Chegou de sorriso nos lábios e de visual para um novo trabalho. Um grande grande desafio como revela aos jornalistas. O segredo impera e por isso não quis adiantar mais nada. “Não tenho autorização”, afirma, à margem do evento de apresentação do documentário de Carolina Patrocínio. Sofia Ribeiro tem estado debaixo de fogo desde que a sua mãe desapareceu por opção, para voltar à vida de sem-abrigo, com muitas pessoas a criticá-la por não ajudar a mulher que lhe deu vida. A atriz revelou, que a mãe já está novamente a viver com ela e que foi injustamente criticada. “A minha mãe já estava comigo há muito tempo, foi tudo um mentira e uma forma deturpada de dizer as coisas. Está comigo agora, eu ainda estava em viagem [N.R.: Sofia estava em nova Iorque] e a minha mãe já estava na minha casa. Fui eu que arranjei forma de chegar a ela porque entretanto consegui perceber onde é que ela estava. Entretanto não havia como saber porque a pessoa quando não está em sítio certo… tudo o que havia para fazer, foi feito. Nós também só conseguimos fazer o que nos deixam”, partilha a atriz, sem tabus.

Sofia Ribeiro sempre falou publicamente sobre o que de menos bom lhe acontece na vida. Foi assim quando descobriu que tinha cancro da mama, quando partilhou a vida difícil que teve desde pequena, os finais de namoro, e é assim, agora, quando relata a dificuldade que é cuidar de alguém com uma doença mental. À TV 7 Dias, a atriz explica, em exclusivo, por que o faz. “Não é um tema fácil. Nunca fui uma pessoa de ter prurido em falar sobre qualquer que seja o tema. É uma abordagem, é a minha forma de viver as coisas, quem me acompanha, sabe que não partilho só as alegrias e coisas boas. Tento ser o mais natural possível. Se eu estou triste, partilho que o estou, da mesma forma de quando estou muito contente. Acho que seria hipócrita da minha parte. Eu identifico-me com pessoas reais, acredito que esta forma de chegar às pessoas, com verdade, que acaba por aproximar-nos uns dos outros. Somos todos iguais, só temos profissões diferentes”, esclarece a atriz.

Os tempos têm sido de tristeza e cansaço. Sofia Ribeiro aponta as armas para o sistema, que não dá resposta a pessoas com doenças de foro psicológico. “A minha mãe tem diagnóstico, era o sistema funcionar melhor para todas as pessoas que têm sérios problemas psicológicos e mentais. Eu tenho 40 anos e desde que me conheço como gente que estou a tentar ajudá-la, sem respostas. Eu não posso colocá-la em lado nenhum contra a vontade dela, quem pode fazê-lo…. continuamos a aguardar respostas.”

Foi durante a viagem que fez a Nova Iorque, em abril, que Sofia Ribeiro foi confrontada com as notícias de que a mãe tinha voltado a viver na rua e que a atriz não a ajudava. Aos jornalistas, a estrela da SIC, explica como se sentiu. “Foi a primeira vez que falei sobre o tema, num momento de exaustão e de um sentimento grande de injustiça, porque as pessoas não sabem o que passa na vida dos outros e julgam. Eu vou numa viagem porque estava mesmo num momento de muito cansaço, a precisar de estar um pouco comigo e de repente saem aquelas notícias, que me magoaram. Em bom rigor eu não devo justificações a ninguém, mas… Estou a gerir o melhor que posso e sei e consigo, com as ferramentas que tenho. E às pessoas que julgam, só gostava de as ver a fazer melhor”, atira a atriz.

Sofia revela que o “fardo” é grande, e que todos os dias recebe mensagens de pessoas a dizerem para seguir a sua vida e “saltar fora”, “mas não é fácil”, como diz. “Eu vou descansar no dia em que a minha mãe tiver paz. Ela terá paz quando tiver as condições necessária, mas infelizmente não depende de mim, mas do nosso sistema que infelizmente não olha para as pessoas com os problemas da minha mãe.”

“A prioridade passam a ser elas”

Sofia Ribeiro decidiu adotar as duas sobrinhas há dois anos, filhas da irmã Tânia, devido à vida familiar frágil das meninas e de problemas com a justiça. A atriz assume que têm sido anos muito desafiantes. “A prioridade passam a ser elas, eu tento encaixar-me no meio disto tudo, não perdendo a minha autonomia e a Sofia. Não é uma logística fácil, eu fui tia/mãe há dois anos. Foram dois anos muito, muito desafiantes a todos os níveis. Acho que estou a pagar um bocadinho a conta, agora, nesta fase de ter chegado a tudo e de ter gerido tudo sozinha. Eu agora sinto-me um pouco mais cansada do que me sentia antes”, explica a atriz, que virou a vida toda do avesso. Recorde-se que Sofia Ribeiro tem as sobrinhas e a mãe a viver consigo. “Estamos a falar de pessoas em pré-adolescência, com todo o historial que têm. É muito desafiador. Se fosse só isso, que já seria o suficiente, mas não é, como sabemos. Estou numa fase de aprendizagem, a lidar com todo este momento novo.”

A atriz assume que se foi abaixo e que a terapia que faz há cerca de 15 anos tem sido um ajuda preciosa para conseguir manter a cabeça fora de água. “Como se lida com a tristeza? Aceitando e conviver com ela, perceber o que quer dizer, de onde vem, o que a provoca. Como a posso gerir? Faço terapia há muitos anos. Faço por fases, houve um período muito grande que fazia semanalmente, depois parámos um bocadinho, retomamos, semana, sim, semana não. Vamos gerindo à medida que sentimos que é necessária. Tem sido importantíssima a psicanálise na minha vida. Não resolve os problemas, mas dá-nos ferramentas para lidar”, partilha.

Com o verão à porta, Sofia Ribeiro revela que as meninas já têm a sua vida organizada. “Há os clubes de férias e elas adoram. Há pessoas com quem elas querem ir de férias, que nos são queridas e a família não é só a de sangue, também são os nossos amigos, às vezes até mais família do que a nossa família. Eu vou gerindo o nosso tempo de qualidade com a agenda delas”, acrescenta. Sofia Ribeiro garante que está solteira, mas que não está fechada ao amor. “Mas eu tenho tempo para mais alguma coisa? Estou recetiva, mas eu passo a vida em logística ou a trabalhar, só se me cair do teto”, ri-se.

Texto: Ana Lúcia Sousa (ana.lucia.sousa@worldimpalanet.com) Fotos: Reprodução Instagram