Ricardo Ares despediu-se do FC Porto com o bicampeonato nacional no bolso e a certeza de ter deixado uma marca profunda no hóquei em patins português, após quatro épocas recheadas de conquistas e momentos históricos.

Na última entrevista concedida em Portugal antes de sair do clube ,e com o Barcelona como provável destino, o treinador espanhol destacou a conquista da Liga dos Campeões como o ponto mais alto da passagem pelos dragões.

"Foi o título mais especial. Era um sonho antigo, meu e do clube, que conseguimos concretizar. Tinha passado muito tempo desde a última vitória europeia do FC Porto e sabíamos bem o que isso significava", admitiu em entrevista à agência Lusa.

A emoção foi imediata, mas só com o passar dos dias teve verdadeira noção da dimensão do feito: "No momento, há uma felicidade enorme, claro. Mas. depois, ao falar com os adeptos e sentir como viveram aquilo, percebi realmente o impacto. Sentíamos que já tínhamos estado perto tantas vezes, que parecia que nunca ia acontecer".

Ricardo Ares deixa o clube com nove títulos: três campeonatos nacionais, uma Liga dos Campeões, uma Taça Continental, uma Intercontinental e três supertaças. Mas, mais do que o palmarés, valoriza o laço criado com o universo portista.

"Sempre me senti muito identificado com os valores do clube. E agora, ao sair, recebo um carinho enorme dos adeptos. No fim, mais do que sermos treinadores ou jogadores, somos pessoas. E aqui encontrei muitas boas pessoas e levo amigos comigo", frisou.

A eventual mudança para o FC Barcelona ainda não está formalmente fechada, mas o treinador reconhece que é uma possibilidade "muito grande".

Sobre a última época, Ares admite que foi a mais difícil de gerir. A continuidade do plantel parecia promissora, mas o arranque foi tremido, marcado por um calendário exigente, poucas pausas e um grupo desgastado física e mentalmente.

"Não conseguimos fazer uma pré-época normal por causa das seleções. Começámos logo com provas oficiais, como a Elite Cup e a Supertaça, e a exigência de ganhar esteve sempre presente. Isso, aliado a algumas lesões e à sobrecarga em certos atletas, tornou tudo mais complicado", esclareceu.

Apesar dos percalços, a equipa reagiu. A pesada derrota frente ao Benfica foi um dos momentos-chave da época: "Foi talvez o mais marcante. Fez-nos perceber que tínhamos de mudar alguma coisa. E a partir daí começámos a corrigir o caminho."

Na Liga dos Campeões, o FC Porto voltou a atingir a final, mas perdeu nos penáltis. "Talvez ainda não a merecêssemos. Mas fizemos por merecer estar lá. E continuámos a trabalhar com seriedade, dia após dia. Esse esforço acabou por se refletir no campeonato", disse também.

O bicampeonato, que o FC Porto não alcançava desde 2015, foi o desfecho ideal para um ciclo que fica na história: "Ganhar dois campeonatos seguidos era algo que há muito não se conseguia. Sair assim, com um título e com tantas relações humanas que ficam, para mim é sair em grande".

Consciente do que construiu, Ricardo Ares acredita ter deixado uma marca duradoura no clube e sai do FC Porto com o sentimento de dever cumprido.

"A Liga dos Campeões foi um marco, claro. Mas conquistar tanto em tão pouco tempo é algo muito difícil de alcançar. Os adeptos do FC Porto merecem. Sofrem, acompanham, estão sempre presentes. E é por eles que vale tudo", concluiu.