
"O que me impressionou, ou ultrapassou o que pensava, é um certo entusiasmo que se sente em torno da programação da Braga25, traduzido em números, de visitantes e de eventos", disse em entrevista à agência Lusa o coordenador do programa artístico Luís Fernandes. "Está a ser um programa muito ambicioso, não só do ponto de vista quantitativo, como também por cobrirmos muitas áreas no espetro artístico."
Os números, hoje dados a conhecer, demonstram o elevado ritmo dos primeiros seis meses, com 1.069 atividades artísticas, o que inclui 312 espetáculos, 70 exposições e ainda 324 ações de mediação e participação comunitária.
Ao todo, foram 728.656 espectadores, a grande maioria em exposições (614.795), seguindo-se a música (52.948) e o teatro (9.254).
A passagem por Braga de nomes como Tiago Rodrigues, diretor do festival de teatro de Avignon, com a sua nova peça "No Yogurt for the Dead", a estreia do Teatro Nacional de São Carlos com "uma ópera de escala média", e a celebração do centenário de Carlos Paredes com Mário Laginha foram alguns dos destaques elencados pelo programador.
A maioria da programação artística diz respeito a criadores locais, com 54% dos profissionais participantes a surgirem nessa lógica, a que se somam mais 30% de artistas nacionais, sobrando 16% para convidados do estrangeiro.
De resto, mais de metade das atividades programadas teve medidas de acessibilidade, entre sessões adaptadas e outras respostas.
"Para mim, é evidente que este tipo de eventos tem perfil de capacitação, de fomentar a vitalidade do tecido artístico local. Faz-se não só trazendo artistas de referência, que possam inspirar e capacitar, mas também trabalhando com quem cá está, criando as bases para que esse trabalho se possa desenvolver no futuro. Grande parte do trabalho da Braga'25 tem uma dimensão comunitária", afirmou.
Luís Fernandes nota que um programa como o Desejar foi construído em diálogo e com "diferentes comunidades que habitam Braga -- imigrantes, comunidade LGBTQIA+, jovens, adolescentes", entre outros, permitindo alçar a programação regular de espaços como o Theatro Circo e o Gnration com "outros argumentos".
A inclusão da arquitetura e espaço público na programação, menos visada noutras alturas, e a continuidade de ciclos e projetos habituais da cidade trouxeram dimensão à Capital, enquanto o programa Todo-o-Terreno apoiou dez iniciativas independentes de programação, um sinal de "vitalidade cultural de uma cidade."
"Estas são as ideias mais relevantes que podem ficar de uma Capital. Caminho aberto para políticas de cultura mais abertas, inclusivas, participativas, que diluam um pouco o peso que normalmente é atribuído às instituições municipais", acrescentou.
A "curiosidade e interesse" do público, e a envolvência da comunidade, foi algo que surpreendeu Luís Fernandes, uma vez que independentemente da qualidade ou relevância das propostas, "nem sempre se consegue relacionar com os públicos."
"Os públicos, hoje em dia, tendem genericamente a procurar o que lhes é mais familiar, com menos curiosidade para o novo, porque hoje há muitas formas de ocupar o tempo, muitas que envolvem ficar em casa. Essa dificuldade que os programadores culturais sentem no dia-a-dia, um desafio constante, colocou algum freio nas expectativas. Mas [as dúvidas] dissiparam-se totalmente", comentou.
Na segunda metade do ano, não haverá "de todo um abrandamento, será para manter a bitola alta", com o festival Julho é de Jazz, que conta, entre outros, com um concerto do trompetista Peter Evans com a Orquestra Jazz de Matosinhos, e um projeto que junta a guitarrista Ava Mendoza e o baterista Brad Jones ao quarteto bracarense Forward.
O festival Extremo ocupa um dia, do nascer do sol até bem para lá de o astro 'se pôr', com propostas do campo da música eletrónica e em parceria com a Câmara de Guimarães, decorrendo no Monte de Santa Marta das Cortiças e nas igrejas no local.
Entre ciclos de cinema, a continuação do Forma de Vizinhança e a Noite Branca de Braga, a programação vai-se aproximando da fase final, com uma encomenda a Daniel Blaufuks, que terá o seu filme "Naquele Dia em Lisboa", musicado por Matthew Herbert, exibido a 27 de setembro, um dia antes de ser apresentado na Culturgest de Lisboa.
No campo da música, destaque para a interpretação de "In C", famosa composição de 1964 de Terry Riley, homenageado nos seus 90 anos por um conjunto de músicos portugueses que vão atuar sob a batuta do maestro Pedro Carneiro.
O Festival Castro-Galaico, numa de várias aproximações à Galiza de Braga'25, o certame de novo circo Vaudeville Rendez-Vous, o Sons do Noroeste, o Semibreve e o Utopia Braga estão entre outras propostas até final do ano na capital de distrito.
Luís Fernandes nota ainda a passagem pela cidade da Companhia Nacional de Bailado, em outubro, o programa de pensamento e discussão de políticas públicas Cenários, do Teatro Municipal D. Maria II, em novembro, e a estreia absoluta do novo espetáculo de Marco Martins, em dezembro.
Depois deste ano, quando Braga entregar o testemunho a Ponta Delgada, próxima Capital Portuguesa da Cultura, "diversas ações" têm caminho para continuar.
"O programa Supracasa, de apoio a novas criações nas artes performativas, será absorvido pelo programa do Theatro Circo. É um legado que permanecerá. Há muitos outros que estão a ser discutidos, que dependem também de mecanismos de financiamento", revelou.