagir. Passados nove meses estou na mesma situação. Não sei, preparei-me muito para isto mas, realmente conquistá-la e tê-la nas mãos é difícil de explicar...», diz.
«Foi muito emocionante, é mais um sonho tornado realidade»
Quando o hino começou a tocar estava de olhos abertos, mas pouco depois fechou-os. Foi para não se emocionar ainda mais? «Não, foi para sentir a música… [risos]. Não sabia o que fazer... Foi muito emocionante, é mais um sonho tornado realidade», reconhece.
«Mas ainda falta o Mundial. Falta tanta coisa... Ainda há muito para conquistar»
Para quem foi campeã europeia júnior duas vezes, de sub-23 outra e agora sénior, o que há a fazer? Repetir este várias vezes. «Sim, agora é repetir títulos. Mas ainda falta o Mundial. Falta tanta coisa... Ainda há muito para conquistar».
«Neste momento, sou uma pessoa bastante mais confiante, com menos hesitações quando compito. Essa sensação tem sido um crescendo»
E o percurso que tem feito desde os Jogos, todas as provas a que foi, três grandes slams, acabou sempre no pódio. Além da consistência do trabalho e resultado começa a existir também muita confiança? «Penso que, inevitavelmente, à medida que vamos ganhando, vamos tendo maior confiança, dá-nos um boost. Mas não consigo dizer se tivesse perdido no primeiro combate ela seria abalada. Obviamente que este resultado deixa-me ainda mais confiante para o que aí vem. Neste momento, sou uma pessoa bastante mais confiante, com menos hesitações quando compito. Essa sensação tem sido um crescendo», explica a judoca de Tomar.
«Irei apenas preparar o Campeonato do Mundo, quero fazer uma boa preparação e depois… logo veremos»
Depois dos Jogos, reduziu as férias para voltar mais cedo aos treinos e poder competir no Grand Slam de Tóquio, em dezembro. E agora, vai ter férias ou pretende voltar já a competir? «Tenho o Mundial [em Budapeste] daqui a menos de dois meses e não vou a nenhuma etapa do Circuito até lá. Irei apenas preparar o Campeonato do Mundo, quero fazer uma boa preparação e depois… logo veremos», deixou no ar.