
A Sports Ventures nasceu em 2017 com o propósito de prestar serviços de gestão de viagens e organização de eventos para atletas – profissionais e amadores – em várias modalidades e faixas etárias. O fundador e CEO da empresa, José Diogo Moraes, aproveitou a experiência que já tinha no turismo desportivo e o facto de em Portugal este setor ainda ser pouco explorado para responder a este gap através da Sports Ventures. Atualmente, entre outras iniciativas, organiza o Algarve 7s, um dos maiores eventos da empresa que já ganhou o estatuto de festival desportivo internacional. A edição de 2025 o Algarve 7s – que inclui modalidades como rugby, Netball, Padel, Beach Hockey, Beach Tennis, Natação em Águas Abertas e Golfe – está a decorrer ao longo deste fim de semana e junta cerca de três mil atletas, sendo 90% estrangeiros. Em entrevista à Forbes Portugal, José Diogo Moraes realça que esta edição do evento terá um impacto económico superior a um milhão de euros para a região algarvia. Conquistada que está o mercado português, a Sports Ventures prepara-se agora para o salto internacional com Espanha a ser o primeiro destino desta aposta.
Como surgiu a ideia de criar a Sports Ventures em 2017 e qual foi o “gap” de mercado que identificou no turismo desportivo?
Quando fundei a Sports Ventures já contava com mais de 20 anos de experiência nesta área do turismo desportivo e, ao longo desse período, tive a oportunidade de viajar bastante, conhecer centenas de profissionais do setor e contactar com modelos de negócio extremamente interessantes. A Sports Ventures surge deste conjunto de experiências que fui acumulando e de identificar que em Portugal é um setor ainda pouco explorado. Sem dúvida que este “gap” representou uma oportunidade para nós, ainda para mais num país que oferece condições únicas: falo por exemplo do clima, da gastronomia e do facto de sermos a porta de entrada da Europa para países como os EUA ou Canadá.
Com mais de 20 anos de experiência no setor, que aprendizagens anteriores foram fundamentais para lançar e consolidar este projeto?
Creio que o “imprevisto” e os problemas associados são transversais a todos os setores – e ao próprio dia a dia de cada pessoa –, mas atrevo-me a dizer que no setor do turismo é algo ainda mais presente. Um dia de chuva pode alterar as atividades previstas, um voo atrasado ou até cancelado pode estragar uma viagem, e por aí fora. Neste sentido, opto por destacar a capacidade de entender que os imprevistos vão sempre acontecer, mesmo quando o planeamento é feito da melhor forma e de que é sempre necessário ter um plano B.
A Sports Ventures opera com atletas de diferentes faixas etárias e modalidades. O que torna o vosso modelo de gestão e organização de eventos desportivos diferenciador no panorama nacional?
Portugal conta com bastantes operadores turísticos, no entanto são poucos os que se especializam unicamente em desporto. Desde a nossa fundação não mudámos a nossa essência: somos uma empresa de apenas eventos e viagens desportivas; não trabalhamos o segmento de viagens de negócios e viagens de lazer. O desporto é o centro de toda a nossa atividade e é por aí que marcamos a diferença.
Quais são os principais serviços oferecidos pela empresa? E quais os segmentos com maior peso na faturação?
Baseamos a nossa atividade em dois grandes serviços: organização de viagens desportivas, atividade que tem um volume de negócios que dura todo o ano e organização de eventos, onde em Portugal temos três eventos anuais, são eles: o Algarve 7s, o Lisbon 7s e o Junior 7s. Os segmentos com maior peso na nossa faturação são os tours desportivos que representam cerca de 80% da faturação atual da empresa.
O “Algarve 7s” tornou-se o vosso maior evento. Como nasceu esta iniciativa e que elementos a tornam atrativa para atletas e equipas internacionais?
O Algarve 7s foi inicialmente concebido como um torneio de rugby de 7s, com o objetivo de servir como preparação para as seleções nacionais que participam no circuito mundial da modalidade. A nossa ambição era, numa segunda fase, posicionar o torneio como uma etapa oficial do circuito mundial. Em 2023, demos um passo importante nesse sentido ao integrar o Rugby Europe Championship. Decidimos agora diversificar o conceito e transformar o Algarve 7s num verdadeiro festival desportivo internacional. Para além do rugby, o evento inclui agora várias modalidades, como Netball, Padel, Beach Hockey, Beach Tennis, Natação em Águas Abertas e Golfe. O nosso objetivo é proporcionar uma experiência completa, não apenas a nível competitivo, mas também em termos de entretenimento e convívio, através de side events que além de atraírem os atletas são abertos ao público em geral. Assim, pretendemos atrair o máximo de pessoas possível. Acreditamos que a combinação de um destino como o Algarve, neste caso Vila Real de Santo António e Monte Gordo, com as suas condições únicas para a prática desportiva, a qualidade das competições e os eventos fazem do Algarve 7s uma experiência única para atletas, equipas e público de todo o mundo.
Com mais de três mil participantes (90% estrangeiros), que impacto económico tem este evento para a região e como se mede esse retorno?
Estimamos que esta edição do Algarve 7s tenha um impacto económico superior a um milhão de euros para a região. Este retorno é medido com base em diversos indicadores, incluindo o número de noites já reservadas em hotéis, que ultrapassa as nove mil. Com 90% dos participantes a serem estrangeiros, contabilizamos também mais de mil voos associados ao evento e a utilização de mais de 20 autocarros para os transferes, operados por uma empresa de transportes local de Vila Real de Santo António. Além disso, consideramos o consumo direto em refeições, que se estima que ultrapasse as 47 mil durante os três dias do evento, bem como os gastos em supermercados, comércio local e outros serviços. Estes dados refletem de forma clara o impacto positivo que o Algarve 7s tem na economia local, não apenas pelo volume de negócios gerado durante o evento, mas também pela promoção internacional do Algarve enquanto destino turístico.
Como foi ultrapassar o impacto da pandemia num setor tão dependente da mobilidade e dos eventos presenciais?
Foi sem dúvida o maior desafio da Sports Ventures até ao momento, onde parámos a nossa atividade praticamente na totalidade durante mais de um ano. Novamente, a questão dos imprevistos, sendo que aqui nem era possível contar com um plano B. Felizmente, já em 2022, retomámos o negócio da melhor forma, até porque sentimos que as pessoas estavam com bastante vontade de viajar e de voltar à vida que sempre conheceram. Desde então tem sido um percurso de constante crescimento da empresa.
Ultrapassaram os três milhões de euros em faturação em 2024. Quais foram os principais motores desse crescimento? Quais as estimativas para 2025?
O sucesso do último ano deve-se em grande parte à organização de tours desportivos, onde trazemos equipas estrangeiras para Portugal, tratamos de todas as atividades e questões logísticas. Para este ano, estamos a contar crescer cerca de 20% na faturação.
Estão numa fase inicial de internacionalização. Quais os mercados onde estão a apostar e com que estratégias?
Já temos o primeiro contrato conquistado em Espanha, na região da Andaluzia. Para o ano vamos organizar lá os nossos primeiros Youth World Games, uma espécie de “mini jogos olímpicos”, com 11 modalidades e com a ambição de receber cerca de quatro mil atletas. Além disso, também ao nível da organização de viagens estamos a planear adicionar novas modalidades desportivas nos nossos programas e “aventurarmo-nos” cada vez mais na organização de viagens também para outros destinos além de Portugal.
Quais são as metas para os próximos três a cinco anos? Há ambição de criar novos eventos internacionais de raiz?
As nossas grandes metas para os próximos três a cinco anos passam por consolidar e reforçar a presença da Sports Ventures no panorama internacional, tanto através do crescimento do Algarve 7s, como pelo aumento do número de tours desportivos que realizamos. Este processo de expansão terá como ponto de partida Espanha, onde pretendemos criar uma estrutura mais sólida para responder à procura crescente de grupos internacionais. Este será o primeiro passo para, no futuro, levar os nossos projetos a outros países da Europa, sempre com o objetivo de organizar tours desportivos de excelência, pensados para atletas e equipas de diferentes modalidades, que combinem competição, treino e experiências culturais.
O que mudou no comportamento dos vossos clientes no pós-Covid?
Notámos uma maior preocupação com a flexibilidade e segurança nas viagens. Clubes, federações e atletas passaram a valorizar mais o planeamento antecipado, mas também exigem maior adaptabilidade face a imprevistos. Além disso, há uma crescente procura por experiências mais personalizadas e que combinem performance desportiva com bem-estar.
Como avalia a competitividade de uma empresa portuguesa neste setor a nível global?
Apesar da forte concorrência internacional, acredito que as empresas portuguesas têm demonstrado uma capacidade notável de se afirmar neste setor. A nossa vantagem competitiva assenta, por um lado, na qualidade e personalização do serviço, e por outro, nas condições naturais e as infraestruturas que Portugal oferece para a prática desportiva. Adicionalmente, temos profissionais altamente qualificados, habituados a lidar com mercados exigentes e a adaptar-se rapidamente às necessidades de clubes, federações e atletas de diferentes origens. Tudo isto contribui para que Portugal não seja apenas um destino atrativo, mas também um parceiro estratégico de confiança no turismo desportivo a nível global.
Quais são os maiores desafios logísticos e operacionais em eventos desta escala?
Organizar eventos desta dimensão é sempre um grande desafio, uma vez que, por mais planeamento que exista, é impossível antecipar todos os imprevistos. Um dos principais desafios que enfrentamos ano após ano é a logística de transporte de todo o material necessário, desde Lisboa, onde a Sports Ventures está sediada, até ao Algarve, garantindo que tudo chega a tempo e em perfeitas condições. Outro ponto crítico é a gestão dos transferes entre o aeroporto e os hotéis, já que estamos a lidar com participantes vindos de vários pontos do mundo, o que implica atrasos em voos, tempos de espera na imigração e a necessidade de manter uma comunicação constante e eficiente entre motoristas, hotéis e participantes.
Como se coordenam as equipas?
A coordenação de uma equipa de mais de 180 colaboradores, distribuídos por vários espaços, é também um desafio considerável. Muitos deles não se conhecem previamente e, em alguns casos, é a primeira vez que participam no evento, o que exige uma integração rápida e eficaz. O tempo para se familiarizarem com toda a logística é limitado, mas a dedicação e o espírito de equipa que se criam ao longo do evento são notáveis. É muito gratificante ver como todos se ajudam, como surgem novas amizades e ouvir, no final, o feedback positivo sobre a competência e a boa disposição das equipas.
Como é a relação da Sports Ventures com as autarquias, entidades regionais e associações desportivas?
A nossa relação com as autarquias é de grande proximidade e colaboração. Um exemplo claro disso é o Algarve 7s, que se realiza em parte no Complexo Desportivo e Municipal de Vila Real de Santo António, um espaço gerido pela Câmara Municipal. Da parte das autarquias recebemos apoio logístico e é-nos facilitada a comunicação com as autoridades locais, o que nos permite garantir que o evento cumpre todas as normas e requisitos legais. As autarquias reconhecem o impacto positivo que o evento gera na região e percebem que se trata de uma situação de benefício mútuo. O evento não acarreta custos significativos para as câmaras, mas, ao apoiarem-nos na criação de condições para que tudo decorra da melhor forma, estão a contribuir para o sucesso do Algarve 7s e a criar as bases para que os participantes regressem ano após ano. Este regresso, aliado à projeção internacional do evento, é a melhor publicidade que podem ter.
O turismo desportivo pode ser uma ferramenta para combater a sazonalidade do Algarve?
Sem dúvida. O volume de negócios gerado pela Sports Ventures mantém-se estável ao longo de todo o ano, de janeiro a janeiro, o que contribui para a continuidade da atividade turística na região mesmo fora da época alta. O Algarve, com os seus excelentes complexos desportivos, condições naturais de excelência para a prática de diversas modalidades e um clima ameno e agradável durante todo o ano, reúne todos os fatores para ser reconhecido como a “Flórida da Europa”. Além disso, os grupos que trazemos para o Algarve ficam alojados, na sua maioria, em hotéis de pelo menos quatro estrelas, em regime de meia pensão ou pensão completa, e utilizam vários serviços complementares, como transportes, atividades turísticas, restaurantes e comércio local. Esta procura constante ajuda a garantir um volume de negócios regular tanto para os hotéis como para os operadores turísticos e prestadores de serviços locais.
Que papel terá a Sports Ventures no futuro do turismo desportivo em Portugal?
A Sports Ventures já é, atualmente, um player de destaque no turismo desportivo em Portugal. Cada grupo que recebemos representa mais do que uma simples viagem: é uma oportunidade de promover Portugal como um destino de excelência, oferecendo experiências completas que combinam desporto, cultura e gastronomia. A nossa ambição é posicionar Portugal como o principal destino de turismo desportivo da Europa. Queremos ser uma ponte entre o desporto e a valorização do território, mostrando ao mundo que Portugal tem todas as condições para ser um destino de referência para o turismo desportivo, não apenas pelo clima e pela qualidade das infraestruturas, mas também pela hospitalidade e pela riqueza da nossa cultura.
O que mais o motiva, pessoalmente, a liderar um projeto com este impacto?
O que mais me motiva é o facto de ter criado a Sports Ventures do zero e ter tido a oportunidade de escolher, uma a uma, as pessoas que fazem parte da equipa. Mais do que colegas de trabalho, são amigos e uma verdadeira família. Trabalhar neste ambiente, rodeado de pessoas em quem confio, com quem partilho desafios e sucessos, é algo que me dá uma enorme satisfação e me faz querer continuar a dar o meu melhor todos os dias. Outro grande fator de motivação é a possibilidade de conhecer novas pessoas de todo o mundo. O turismo desportivo traz até nós atletas, treinadores e famílias de diferentes culturas, e poder ouvir as suas histórias, trocar perspetivas e partilhar momentos é algo que considero muito enriquecedor, tanto a nível profissional como pessoal.
Que conselho daria a jovens empreendedores que veem no desporto e turismo uma oportunidade de negócio?
O primeiro conselho que dou é simples, mas fundamental: não tenham medo de falar com pessoas, de criar contatos, de estabelecer relações. No setor do turismo desportivo, o sucesso depende muito da qualidade da rede de contatos, quanto mais forte ela for, mais portas se abrem e mais fácil é trabalhar. O networking é, sem dúvida, uma das chaves para crescer neste mercado. Outro conselho importante é viajar, conhecer diferentes culturas, entender como funcionam outros mercados e perceber quais são as necessidades específicas de cada público. Só assim é possível ajustar e melhorar o serviço que oferecemos, tornando-o verdadeiramente relevante e diferenciador. Estar no terreno, viver as experiências, conhecer as pessoas e ouvir as suas histórias é essencial para criar um projeto sólido.