«A comunidade de descendentes diretos de portugueses no Brasil chega a 25 milhões, é do tamanho da torcida do São Paulo, queremos tê-la do nosso lado e ser o elo, a conexão, a ponte entre Portugal e o Brasil», diz Alex Bourgeois, o presidente da SAD (no Brasil diz-se SAF, Sociedade Anónima de Futebol) da Associação Portuguesa dos Desportos, o tradicional clube brasileiro que foi três vezes vencedor do Paulistão e uma vez, em 1996, vice-campeão brasileiro mas que passa, desde 2013, pela maior crise financeira e desportiva da sua história.

«A Portuguesa tem 550 milhões de dívida, as receitas de 2025 já foram todas antecipadas, ou seja, não temos nenhuma receita, mas, enfim, era o esperado, agora temos um plano de renegociação de dívidas e um orçamento para os próximos cinco anos», conta a A BOLA, por entrevista telefónica, o dirigente que nasceu em Paris, é matemático de formação, trabalhou por 23 anos no mercado financeiro e já teve cargos diretivos no Lens, no Padova, no Bahia, no São Paulo, no Figueirense e no Millonários.

Paralelamente aos desafios financeiros, a SAD enfrenta os desafios desportivos com ambição. «As conquistas são importantes para alavancar o projeto, para este ano eu diria que o principal objetivo é subir da Série D para a Série C do Brasileirão e na Copa do Brasil chegar, passo a passo, dependendo do sorteio, à terceira eliminatória», afirma. No Paulistão, prova em que se estreia hoje defrontando nada menos do que o tricampeão Palmeiras, de Abel Ferreira, «a Portuguesa quer ficar na Série A, se der para passar de fase, ótimo...».

Nani quase reforço

«Para reforçar o plantel, a SAD contratou 15 atletas em 30 dias de trabalho, deve ser um recorde mundial da história da humanidade...», brinca Bourgeois. Mas o principal nome não chegou: «Estivemos muito perto de contratar o Nani, a minha relação com o presidente do Estrela ajudou, conversámos com o empresário, chegámos a fazer proposta mas penso que ele estava decidido a encerrar a carreira, foi uma pena, teria sido maravilhoso para a Portuguesa e para o Brasil ter aqui um dos grandes jogadores mundiais dos últimos anos».

 Os demais atletas não são contratados ao acaso. «Infelizmente não sou o Brad Pitt mas gosto do Moneyball», diz Bourgeois, a propósito do filme de 2011 sobre o dirigente de basebol Billy Beane. «Desenhei um modelo estatístico quantitativo em 2014, posso dizer que, para reforçar a Portuguesa, numa primeira seleção chegamos a 3000 jogadores, dos quais filtramos 156, onde estavam aqueles 15 que contratamos, sempre tendo em conta o sistema de jogo que o nosso treinador Cauan de Almeida, pretende».

 Entretanto, um dos ativos mais importantes do clube é o estádio. «O novo Canindé, que será inaugurado em 2028, será a arena multiuso mais moderna do Brasil, terá jogos, claro, é a casa da Portuguesa, mas também espetáculos e eventos», promete o dirigente que quer ter mais sucesso na Lusa do que no São Paulo e no Figueirense, onde a sua participação não acabou bem. «Não acabou bem por culpa do modelo associativo, no Lens correu bem porque é um clube com gestão empresarial, como a Portuguesa terá agora com a nossa chegada».

Abel luta pelo 'tetra' no Paulistão

O Palmeiras, que recebe a Portuguesa na próxima madrugada, é o favorito à conquista da edição de 2025 do Paulistão, o principal estadual do Brasil. Caso a equipa de Abel Ferreira vença, torna-se tetracampeã, um feito que só o Paulistano, há mais de um século, entre 1916 e 1919, conseguiu. Com Paulinho, ex-Atlético Mineiro, e ainda Estevão, que só parte para o Chelsea a meio do ano, o Verdão supera os rivais nas casas de apostas.

 Maior vencedor do torneio, o Corinthians vem logo a seguir, embalado pelas nove vitórias seguidas no final do Brasileirão que o transportaram da zona de descida para a zona de apuramento para a Taça dos Libertadores, sob o comando do argentino Ramón Díaz, no banco, e de Memphis Depay, Garro e Yuri Alberto no campo. Depois, aparece o São Paulo, do reforço Oscar, e só a seguir o outro grande, o Santos, de Pedro Caixinha.

 O Peixe que, ao contrário da concorrência, esteve na Série B do Brasileirão do ano passado, pode aproveitar os holofotes sobre o trio da cidade de São Paulo, para surpreender, agora que tem em Tiquinho, ex-Botafogo (e ex-FC Porto), uma referência no ataque. O Bragantino, ex-clube de Caixinha também na Série A, vai tentar surpreender, assim como o Mirassol, estreante no Brasileirão, e, quem sabe, a tradicionalíssima Portuguesa [ver peça acima].