Arranca esta semana em Leiria a digressão que assinala 30 anos dos Silence 4, fenómeno de vendas no final do anos 90 e início dos anos 00. A banda celebra a efeméride com nove concertos: 12, 13 e 14 de junho, no Teatro José Lúcio da Silva, em Leiria; 13, 14, 15 e 15 de novembro, no Pavilhão Rosa Mota, no Porto; 12 e 13 de dezembro, na Meo Arena, em Lisboa.

O sucesso dos Silence 4 foi resultado de "um percurso inimaginável", considera o vocalista, David Fonseca. "A nossa ideia inicial era mesmo fazer música. Nunca pensámos que alguma vez tivéssemos discos ou que fizéssemos alguma carreira daquilo. Foi uma surpresa enorme tudo o resto que não a música", contou à agência Lusa.

O vocalista, um dos quatro fundadores dos Silence 4 em 1995, recorda que, logo depois do primeiro álbum, "Silence becomes it" (1998), surgiu a hipótese de tocarem no Pavilhão Atlântico, em Lisboa, hoje Meo Arena. "Seis meses depois do primeiro disco já estávamos no MEO Arena a tocar, o que foi para nós uma coisa absurda. Nem acreditava que fosse possível. Fui muito contra a ideia de irmos lá tocar, por incrível que possa parecer", lembrou.

O que para ele era "um disparate" tornou-se realidade e levou a perceber que "havia uma coisa a acontecer que, se calhar, me estava a escapar completamente", reconheceu. O divertimento de quatro adolescentes, "que queriam essencialmente fazer música", continua a ter "eco numa geração que viveu nos finais dos anos 90".

No caso pessoal de David Fonseca, é "ainda mais inimaginável", porque, dali, construiu uma carreira autónoma. "Para um miúdo que nem sequer queria ser músico, ainda aqui estou! Estive em negação muitos anos. Achava que aquilo ia terminar, mais dia menos dia, e que ia voltar a fazer outra coisa qualquer". Demorou uma década a assumir a música como caminho. "Comecei a pensar: 'Se calhar é isto que é mesmo a minha vida, se calhar é esta a minha profissão'".

A forma livre como o próprio e também os Silence 4 encaram o que fizeram, ajuda a explicar o êxito. "Não esqueço que quando editámos o primeiro disco, já tínhamos tido propostas de contratos de multinacionais, mas queriam que cantássemos em português". Declinaram e continuaram a cantar em inglês, comprovando que não estavam "assim tão interessados em fazer uma carreira, mas sim aquilo" que queriam fazer.

Essa recusa "diz muito sobre aquilo que a banda representava e ainda hoje representa - uma certa liberdade", que o cantor partilha frequentemente com quem quer viver da música: "Tentar construir uma coisa para agradar a outros, nunca me soou muito bem. Para isso preferia ter uma loja de gelados e tentar fazer o melhor gelado, para que as pessoas gostassem".

A música precisa de, "inicialmente, estar muito perto das pessoas que a fazem". Depois, "as pessoas gostam ou não gostam e acontece o que tiver de acontecer". "Os Silence 4 tiveram a sorte de as pessoas gostarem muito do que estávamos a fazer".

Com apenas dois discos editados, "Silence becomes it" (1998) e "Only pain is real" (2000), os Silence 4 marcaram a música portuguesa no final dos anos 1990 e início de 2000. Constituídos por David Fonseca (voz e guitarra), Tozé Pedrosa (bateria), Sofia Lisboa (voz) e Rui Costa (guitarra e baixo), os Silence 4 venderam mais de 300 mil exemplares. Entre os principais sucessos estão "Borrow", "My friends", "To give" e "Only pain is real", assim como a versão acústica de "A little respect", dos Erasure. Pouco depois de concertos nos coliseus de Lisboa e do Porto, em 2001, editados em CD e DVD, o grupo suspendeu a atividade, alegando saturação. Em 2003, o baixista Rui Costa saiu da formação e David Fonseca iniciou-se a solo com o primeiro álbum "Sing me something new". Sofia Lisboa participou em alguns projetos musicais, como Ellas, com Raquel Ralha. O baterista Tozé Pedrosa dedicou-se ao ensino. Nos últimos anos, Rui Costa esteve integrado em projetos como a Filarmónica Gil, A Caruma e Companhia do Canto Pop. Em 2014, reuniram-se para 5 concertos.