Valdo e Dani já deixaram de jogar há mais de 20 anos, Ricardo Quaresma ainda não anunciou oficialmente o final da carreira, mas este trio de luxo sabe do que fala quando o assunto é magia. Na quinta edição do Record Talks, o ‘Harry Potter’ foi questionado pelo nosso Sérgio Krithinas: qual era o segredo para fintar o ‘sistema’ e ser diferente em campo? E foi encontrado o tema que guiou a conversa, alcançando-se um consenso: há que dar mais liberdade aos jovens para se soltarem das amarras táticas e deixarem o talento fluir naturalmente.

"Nunca fui de ligar muito à tática e sempre fugi um bocadinho disso. Hoje em dia preocupamo-nos tanto com as táticas que o espetáculo perde. Porque eu, enquanto adepto, venho ao estádio para ver magia e ver coisas diferentes", constata Quaresma, assinalando: "O futebol está muito diferente e não consigo dizer se para melhor ou pior, mas mudou muito. Lembro-me que quando tinha a idade do meu filho, tinha aquele futebol de rua. Aliás, tínhamos quase todos. Vínhamos todos da rua, todos do bairro. Tínhamos essa liberdade, porque estávamos habituados."

Dani, citando um antigo jogador do Benfica, explica como se perdeu aquele ‘cheirinho’ de futebol de rua. "O Pablo Aimar deu uma entrevista recentemente e disse que hoje em dia os miúdos vão treinar com ele uma hora e meia, duas no máximo, e a seguir vão para casa para jogar PlayStation. Nós não. Íamos treinar uma hora e meia por dia, mas passávamos quatro ou cinco na rua a jogar, a estragar os ténis, a estragar as calças e a dar cabo da cabeça dos nossos pais [risos]. O que queríamos era jogar à bola e hoje isso já não existe", atira.

"Com a evolução do Mundo, e como as redes sociais e a tecnologia estão tão presentes nos nossos filhos e nas próximas gerações, eles querem as coisas muito rápidas. Querem as coisas a acontecer com espetáculo, querem algo que lhes dê uma alegria intensa e momentânea. Se há um jogo em que a tática está sempre presente, ou está muito mais presente do que estes aspetos maravilhosos do futebol, que é o que gera uma paixão única por este desporto, começam a perder interesse. Se o jogo entrar por aí, os miúdos, e não só eles, começam a olhar para o telefone em vez de estarem a olhar para o campo", sublinhou.
Valdo, por sua vez, também é a favor que um jogador possa ser rebelde e ousado dentro de campo. "Eu penso que o futebol não evoluiu. Em termos táticos evoluiu, mas fora isso... já não se vê tanta jogada de efeito, com tanta arte. O Ricardo disse uma coisa que sempre admirei: ele nunca seguiu muito as táticas, porque tinha confiança naquilo que poderia fazer. Porque se ele mudar, como eu às vezes também mudava e tenho a certeza que o Dani também, se correr bem ninguém me vai dizer nada. Não vão dizer que não devia ter feito aquilo, vão sim colher os frutos disso. Se correr mal, fui eu, mas quando tens confiança...", explica.

Os conselhos para o filho na formação do Sporting

Tem o mesmo nome do pai e, aos 12 anos, joga pelos sub-14 do Sporting. E apesar da tenra idade, já existem alguns vídeos que não deixam mentir: Ricky Quaresma é filho de peixe e sabe nadar. Mas... sem pressão!

"Fico feliz por ter um filho que gosta de futebol. Não posso afirmar se será jogador ou não, porque o mundo do futebol dá muitas voltas e isto de ano para ano está sempre a mudar. Mas, obviamente, como pai, gostaria", admite. "Os conselhos que lhe dou? Desfrute do momento. Este é um mundo complicado, não é fácil. Infelizmente terá sempre o nome do pai em cima dele, tanto para o bem como para o mal. Vão estar sempre a compará-lo comigo, mas penso que o meu filho nasceu preparado e neste momento é deixá-lo voar. É aquilo que ele quer, é um apaixonado pelo futebol", garante.

E deixa claro que se tiver uma carreira como a do pai, será por mérito. "Vejo todos os jogos e treinos dele, vou trocando algumas ideias com o meu filho, mas estão lá os treinadores para isso. Aliás, já disse isto ao Sporting várias vezes, sempre que vamos lá assinar o contrato do miúdo: quando ouvir que vocês estão felizes com o meu filho, ele vai continuar aqui. Quando ouvir que ele está cá só porque tem um pai que é o Quaresma, serei o primeiro a tirá-lo. Se ele for jogador, será por ele. Não vai ser por mim", resume.