Transparência e dados simples, que mostrem a evolução e o impacto das decisões tomadas são "essenciais" quer por questões de responsabilização quer pela capacidade que têm de fornecer uma base fidedigna sobre a qual tomar decisões para a vida e o futuro. Quem o defende é Ricardo Valente, vereador da câmara do Porto, que assim explica a publicação de um Boletim Económico sobre a cidade e a área metropolitana do Porto, tornando visível a evolução nos últimos anos e fazendo espelho com os números do país em áreas que vão do talento e da demografia às empresas e investimento. "A transparência administrativa e o impacto nas decisões tomadas por cidadãos, investidores e instituições são essenciais para a vida quotidiana dos munícipes", vinca o autarca, apontando as razões que levaram a elaborar e tornar público este relatório.
O Boletim Económico do Porto, que foi criado no ano passado para que todos possam acompanhar com transparência os indicadores nos principais temas da Invicta, faz o retrato da cidade e da Área Metropolitana em nove temas-chave: demografia, talento, saúde, macroeconomia, transações, empresas, turismo e infraestrutura, imobiliário e habitação e desenvolvimento sustentável (veja o relatório completo aqui).
"Uma administração transparente é essencial para a construção de confiança entre a população e as autoridades locais. A disponibilização de dados económicos claros e acessíveis fortalece a accountability, ou seja, a prestação de contas por parte dos governantes. O impacto nas decisões dos cidadãos, investidores e instituições da cidade é outro ponto central. Para os cidadãos, o acesso a informações económicas confiáveis pode influenciar desde decisões de consumo até o planeamento financeiro familiar. Para os investidores, a informação económica é vital para avaliar o ambiente de negócios da cidade, identificando oportunidades de investimento e riscos associados. No caso das instituições, tanto públicas quanto privadas, os dados económicos são essenciais para o planeamento estratégico e operacional", defende Ricardo Valente, na apresentação do documento.
Mas como está, afinal, o Porto? O retrato visível no boletim é de um município economicamente pujante mas que, como os demais sofre os efeitos de uma demografia crescentemente apoiada na imigração. Na última década, o Porto aumentou em 6,1% o número de habitantes da cidade, com perto de 6 mil dos agora 248.769 a viver ali a chegar no último ano, por conta da imigração — o número de nascimentos continua abaixo do de mortes, mas a imigração mais que triplicou numa década, com o Porto a somar 210,8% de habitantes estrangeiros, o dobro do ritmo médio no país. São agora mais de 23 mil estrangeiros a viver na Invicta, quase metade deles brasileiros (10.569), com italianos (1.365) e indianos (865) a completar o pódio das três maiores comunidades estrangeiras.
Ainda assim, as nacionalidades que mais cresceram entre 2021 e 2022 vêm da África Lusófona e da Ásia, com os moçambicanos a aumentar 53,1%, para 297, e os angolanos 32,5%, para 702, tendo a comunidade indiana crescido 42,5%.
A economia da Área Metropolitana vem crescendo desde 2018, tendo a riqueza da região aumentado mais de 12% entre 2021 e 2022, para os atuais perto de 40 mil milhões de euros, que representam 16,2% do PIB nacional. As empresas do Porto somam 4,3 mil milhões de euros de investimento, tendo aumentado 10% essa capacidade num só ano, e com um quarto desse capital a representar projetos de IDE (investimento direto estrangeiro) que criaram quase 6 mil empregos.
O comércio e os serviços são, ainda assim, a grande fatia dos empregos (86% na cidade do Porto, acima dos 72% da média nacional e dos 70% da Área Metropolitana), com particular relevo do turismo. O número de hóspedes no último ano cresceu 22,5%, totalizando 2,8 milhões de pessoas, enquanto o número dos estabelecimentos de alojamento aumentou 14%, para os atuais 443, que somaram proveitos de 435 milhões, um crescimento de 31,1%. Somando toda a Área Metropolitana do Porto, o valor sobe aos 640 milhões. Em 2023, confirma ainda o Boletim Económico, os pagamentos feitos com cartões portugueses somaram 2,8 mil milhões de euros em transações, sendo os cartões estrangeiros responsáveis por 650 milhões.
No que respeita às necessidades das famílias, há menos pessoas a receber abono de família do que na média nacional (5,8% contra 8%), mas bem mais beneficiários do RSI: 6,1% contra 2,5%, tendo o Porto pouco mais de 10 mil desempregados inscritos e quase quatro vezes mais mais médicos e enfermeiros por habitante do que a média nacional, lê-se no boletim.
Por fim, a habitação, que não destoa grandemente da realidade percebida. O mercado imobiliário tem estado em queda, com 5718 casas vendidas em 2023 (-18% num ano), somando 1,8 mil milhões em 2023. O preço por m2 para venda tem subido consistentemente há cinco anos, estando agora em 2866 euros, perto de 50% acima da média nacional, e o das rendas marca a fasquia dos 11,7 euros/m2, acima dos 7,2 euros da média nacional. O relatório revela ainda que o Porto tem 76,6% das casas habitadas por famílias, havendo ainda uma fatia de 8,2% usadas como segundas residências e estando 15,2% vagas, num total de 133,4 mil alojamentos familiares.