Foi aos 36 anos de idade que Joana Gonçalves recebeu o diagnóstico de um cancro da mama triplo negativo. A notícia, naturalmente, chegou como um 'murro no estômago', não só para a influencer como para quem a rodeia. No mais recente episódio do podcast da SIC Notícias, Tenho Cancro. E Depois?, a criadora de conteúdos digitais 'abriu o seu coração' e falou, sem rodeios, sobre a dura experiência de enfrentar esta doença que lhe poderia 'roubar' a vida.

Durante a conversa, Joana Gonçalves não deixou nada por dizer e, ao contrário de vários discursos positivos, repletos de desejo de superação e de lições de vida, a verdade é que a influenciadora digital optou por colocar os pontos nos 'is' e, desta forma, relatar o quão difícil foi este período na sua vida. Segundo a própria, houve muito sofrimento 'à mistura' e todos os impactos deste diagnóstico em si foram negativos.

"Para mim o cancro foi uma merd*, porque foi realmente, foi tudo mau. Quando eu digo que não aprendi nada, que não me tornou uma pessoa mulher, porque efetivamente não me tornou numa pessoa melhor. Eu já tinha uma alegria natural a olhar para a vida, eu já aproveitava muito a vida, eu já viajava muito, não me deu nenhuma epifania de 'agora tenho que aproveitar e viver'. Eu já fazia isso, por isso o cancro tirou-me um ano disso", começou por dizer.

Joana Gonçalves
Joana Gonçalves José Fonseca Fernandes

"O cancro deixou-me preocupada com a minha saúde e futuramente tenho que fazer exames… Por isso, só me trouxe coisas negativas e foi um sofrimento todo esse ano para mim, para a minha mãe, para o meu pai, para o meu namorado, para os meus amigos, foi mau para toda a gente. Por isso é que eu tenho muita dificuldade em conseguir olhar para o cancro como uma coisa positiva como muita gente olha, não consigo", confidenciou logo depois.

Sobre este olhar mais leve sobre a doença, cuja pressão nesse sentido Joana Gonçalves garantiu haver, a verdade é que na sua visão é insuficiente para salvar uma vida. "Se não fizermos quimioterapia bem que podemos ser positivos que, com um triplo negativo, morremos", afirmou, 'sem papas na língua', e ressalvando o facto de que embora tenha esta opinião se considera "naturalmente uma pessoa positiva" e sempre pronta a ver "o copo meio cheio".

"O que eu não acho é que se deva colocar essa pressão e essa obrigatoriedade 'tens que ser positiva'", afirmou ainda a influencer como uma forma de criticar esta pressão social a respeito de uma postura otimista perante a doença. "Conheço pessoas que foram muito positivas e as coisas não correram bem e conheço pessoas que foram muito negativas e correram bem as coisas bem na mesma. Por isso, não acho que tenha influência", disse também.

No entanto, Joana Gonçalves acredita, por outro lado, que esta visão mais leve sobre a doença pode de facto ter uma certa "influência na forma como nós acordamos, pomos os pés no chão e como é que vamos encarar aquele dia ou aquele tratamento". Contudo, no que diz respeito ao tratamento em si e no efeito que a quimioterapia vai ter no organismo mantém a sua visão de que o otimismo, por si só, não irá salvar ninguém.

Ainda no que diz respeito à sua experiência, a criadora de conteúdos recordou os momentos de maior fragilidade vividos durante a sua batalha contra o cancro e que foram marcados por dor, desgaste físico e emocional. "Eu estive muito mal disposta, eu sofri muito e não, não foi um passeio no parque, foi muito mau. E cheguei por duas vezes ao pé da Dr. Rita a querer desistir, a chorar, desesperada, que não aguentava mais. Por isso, no meio disto, eu não posso dizer 'aprendi imenso e foi bom', não foi, seria mentir, seria hipocrisia da minha parte", rematou, por fim.

Ouça o podcast completo em sicnoticias.pt.