O proeminente economista chinês Lian Ping alertou para os riscos de uma eventual ofensiva norte-americana contra a China no domínio financeiro, mas considerou que um bloqueio total ao acesso chinês ao sistema financeiro global seria difícil de concretizar.

Num ensaio publicado esta semana, Lian, que preside ao Instituto de Pesquisa Industrial Guangkai e é também presidente do Fórum dos Chefes Economistas da China, sublinhou que o cenário mais temido – a exclusão da China do sistema SWIFT ou o congelamento das suas reservas cambiais – implicaria custos e riscos elevados para Washington e para o próprio sistema financeiro internacional.

“A exclusão da China do SWIFT não é tarefa fácil. A economia chinesa é demasiado grande para ser ignorada”, escreveu Lian, apontando que, embora os EUA não controlem diretamente o consórcio sediado na Bélgica, o domínio norte-americano sobre o sistema de compensação CHIPS (Clearing House Interbank Payments System) dá a Washington uma influência considerável.

O economista lembrou que, ao contrário do que sucedeu com o Irão ou a Rússia, não existe neste momento qualquer base legal ou legitimidade internacional para um afastamento da China do SWIFT.

Pequim e Washington travam, no entanto, uma prolongada guerra comercial e tecnológica, que envolveu já a imposição de pesadas taxas alfandegárias por Washington sobre bens oriundos da China e restrições no fornecimento de alta tecnologia.

Pequim retaliou com tarifas de igual valor e restrições ao fornecimento de minerais de terras raras, mas receia que os Estados Unidos possam impor sanções financeiras, o que teria um impacto desastroso para o comércio externo chinês, realizado sobretudo em dólares.

Neste caso, o país asiático não teria capacidade de resposta equivalente, dado o “peso ainda marginal da moeda chinesa, o yuan, e do sistema financeiro chinês a nível internacional”.

Lian Ping lembrou, porém, que muitos dos países que integram os sistemas de pagamentos internacionais têm relações económicas profundas com a China, o que lhes traria “graves prejuízos”, caso fosse implementada uma medida desse tipo.

O economista sublinhou ainda que uma exclusão forçada da China poderia acelerar o desenvolvimento de sistemas alternativos, como o sistema CIPS (Cross-Border Interbank Payment System), já em operação, e reforçar a “tendência global” de reduzir a dependência do dólar, o que enfraqueceria a posição da moeda norte-americana a médio prazo.

Sobre a hipótese de congelamento de ativos chineses pelos Estados Unidos, o economista considerou que esse cenário só seria plausível num contexto de conflito militar declarado entre os dois países, como ocorreu com o Japão em 1941 ou com a China durante a guerra da Coreia.

Lian admitiu, porém, que Washington possa recorrer a sanções parciais, dirigidas a entidades específicas, e advertiu para a possibilidade de os Estados Unidos usarem a sua influência sobre bancos estrangeiros para bloquear ativos chineses fora do seu território.

O economista alertou que o uso político do dólar enquanto instrumento de pressão pode comprometer a confiança global no sistema financeiro norte-americano: “A financeirização da geopolítica enfraquece a credibilidade dos ativos denominados em dólares, como os títulos do Tesouro norte-americano, e coloca em risco a estabilidade da própria economia dos EUA”.

Face aos riscos, o economista apelou à adoção de medidas preventivas por parte de Pequim, incluindo a aceleração da internacionalização do yuan, o reforço das reservas em ouro, a promulgação de legislação anti-sanções e o aprofundamento dos laços económicos com a Europa e outros parceiros comerciais.

“O nosso objetivo deve ser tornamo-nos ‘grandes demais para sermos excluídos’”, escreveu.

Agência Lusa

Editado por Jornal PT50