Depois de 190 minutos, 245 pontos disputados, três sets, três match points, várias reviravoltas, a celebração de Nuno Borges não foi um delírio de euforia. Não havia energia para isso. Quando o duelo que principiou de manhã e terminou de tarde foi vencido pelo português, o maiato não celebrou efusivamente. Parou, recuperou fôlego, respirou fundo. Era mais alívio que festa.

Passadas três horas e 10 minutos de confronto, Nuno Borges, 43.º do ranking ATP, bateu Pedro Martínez, 51.º. Os parciais, 7-5, 6-7 (4) e 6-4, ajudam a contar uma história longa, muito longa, mas não detalham as nuances emocionais, os altos e baixos.

Borges esteve a perder na partida inaugural, vendo o seu serviço quebrado logo à segunda oportunidade. Quando o espanhol ia servir para fechar, Nuno igualou. A reviravolta completou-se a seguir, ao quinto set point.

No set seguinte o guião parecia repetir-se, com Borges a começar a perder e a igualar. Com 4-5 no marcador, teve um match point. Com 5-6 no marcador, teve um match point. Desperdiçou ambos e foi ele a sofrer a remontada de Martínez. Tudo para decidir num derradeiro parcial.

Mateo Villalba

Há uma aura especial a rodear o Masters 1.000 de Monte Carlo. A beleza do Monte Carlo Country Club, enfiado entre as montanhas e o mar, o glamour de quem anda nas bancadas, a história associada ao torneio criado em 1896, tudo contribui para a magia.

Até o caráter compacto da competição ajuda. Literalmente compacto, na medida em que, ao contrário de outros Masters 1.000, este torneio continua a ter só uma semana de duração, com encontros de alto nível a sucederem-se, apertados no calendário, sem muito tempo para respirar. No caso de Borges, Martínez seguiu-se a Rune. E compacto porque pequeno, já que o Monte Carlo Country Club junta muitos courts em poucos metros quadrados.

A concentração leva a que não seja invulgar que bolas de um campo voem para o do lado. Foi assim durante um instante do primeiro set entre Nuno Borges e Pedro Martínez e voltou a ser assim durante o terceiro set. O pupilo de Rui Machado chegou a parecer emocionalmente fora da eliminatória. O espanhol esteve a ganhar por 3-0 na partida decisiva. Mas este jogo não era uma linha reta, era esguio, cheio de curvas e contracurvas, como as estradas do principado.

Borges quebrou o serviço de Martínez para empatar. E voltou a fazê-lo. Quando serviu para, finalmente, vencer, não vacilou. O alívio veio ao terceiro match point de um compromisso interminável. É a terceira vez que o português consegue estar entre os 16 melhores de um Masters 1.000, a categoria de torneios abaixo dos Grand Slams. Depois de Roma e Montreal, Monte Carlo.

Caso supere nova eliminatória, Borges será o terceiro tenista nacional nos quartos de final de um Masters 1.000, seguindo-se a Frederico Gil, também em Monte Carlo, em 2011, e ao inevitável João Sousa, em Madrid, em 2016. Mas o próximo adversário é de dificuldade máxima.

Segue-se Stefanos Tsitsipas. O 8.º da hierarquia mundial, que em março ergueu o título no Dubai, tornou-se no pós-Nadal (Rafa ganhou 11 vezes no Mónaco) o dominador do torneio, ganhando em 2021, 2022 e 2024.

O único precedente no confronto direto em singulares entre os dois aconteceu em Roma, em 2023, com vitória do grego. Mas, na última vez que estiveram em duelo no mesmo court, Borges derrotou, juntamente com Francisco Cabral, Stefanos e o seu irmão, em pares, no torneio olímpico. Para já, a campanha em Monte Carlo já valeu 100 pontos ATP para o mais cotado tenista português.