Vivemos numa era em que a visibilidade é inevitável. Tudo o que fazemos ou deixamos de fazer pode ser observado, partilhado e pesquisado. As fronteiras entre o espaço público e o privado estão cada vez mais diluídas, e a linha que separa a vida pessoal da profissional tornou-se porosa. Neste contexto de permanente exposição, a forma como somos percebidos pelos outros deixou de ser um detalhe irrelevante. Tornou-se parte essencial da nossa identidade e, sobretudo, da nossa identidade profissional.

A marca pessoal não é um conceito novo, mas adquiriu um novo significado com o começo da era digital. Deixou de estar associada apenas a figuras públicas ou executivos de topo. Hoje, qualquer pessoa com presença online, seja num perfil de LinkedIn, num comentário numa rede social ou num simples e-mail profissional está a projetar uma imagem que será, inevitavelmente, interpretada. Esta imagem é a nossa marca pessoal, quer a tenhamos construído com intenção ou não.

A marca pessoal é o conjunto de perceções, emoções e associações que os outros fazem quando ouvem o nosso nome. É uma síntese invisível, mas poderosa, construída a partir da postura, das decisões, da forma como se comunica, da consistência, dos valores que defendemos e até daquilo que escolhemos não dizer. É, em última análise, o reflexo externo da nossa coerência interna. Ao contrário do que muitas vezes se pensa, não é um exercício de vaidade, mas de clareza. A marca pessoal forte e autêntica nasce do auto-conhecimento, da coerência e da capacidade de entregar valor aos outros. É menos sobre falar de nós e mais sobre mostrar, através da ação e do exemplo, o que representamos.

Num mundo onde a confiança é cada vez mais um ativo escasso, a marca pessoal pode ser o maior diferenciador. As competências técnicas são importantes, sim, mas muitas vezes são as competências relacionais e a forma como as pessoas se sentem ao interagir connosco que deixam uma impressão duradoura. É por isso que a construção da marca pessoal é um processo contínuo, que se desenvolve ao longo do tempo, em cada reunião, em cada publicação, em cada momento de contacto com colegas, clientes, parceiros ou desconhecidos. Uma reputação forte não se baseia apenas em grandes feitos, mas numa consistência de comportamentos, atitudes e princípios.

A forma como se gere a marca pessoal pode abrir ou fechar portas. Influencia se seremos lembrados ou esquecidos, se seremos recomendados ou ignorados. No contexto atual, onde muitas oportunidades profissionais começam com uma pesquisa no Google ou uma visita ao perfil do LinkedIn, não cuidar da marca pessoal é, simplesmente, um risco. Mais ainda, as organizações também procuram coerência e valor nas pessoas com quem se associam. Uma marca pessoal alinhada com os nossos propósitos torna-nos mais visível para as oportunidades que realmente fazem sentido. Atrai relações profissionais mais autênticas, mais alinhadas com os nossos valores. E isso traduz-se numa maior realização, motivação e até sucesso a longo prazo.

A marca pessoal não é apenas marketing individual. Trata-se de liderança. Liderança sobre a imagem, a narrativa e o impacto. Num mundo onde as pessoas confiam cada vez menos em instituições e cada vez mais em pessoas, cultivar uma marca pessoal forte, autêntica e coerente é um acto de responsabilidade para cada um de nós e para com os outros.

Todos temos uma marca. A escolha está entre moldá-la com consciência e intenção, ou deixá-la ser definida pelos acasos da perceção alheia. Numa época em que tudo comunica, não gerir a marca pessoal é, em si, uma forma de comunicar e nem sempre da melhor maneira.

Maria Duarte Bello,
CEO da MDB – Coaching e Gestão de Imagem, Coach PCC & Mentor Senior