A diretora-executiva da Adecco Portugal, a subsidiária nacional da consultora de recrutamento, é o exemplo de alguém que sonhou para si uma carreira que não construiu. E está feliz com isso. Em jovem devorava os livros que narravam as histórias Sherlock Holmes e Agatha Christie e facilmente se deixava transportar para os cenários de crime. Sonhava com uma carreira de inspetora na Polícia Judiciária (PJ). “O que eu gostava menos eram os crimes passionais, o que mais me entusiasmava eram infrações económico-financeiras”, recorda.

Natural do Barreiro, onde nasceu no seio de uma família “humilde e trabalhadora”, Alexandra Andrade, é a mais nova de três irmãs. Os pais, faz questão de sublinhar, trabalharam toda a vida para lhes dar as oportunidades que eles próprios não tiveram. Na altura, confessa, “eu só queria um emprego, porque para os meus pais era muito difícil poder pagar os estudos das três”. Alexandra estudou sempre em escolas públicas, formou-se em Sociologia, mas era a Criminologia que a fazia sonhar. Após concluir a licenciatura, foi nessa área que se tornou mestre.

Chegou a estagiar no Ministério da Justiça, na área da delinquência juvenil, mas não chegou a tentar a sua sorte na PJ. “Eu sonhava com trabalho de campo e naquela altura ainda era muito difícil conseguir isso na PJ com um curso de sociologia”, explica. Acabaria por redirecionar a sua carreira para a área dos recursos humanos.

Alexandra Andrade, CEO da Adecco Portugal, durante a gravação do podcast
Alexandra Andrade, CEO da Adecco Portugal, durante a gravação do podcast Nuno Fox

Começou como consultora na Randstad. “Eu não era a pessoa ideal, vivia longe – demorava no mínimo uma hora e meia a chegar ao trabalho de transportes, todos os dias -, e não tinha um curso de psicologia, mas o meu chefe acreditou em mim, deu-me a oportunidade”, realça a atual CEO da Adecco Portugal.

Alexandra seguiu outro rumo, mas nunca desperdiçou os conhecimentos adquiridos na especialização em criminologia. Importou para o mundo do recrutamento a atenção ao detalhe e olhar atento sobre o perfil e os comportamentos dos candidatos a emprego que entrevistava. "Quando comecei a entrevistar candidatos a emprego, os meus colegas diziam que eu fazia relatórios criminais”, recorda.

Os seus primeiros tempos na consultoria foram de aprendizagem e superação. Em mais de 20 anos que já leva de carreira exerceu funções de liderança e gestão de equipas em Portugal, Espanha e Itália e de cada experiência retirou lições. Garante que cresceu com as equipas que liderou e que isso só foi possível porque não teve medo de “assumir fragilidades”.

Desde 2022 que lidera a operação nacional da Adecco em Portugal e do ponto de vista do recrutador não tem dúvidas de que os desafios atuais são muito diferentes dos que enfrentou no início da carreira. "Os jovens hoje querem experimentar muitas áreas e querem ter impacto [com a sua profissão]. O problema é que querem ter impacto rápido, como as redes sociais, como a inteligência artificial, muito rápido", nota. É, admite, uma forma diferente de se relacionarem com o trabalho e a carreira, nem melhor, nem pior “é diferente”.

Cátia Mateus podcast O CEO é o limite
Cátia Mateus podcast O CEO é o limite Expresso

O CEO é o limite é o podcast de liderança e carreira do Expresso. Todas as semanas a jornalista Cátia Mateus mostra-lhe quem são, como começaram e o que fizeram para chegar ao topo os gestores portugueses que marcaram o passado, os que dirigem a atualidade e os que prometem moldar o futuro. Histórias inspiradoras, contadas na primeira pessoa, por quem ousa fazer acontecer. Ouça outros episódios: