Bombeiros, motoristas de pesados, militares, seguranças, um jornalista e um DJ estão entre os homens recrutados pelo agora ex-marido de Gisèle Pelicot, através da Internet, para a violar. Dominique Pelicot - que também cometia o crime e filmava - drogou a mulher durante quase uma década com ansíoliticos. Todos eles sabiam que estava inconsciente.
Esta quinta-feira, 19 de dezembro, o francês de 72 anos foi considerado culpado de violações agravadas e condenado a 20 anos de prisão, a pena máxima em França. Os restantes 51 arguidos, com idades compreendidas entre os 27 e os 74 anos, receberam sentenças que variam entre os três e os 20 anos, sendo que duas são suspensas.
Gisèle Pelicot, que se tornou um símbolo de coragem e resiliência, foi aplaudida à saída do tribunal e disse estar "muito comovida". Apesar de ter sido uma "provação muito difícil", nunca se arrependeu de ter tornado o caso público.
"Estou a pensar principalmente nos meus três filhos e nos meus netos porque eles são o futuro", afirmou, citada pelo Sky News, destacando que foi por eles que "levou esta luta para a frente". Questionada sobre as sentenças, Giséle respondeu: “Respeito os tribunais e a sua decisão.”
Marido foi apanhado a tentar tirar fotos a mulheres num supermercado
Gisèle Pelicot não tem qualquer memória do que lhe aconteceu entre julho de 2011 e outubro de 2020. Ao todo, quase 100 violações foram registadas. A mulher de 71 anos só descobriu quando o então marido, com quem estava casada há 50 anos, foi apanhado num supermercado a tentar tirar fotografias às saias de três clientes. O segurança do estabelecimento apresentou queixa e a polícia começou a investigar em novembro de 2020.
Durante as buscas em casa dos Pelicot, as autoridades encontraram no computador de Dominique um ficheiro intitulado "abusos" com milhares de vídeos e imagens da vítima a ser violada por vários homens. Também foram encontradas imagens da filha do casal, Caroline Darian, completamente nua.
Dominique Pelicot acabou por admitir tudo: confessou que misturava os ansíoliticos na comida e na bebida da esposa, sem que esta soubesse. Depois, através de um site de encontros francês, convidava outros homens para a violar. Não pedia dinheiro em troca e participava nos abusos.
"O meu mundo desmoronou. Para mim, tudo estava a desmoronar. Tudo o que eu tinha construído ao longo de 50 anos", disse Gisèle, citada pelo The Guardian, ao recordar em tribunal o momento em que viu as imagens. "Fui sacrificada no altar do vício. Eles viam-me como uma boneca de trapos, como um saco do lixo."
"Quando se vê aquela mulher drogada, maltratada, uma pessoa morta numa cama - claro que o corpo não está frio, está quente, mas é como se eu estivesse morta", afirmou, referindo que "violação não é a palavra correta, é tortura".