

Enquanto Ruben Amorim vai arrumando a casa em Manchester, Jim Ratcliffe tem mais tempo livre para se dedicar a outra das suas aventuras desportivas em necessidade de um rejuvenescimento, a INEOS Grenadiers que, outrora vencedora de sete Tours de France, está já arredada da camisola amarela há mais de meia década. Para isso, direciona o departamento de investigação da INEOS (a empresa química) para se focar num só objetivo: um qualquer golpe de mágica para se conseguir fazer frente a Tadej Pogacar. Mesmo antes do começo da Grande Boucle, o conjunto britânico revela a notícia que choca o mundo do desporto. Através de um procedimento revolucionário, a INEOS conseguiu recuperar a força de outros tempos a Eddy Merckx e o belga será o novo líder da equipa com efeitos imediatos, abrindo portas à possibilidade de um histórico frente a frente com Tadej Pogacar.
Os primeiros dias do Tour são de entusiasmo dos adeptos e de nervosismo na estrada, com os homens da Geral a marcarem-se mutuamente. Porém, as quatro etapas inaugurais não dão grande indicador de quem está por cima. Um ataque aqui, uma bonificação acolá, mas vai tudo virtualmente empatado para o primeiro contra-relógio.
O esforço individual sempre foi uma das principais armas de Eddy Merckx e, neste seu regresso ao Tour, não deixa créditos por mãos alheias. A rolar a alta velocidade por Caen, vai uns segundos mais rápido que Evenepoel e conquista a tirada, voltando a igualar com Cavendish entre os recordistas. Para mais, veste de amarelo e ganha um minuto ao campeão em título. Está dado o pontapé de saída para uma luta mais acesa.
Logo no dia seguinte, num longo dia de rompe pernas pela Normandia, o esloveno quer dar resposta e lança-se ao ataque. Uma outra vez ataca Pogacar, uma e outra vez responde Merckx. Chega um grupo reduzido à meta e Vingegaard escapa-se nos metros finais para triunfar na jornada. Por agora, guardam-se os machados de guerra, com o Mur de Bretagne a ir para a fuga, sucedendo-lhe duas etapas para os velocistas.
A 14 de julho, o feriado francês encerra a primeira semana de Tour com a chegada à montanha. Noutras edições, seria uma etapa perfeita para a fuga, mas Pogacar está de orgulho ferido e UAE Team Emirates trabalha o dia todo. O ataque chega na penúltima ascensão do dia e apanha Merckx desprevenido. O belga lança-se numa perseguição desenfreada, mas só consegue limitar os danos. Pogacar chega em primeiro, Merckx 15 segundos depois.
Um sprint abre a segunda semana, mas é descanso que pouco dura, com três etapas duríssimas a aguardar os ciclistas. O duro Hautacam acolhe a primeira verdadeira chegada em alto deste Tour, que segue uma fórmula bem conhecida: Emirates endure e a corrida, Pogacar ataca cedo e rapidamente se vê a solo na liderança. Mas, desta vez, a perseguição é feita a dois, com Merckx e Vingegaard a unirem esforços para perderem menos de um minutos. Ainda assim, etapa e amarela para o inevitável Pogacar.
Todavia, é sol de pouca dura. A cronoescalada a Peyragudes volta a colocar Merckx no seu jeito predileto, a pedalar sozinho, e ganhar quase mais um minuto ao esloveno. Vingegaard é segundo na etapa e, bem vistas as coisas, também ainda se mantém na luta pelo triunfo final.
Apesar da muita dureza e da imensa expectativa, a chegada a Superbagnères é uma desilusão. Visma, INEOS e Emirates revezam-se todo o dia no endurecimento da corrida, mas, na última ascensão, nenhum dos três favoritos se consegue desenvencilhar dos outros dois. O dia termina sem diferenças, mas uma jornada tão exigente ainda poderá passar fatura no futuro.
A Geral só volta a ser tema depois do dia de descanso, com a mítica ascensão ao Ventoux. Muito plano e depois o imperdoável Gigante da Provença, onde ninguém se pode esconder. É um dos dias decisivos no plano da Visma e isso faz-se notar na estrada. Van Aer, Yates, Jorgenson e Kupp vão aumentando paulatinamente o ritmo. O esforço vê-se nas caras dos ciclistas que, um a um, vão cedendo no grupo dos favoritos, até que, finalmente, o plano dá fruição e se vê uma camisola arco-íris a descolar. Vingegaard não perde tempo e aproveita para mexer e se encaminhar para uma vitória solitária, enquanto Merckx se vê de novo na posição de perseguidor. É nestas alturas que se fazem valer os gregários e João Almeida encontra Pogacar e guia-o até à meta, o estrago foi feito, mas a calamidade evitada.
E, a correr se chegou à etapa rainha. 171,5 quilómetros de Vif a Courchevel e três montanhas de categoria especial. No Glandon, a Visma assume a corrida e vai dizimando o pelotão. A meio da subida já Merckx não tem colegas de equipa. Pogacar sente o momento e ataca perto do topo. É alcançado no final da descida, mas o aviso está dado. Na Madeleine, a UAE toma conta do grupo e, finalmente, ainda longe do cume, Almeida lança Pogacar para o ataque solitário. O esloveno rapidamente ganha terreno, ainda para mais já com pouca força de trabalho atrás. A descida e o vale são longos, mas nem isso salva a Visma e muito menos a INEOS. Finalmente, Merckx também se desfaz de Vingegaard no começo de La Loze, mas já vai tarde e Pogacar soma minutos e recupera a amarela.
Sem equipa ao seu nível, é complicado, mas Eddy Merckx nunca deita a toalha a chão e a etapa final montanhosa é animada pelas inúmeras tentativas do belga deixar Pogacar para trás. O camisola amarela resiste a tudo. Ou a quase tudo. Não resiste ao sprint de Merckx que lhe dá o parco consolo da vitória de etapa.
A penúltima etapa é para os sprinters e a última também que nem as mudanças no percurso fazem mudar o acordo de cavalheiros da jornada da consagração. Tadej Pogacar desfila até Paris como campeão do Tour de France 2025.