
A comissária europeia portuguesa, Maria Luís Albuquerque, referiu nesta sexta-feira que vê na consolidação bancária uma forma de trazer mais rentabilidade ao setor. Paralelamente, a ex-ministra das Finanças de Portugal sublinha a redução de risco que a diversidade geográfica pode trazer às entidades bancárias e a valorização das suas ações, bem como a possibilidade de os bancos repensarem os seus modelos de negócio, as estratégias e a digitalização, competindo com os pares internacionais.
Albuquerque realça que as instituições bancárias “não puderam expandir o suficiente nos últimos 15 anos” e que a União Europeia (UE) precisa de “bancos grandes e diversificados”, à escala da economia europeia e não apenas à escala nacional. Nesta sua participação numa conferência da associação de bancos espanhóis adiantou que vai revelar, na próxima semana, o seu projeto para a União das Poupanças e Investimentos, o seu pelouro na Comissão Europeia liderada por Ursula von der Leyen.
“Precisamos de setores bancários diversificados, onde todos os modelos de banca possam encontrar o seu espaço e sejam capazes de competir de forma justa. Precisamos de bancos com capacidade de financiar todos os setores da nossa economia, especialmente segurança e defesa, de que a nossa indústria vai precisar nos próximos anos”, alerta, apontando para o plano de rearmamento da Europa. Neste sentido, reforça também que são necessários investimentos “substanciais” em digitalização, essenciais para a cibersegurança, e que, consequentemente, melhoram os serviços digitais para os clientes, nota.
Recorde-se que a consolidação bancária tem estado em destaque na Europa. Na vizinha Espanha, o BBVA aguarda autorização para avançar sobre o Banco Sabadell, uma operação iniciada há quase um ano. Em Itália, várias ofertas públicas de aquisição surgiram no último ano. O Banco BPM fez uma oferta sobre a gestora de fundos Anima Holding – que atualizou recentemente – tendo o próprio banco sido depois alvo de uma oferta pelo UniCredit. O mesmo UniCredit que, desde setembro, já aumentou a sua participação no alemão Commerzbank para 29,9%, aprovada nesta sexta-feira pelo Banco Central Europeu.
Ainda em Itália, o Banco Ifis fez uma oferta sobre o Illimity, o Monte dei Paschi di Siena lançou-se ao Mediobanca e, por fim, o BPER está a tentar a sua sorte com o Banca Popolare di Sondrio. Nenhuma destas propostas foi bem vista pelas instituições visadas, à exceção da Anima Holding, que mostrou esta semana abertura perante a oferta do BPM. Do lado dos negócios bem-sucedidos, na Grécia, o Alpha Bank anunciou no final de fevereiro a compra do Astrobank, um pequeno banco do Chipre.
A importância da regulação para a estabilidade
Maria Luís Albuquerque atenta, na questão da consolidação bancária, que a UE tem medidas de controlo sobre fusões que asseguram a proteção da concorrência e dos consumidores. A comissária ressalva que, apesar da evolução bancária ser benéfica para toda a UE, é importante destacar a resiliência do setor e aponta para o colapso recente do Silicon Valley Bank e do Credit Suisse, ao qual os bancos europeus resistiram, sublinha.
“O mecanismo único de supervisão existe por uma razão: garante estabilidade, transparência e eficiência do sistema bancário. Mantém também a integridade do sistema financeiro, realçando o papel da banca no ecossistema financeiro europeu. O mecanismo único é baseado em padrões internacionais, que são essenciais não apenas para a estabilidade da economia europeia, mas também para a da economia global”, argumenta.
Ainda no campo da regulação, realça a implementação, em janeiro, do Basileia III, “cumprindo os compromissos internacionais”. No entanto, as regras que incidem sobre o risco de mercado foram adiadas por um ano devido à concorrência intensa nesta área a nível global, explica.
A importância da banca no mercado de capitais
A comissária portuguesa acredita que existem dois papéis dos bancos na União das Poupanças e Investimentos e que bancos europeus fortes são uma peça-chave na união. O primeiro papel prende-se com a relevância na mobilização de poupanças para um uso mais produtivo das mesmas – o mercado único de capitais, neste caso, segundo Maria Luís Albuquerque. O segundo prende-se com o facilitar do desenvolvimento de mercados de capitais da UE profundos, líquidos e integrados, levando ao fluxo de fundos entre emitentes e investidores dentro do mercado único. “Ambos os papéis vão trazer benefícios claros para os cidadãos, os mercados e para os bancos”, reitera.
Albuquerque quer os bancos europeus mais ativos no mercado de capitais, pois considera que a sua fraca presença deu espaço a ‘players’ internacionais para ocuparem o protagonismo. A antiga ministra social democrata acredita que o mercado único é um dos principais ativos da UE, mas que não se estendeu por completo ao setor dos serviços financeiros. Apesar de ver com bons olhos a concorrência externa, deixa claro que gostava de ver os bancos a enfrentar este desafio e a não se focarem apenas nos mercados domésticos.
Por fim, a comissária portuguesa lamenta que se percam “empresas europeias inovadoras” para outras jurisdições por “falta de acesso a capital”. No entanto, acredita que a solução para este problema reside nos bancos e na sua interseção com as pessoas. “Os bancos têm um papel importante na salvaguarda dos depósitos dos cidadãos europeus e na gestão do sistema de pagamentos. Têm também um papel importante enquanto conselheiros dos mercados financeiros”, atenta Albuquerque, que, tendo em conta estes fatores, quer apostar na canalização das poupanças dos cidadãos europeus para as empresas europeias. Isto leva, defende, ao “crescimento, prosperidade, retorno para as pessoas e impulsiona a economia”.