
Augusto Inácio foi mesmo considerado uma testemunha «não credível» pelo Tribunal Arbitral do Desporto (TAS), no âmbito do processo relativo ao despedimento do técnico Sinisa Mihajlovic, e no qual o Sporting foi condenado a pagar três milhões de euros ao sérvio.
O caso foi recuperado nos últimos dias, na sequência de uma troca de acusações entre Inácio e o presidente do Sporting, Frederico Varandas.
Comentador da CNN Portugal, Inácio afirmou, nesse espaço televisivo, que o Sporting pagava a uma clínica de Varandas para prestar serviços clínicos.
Isso foi desmentido pelo líder dos leões, que anunciou, inclusivamente, que ia agir judicialmente contra Inácio.
«O Sporting sempre teve um diretor clínico, que é João Pedro Araújo, que faz o que entender no seu departamento. Tenho duas clínicas e em virtude de o Sporting não ter determinados aparelhos, o Sporting, pontualmente, usava a minha clínica e até o ex-presidente, Bruno de Carvalho, queria que eu cobrasse, mas nunca foi cobrado um cêntimo de trabalho desde 2015. Em 10 anos não há um cêntimo pago às minhas clínicas, não há uma fatura, nada», afirmou Varandas, em entrevista ao canal do clube, no passado dia 24 de fevereiro.
«O senhor Augusto Inácio vai responder no sítio certo. Conheço-o muito bem, trabalhei com ele duas vezes. Com Bruno de Carvalho preso por dias ele aceitou voltar ao Sporting com um contrato considerável. Para perceberem o que é ele, um dos processos que herdámos e o do Sinisa Mihajlovic. Ele testemunhou por ele em tribunal. O CAS retirou o testemunho de Augusto Inácio por não ser credível. Foi decisivo para o Sporting pagar 3 milhões de euros a Mihajlovic. No dia em que ouvir Augusto Inácio dizer bem de mim, tenho de pensar se sou a pessoa certa para educar os meus filhos», acrescentou o presidente do Sporting.
Inácio reagiu já esta terça-feira, em comunicado, garantindo que não fez dois depoimentos, mas fazendo referência a um documento elaborado pela Sporting SAD, em julho de 2018 - que assinou «depois de ter recusado uma primeira versão do mesmo, dado que o respetivo conteúdo não correspondia à verdade dos factos» - e ainda a resposta, em agosto de 2018, a um «conjunto de perguntas enviadas por e-mail pelo advogado de Mihajlovic. «Não corresponde à verdade que tenha prestado depoimento em dezembro de 2018», acrescenta.
TAS faz referência a dois depoimentos
A BOLA teve acesso ao dois documentos, assinados por Augusto Inácio, a explicar o processo de chegada de Mihajlovic a Lisboa: um com data de 7 de setembro de 2018, e outro de 18 de março de 2019.
Os dois documentos apresentam versões diferentes, nomeadamente no que diz respeito ao programa de pré-época: na primeira versão Augusto Inácio diz que Mihajlovic decidiu cancelar dois jogos, que vinham da calendarização que tinha sido definida com a equipa técnica anterior, liderada por Jorge Jesus, mas depois, no segundo depoimento, diz que só um dos adjuntos, Massimiliano Marchesi, deixou algumas sugestões relativamente a mudanças, mas que estas nem sequer foram tidas em conta, uma vez que a equipa técnica, contratada por Bruno de Carvalho (e Inácio) foi depois dispensada pela comissão que assumiu a gestão do clube, liderada por Sousa Cintra.
A BOLA teve acesso também à sentença do TAS, que confirma, no ponto 114, que recebeu dois depoimentos de Inácio: um através do Sporting, que respondia ao processo, e um remetido pela parte do queixoso, Mihajlovic.
«Tendo em consideração a inconsistência de ambos os depoimentos, e a circunstância de que nenhuma das partes colocou a testemunha à disposição na audiência, o painel não pôde levar os depoimentos em consideração, uma vez que, nessas circunstâncias, esta testemunha não parece credível», refere o acórdão.
A este respeito, Augusto Inácio rejeita a versão de Frederico Varandas, de que foi responsável pela condenação do Sporting ao pagamento de três milhões de euros. «Não se compreende como poderá, o mesmo [ndr. o testemunho], haver sido, assim, pesado na decisão tomada pelo juiz do processo», refere o comunicado do antigo jogador, treinador e dirigente leonino.