O partido Livre avançou com um requerimento para audição no Parlamento de Luís Delgado, presidente e acionista da Trust in News (TIN), da Comissão de Trabalhadores do grupo e do Sindicato dos Jornalistas. O objetivo, segundo os deputados deste partido, é avaliar a situação do grupo que detém meios de comunicação social como as revistas ‘Visão’, ‘Exame’ e ‘Caras’, além de mais 14 publicações.
“Há já um ano que a empresa passa por grandes dificuldades em assumir as despesas e, como tal, os trabalhadores têm denunciado as situações de salários em atraso, falta de pagamento de subsídios de férias, de Natal ou de refeição. Esta situação está a colocar em causa cerca de 150 postos de trabalho, incluindo de trabalhadores com 20 ou 30 anos de casa, e a gerar enorme incerteza nas suas famílias e no setor”, justifica o partido no requerimento apresentado à presidente da Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto.
Esta quarta-feira, os trabalhadores vão concentrar-se em Lisboa a partir das 18h para tornar públicas as preocupações com os últimos desenvolvimentos deste grupo de media que, após ter visto chumbado o PER que apresentou em maio, se precipita agora para a insolvência, com ordenados por pagar desde outubro e uma série de dívidas a fornecedores e ao Estado – estimadas em 32,2 milhões de euros a meio do ano. Os maiores credores são a Autoridade Tributária e Aduaneira e a Segurança Social. Juntas, estas duas entidades do Estado detêm a maior parte do valor das dívidas (cerca de 53%) e ao terem votado contra o plano de recuperação apresentado pela administração, precipitaram a empresa para a insolvência.
A administração pretendia que as dívidas pudessem ir sendo pagas num prazo alargado, mas o facto de as ter aumentado nos últimos meses – em vez de as diminuir – acabou por ser determinante para o chumbo do PER. No entanto, houve uma série de credores a dar-lhe o benefício da dúvida. Os três maiores credores privados votaram a favor da proposta apresentada por Luís Delgado: a Impresa, proprietária do Expresso e da SIC a quem a TIN comprou o negócio das revistas em 2018 (que tem a receber 4,1 milhões de euros), o Novo Banco (a quem a TIN deve 3,5 milhões de euros) e o BCP (711 mil euros).
Agora, já sem a proteção que o PER lhe confere, a administração ainda vai tentar convencer os credores de que a empresa é viável, para o que prepara um novo plano de recuperação a ser votado em assembleia de credores. Nesta fase parece inevitável o encerramento de alguns títulos e o despedimento de trabalhadores, assim como um corte da dívida. Ou então, poderá haver uma venda judicial da empresa – mas neste caso já sem a intervenção do proprietário, Luís Delgado.
Aguarda-se, a qualquer momento, a declaração oficial de insolvência, após o PER ter sido chumbado, assim como uma resposta do tribunal de Sintra ao pedido dos trabalhadores para que afaste Luís Delgado da administração. O tribunal determinará, também, se dará à administração a possibilidade de submeter à apreciação dos credores uma insolvência com reestruturação.
Se, numa primeira fase, os credores aceitarem a insolvência com reestruturação, depois, numa segunda assembleia de credores, votarão o plano de recuperação da administração. Se, pelo contrário, rejeitarem já a pretensão da administração, então a empresa avançará para uma insolvência com liquidação.
Os trabalhadores estiveram reunidos em plenário a 18 de novembro e determinaram uma série de ações para tentar salvar o grupo, que culminam com o protesto desta quarta-feira no Largo do Chiado em Lisboa, mas a administração tem-nos acusado de estarem a contribuir para o agravamento da situação, em vez de contribuírem para uma solução que evite o desaparecimento das publicações detidas pela TIN.
Entretanto o Sindicato dos Jornalistas pediu uma audiência ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, para dar conhecimento da situação do grupo.