TV 7 Dias – Esta é, para si, uma altura de fazer balanços?

Sara Pinto – 2024 foi um ano muito positivo, quer a nível profissional, quer pessoal. Tenho dois filhos [N.R.: Vasco, de quatro anos, e Manuel, de dois] maravilhosos, um casamento super-resolvido, sou superfeliz. Foi mais um ano de balanço positivo. A nível profissional, também foi ótimo. Tive uma mudança no último ano, deixei de trabalhar à noite para fazer o almoço, e isso trouxe-me muitos benefícios a nível pessoal. A nível profissional também, porque tinha o desafio de pegar no TVI Jornal e tentar alavancá-lo nas audiências e está a correr muito bem. Já é líder no horário muitas vezes.

O facto de ter deixado o horário da noite e ficar no do almoço pode ser considerado uma despromoção?

Foi um desafio e partiu também de uma vontade minha, porque o projeto que estava a ser pensado para a noite também implicava ter de trabalhar mais ao fim de semana, o que para mim, neste momento, é muito complicado, com os bebés pequenos. Ainda por cima não tenho qualquer família em Lisboa. A minha e a do meu marido são ambas do Norte. O meu marido, às vezes, também tem de trabalhar ao fim de semana. Surgiu esta oportunidade de estar no Jornal da Uma, uma vontade minha e uma concordância com a direção. Não vejo como uma despromoção, de todo. Até porque a área que eu mais gosto, que é a política, não foi posta de parte. Eu continuo a trabalhar em assuntos da política, estive na cobertura das várias eleições que aconteceram nos últimos meses, fiz os debates eleitorais, que é uma coisa que me dá muito prazer, e ainda agora estive a fazer reportagens especiais, a propósito do centenário do Mário Soares.

É um horário mais confortável?

Permite-me conciliar a área na qual eu mais gosto de trabalhar com a apresentação de um jornal diário. Claro que o horário nobre tem o peso do horário nobre, mas eu também sou nova, tenho tempo para voltar a fazer esse horário noutra fase da minha vida. Para já, sinto-me bem com o horário que estou a fazer.

Traça metas para 2025?

(risos) As coisas estão de facto a correr muito bem, não tenho nada que diga ‘ai, isto tem mesmo de acontecer’. A médio prazo, gostava de aumentar a família, mas vamos pensar nisso a médio prazo. Um ano tem 12 meses, uma gravidez são nove. Pode acontecer.

Comemora a passagem de ano?

Não gosto nada da passagem de ano. Faço o brinde à meia-noite, peço os 12 desejos, mas não tenho aquela vontade de sair para festejar. Gosto de estar recatada, sem grandes festas, com alguns amigos e a família. Mais recentemente, tem sido com o marido e os filhos, com os miúdos a dormir. Durante muito tempo, desde que estou a trabalhar, há 16 anos, trabalhei quase sempre na passagem de ano, para ter o Natal livre, para poder ir ter com a minha família. Por acaso, este ano calhou-me o Natal, mas foi possível fazê-lo no estúdio do Porto, estou perto da minha família à mesma.

Saiu cedo de Marco de Canaveses. O que ainda há dessa menina?

Tradições, sobretudo nestas datas. No dia 24, o ir à horta com os meus pais buscar a tronchuda, como se diz lá em cima, que é a couve portuguesa, para comer com as batatas e o bacalhau. Gosto desse hábito. A humildade de quem vem de uma cidade pequena e sabe que tem o mundo para descobrir, os valores da família, da partilha, creio que isso vem da minha infância, a atenção ao outro, que é uma coisa que nas grandes cidades nem sempre se vê.

Sempre quis ser jornalista?

Sim, não me lembro de outra. Talvez numa altura quisesse ser cabeleireira e fazia muitos penteados nos cabelos das minhas primas, mas, com uma convicção, sempre quis ser jornalista. Havia sempre a tradição de ver as notícias à hora das refeições. Foi o meu pai que me passou esse hábito e, realmente, eu olhava para os noticiários e ficava fascinada com a quantidade de coisas que os jornalistas sabiam sobre tantos assuntos. E sempre tive essa vontade de saber tantas coisas, sobre tantos assuntos.

Ele apoiou a sua decisão?

Não. Ele gostava que eu fosse médica, mas isso nunca iria acontecer. Sou muito sensível, depois de ter sido mãe já nem tanto, mas uma simples colheita de sangue para análise, para mim, era uma tortura. O meu pai tinha a preocupação, porque a área da comunicação nem sempre teve muitas ofertas de emprego. Hoje há mais canais, o cabo, na parte digital houve um avanço muito grande, mas, àquela data, o meu pai achava que era uma área muito difícil de conseguir emprego.

Foi fácil chegar até aqui?

Quando acabei o curso, fiz um estágio que correu muito bem, na SIC, no Porto. Quando o estágio terminou, ainda consegui um contrato de substituição de uma colega que ficou grávida, mas depois fiquei sem emprego. Tive de procurar outra alternativa. Cheguei a trabalhar numa loja do shopping, para conseguir manter-me no Porto e estar mais perto de eventuais ofertas de emprego, e depois a única alternativa foi vir para a redação da SIC, em Lisboa, para fazer uma coisa totalmente diferente daquilo que eu estava a fazer.

Veio para trabalhar na redação, mas a fazer as legendas de rodapé…

Já tinha tido uma evolução muito grande no meu trabalho, fazia reportagens, diretos, e de repente a única vaga de trabalho que havia era escrever as frases que aparecem no rodapé. Decidi aproveitar e correu bem. Passados uns meses, consegui integrar-me em plenitude na redação e voltar a fazer reportagem. Com alguns sacrifícios, porque estava longe da família, trabalhava todos os fins de semana, feriados, foram quase três anos, em que a minha mãe tentava tirar férias à segunda e à terça-feira para conseguir estar comigo. Estive três anos a fazer o horário de madrugada, também é um horário muito difícil, mas quando olho para trás tenho a certeza que todos os sacrifícios valeram realizada a nível profissional.

Sente que essa oportunidade de fazer as legendas foi uma forma de a manterem por perto?

Sim. Eles manifestaram que gostavam muito do meu trabalho, mas que não tinham forma de me integrar a não ser neste trabalho. Estávamos a passar por momentos complicados. A Troika quase a vir para Portugal… na realidade, posso dizer que a Troika me deu emprego, porque houve de facto um aumento de fluxo noticioso à conta do pedido de ajuda externa. E isso foi uma das formas de justificar também a minha contratação.

Veio para Lisboa sozinha. Como foi essa adaptação?

Na altura, tinha cá alguns amigos que tinham tirado o curso comigo e foram uma ajuda muito grande nessa fase. Quando vim em definitivo para Lisboa, e praticamente de um dia para o outro, vim a conduzir sozinha de Marco de Canaveses até Lisboa, era uma miúda, nunca tinha conduzido sozinha, na principal autoestrada do País, durante a noite.

Houve lágrimas nessa viagem?

Tinha a certeza que tinha de vir. Tive muitas lágrimas depois de muitas outras vezes que fiz a A1 e que apanhei o comboio de Porto-Campanhã para Lisboa, sobretudo naqueles anos em que trabalhava todos os fins de semana e que era mais difícil estar com a minha família e com o meu namorado, que ficou no Porto e depois foi para Londres. Estivemos muito tempo separados, até conseguirmos estar juntos. Aí, sim, havia muitas lágrimas.

Como conseguia conciliar o trabalho em Lisboa com a família em Marco de Canaveses e o namorado no Porto?

Era complicado. Eu acabava de trabalhar ao domingo por volta das 20h00. Saía de Carnaxide, apanhava o comboio para o Porto, onde estava o meu namorado, ficava de domingo para segunda, apanhava o comboio para Marco de Canaveses, para visitar os meus pais e a minha irmã, com sorte a minha mãe tinha conseguido pôr o dia de férias, voltava na terça para o Porto, para estar um pouco com o meu namorado, e vinha para Lisboa na quarta, porque entrava às 17h00. Os meus dias de folga eram passados nas carruagens da CP. Quando o meu namorado foi para Londres, o comboio deu lugar às viagens de avião e aí era mais difícil. Fazia um fim de semana lá, com ele, e outro com os meus pais.

Tem uma bonita história de amor. Conheceu o Edgar em Roma.

Já faz quase 20 anos que estamos juntos. Estamos casados há menos tempo, mas foi só uma formalidade e porque queríamos fazer uma festa. Foi uma história engraçada, dois portugueses a estudar na Universidade do Porto, em cursos diferentes, mas acabámos por nos ver e conhecer em Roma, ambos a fazer Erasmus. Foi logo no início do nosso ano letivo em Roma. Passámos logo ali por uma privação, porque eu fui por um ano e ele só pôde ficar seis meses. Conseguimos ultrapassar todas as barreiras e quase 20 anos depois continuamos juntos, felizes e com uma família que adoro.

É uma mulher bem-sucedida profissionalmente, tem um casamento feliz e dois filhos. Como consegue conciliar tudo, quando muitas vezes o jornalismo não tem horários?

Pode parecer fácil, mas não é. A minha decisão de passar para o horário de almoço tem que ver com isso, para ter um maior equilíbrio entre a minha vida profissional e pessoal. Procuro mesmo isso, gosto muito de ser mãe, também gosto muito de ser jornalista, mas não quero que uma coisa se sobreponha à outra. Há momentos em que isso acontece. Se eu estiver numa fase de debates eleitorais, sei que não vou estar 100 por cento no meu papel de mãe. Vou precisar de ajuda. É verdade que isto da maternidade é muitas vezes estar com um sentimento de culpa constante, de “eu não estou a ser a mãe que devia ser”. E, por outro lado, estou no meu trabalho preocupada com os miúdos e sinto que estou a falhar, porque não estou a dar a devida atenção a determinadas coisas. Mas eu acho que é impossível alguém ser perfeito nos dois papéis. Ninguém é o profissional perfeito, ninguém é a mãe perfeita.

No segundo filho voltou mais cedo ao trabalho…

Houve uma necessidade da redação. A direção de Informação falou comigo e conseguimos chegar a uma situação equilibrada. Regressei mais cedo, mas também tinha condições para estar a adiantar trabalho em casa, para não estar tanto tempo na redação, poder acompanhar mais o meu filho e manter o aleitamento exclusivo, que fiz das duas vezes.

E consegue ter tempo para si?

Não tenho muito (risos). Voltei há pouco tempo a fazer exercício físico e tenho falhado nas aulas, porque não tenho conseguido dar conta de tudo. Acho que o que me faz falta é ter um bocadinho mais de tempo para mim e se calhar com o marido, só os dois. Olha, está aí um desejo para 2025 (risos).

O que a fez mudar da SIC para a TVI?

O desafio e a possibilidade de ter mais oportunidades de fazer outras coisas. Possivelmente, se ainda estivesse na SIC, estaria a fazer o mesmo tipo de trabalho que fazia, há quatro anos. A mudança foi mesmo para explorar a possibilidade de fazer outro tipo de trabalhos. O que se concretizou, a questão dos debates eleitorais, foi possível fazê-lo, isso nunca teria acontecido na SIC.

Sente que estava estagnada?

Sinto que não tinha espaço para evoluir, pelo menos a médio prazo. Foi uma escola, o facto de ter trabalhado 13 anos na SIC fez de mim a jornalista que sou hoje. Todas as bases do jornalismo aprendi na SIC, as experiências, quer no terreno, régie ou estúdio, fizeram-me crescer. Mas depois chegou ali uma altura em que tinha pouco espaço para evoluir.

Os espaços em que podia evoluir estavam ocupados?

Sobretudo o da generalista, está bem entregue, com excelentes profissionais, por isso não havia aí margem para fazer esse tipo de trabalho.

Refere-se à Clara de Sousa, ao Rodrigo Guedes de Carvalho…

Sim, ao Bento Rodrigues… São pessoas que estão naqueles espaços há muito tempo, que fazem um bom trabalho, e também percebo que em equipa que ganha não se mexe. Quando eu venho para a TVI, foi quando se deu a saída do Pedro Pinto, que estava a apresentar o horário da hora de almoço. Venho para ocupar esse lugar.

Que balanço faz destes quatro anos?

São quatro anos de crescimento. Lá está, quando temos a oportunidade de fazer coisas novas, evoluímos e crescemos.

Nunca se deslumbrou?

Não. Acho que aí vou buscar as minhas raízes e a humildade que os meus pais sempre me transmitiram, a minha família e os meus amigos. Vou buscar esses valores, que me foram passados durante a minha infância. É isso que me faz ter os pés assentes na terra e nada deslumbrada com o mundo da televisão.

Como é no seu dia-a-dia?

Completamente desligada de tudo o que está relacionado com a televisão. Gosto de estar no conforto da minha casa, com a minha família, e a aproveitar isso que é só meu, longe da exposição pública. O tempo livre está dedicado a eles, aos passeios no parque, de bicicleta. São sobretudo passeios em família, colorir livros de pintar, fazer plasticina e ver filmes de animação. Quando estamos pelo Norte, conseguimos uma vez ou outra ir ao cinema. As viagens fazia muitas, muitas aventuras, mas com os miúdos não arriscamos para fora da Europa.

Entretanto, era uma das concorrentes de Dança com as Estrelas…

(Interrompe a rir) Quando olho para a exigência do programa, dou graças por ter havido eleições. Confesso que estava um bocado apavorada com aquilo, já me tinham falado da exigência… e quando vimos que não dava para conciliar com o calendário eleitoral, eu senti um alívio. O Pedro Benevides foi fazer um número de dança e disse-me: ‘Tu estavas maluca quando aceitaste’.

Voltaria a aceitar?

(risos) Não sei, agora tenho uma dívida para com eles.

Textos: Ana Lúcia Sousa (ana.lucia.sousa@worldimpalanet.com) Fotos: redes sociais