Quem os veja em palco, seja no Coliseu, no Campo Pequeno ou noutra consagrada sala de espetáculos do país, não adivinha que as artes não são a careira em que estes jovens apostam. Mas aqueles que se dispõem a cantar, dançar ou encenar momentos com grande qualidade numa noite que sempre arranca gargalhadas e ovações ao público são os mesmos que, daí a umas semanas, estarão a zelar pela nossa saúde.

A Noite da Medicina está de volta, já na sua 95.ª edição, e desta vez as receitas dos bilhetes vendidos vão ser direcionadas para a Associação Casa Nova, que se dedica a acolher crianças e jovens em situação de risco. Aquele que é o maior e mais antigo espetáculo académico do país materializa-se num projeto solidário e sem fins lucrativos, organizado e desempenhado em cada momento pelos finalistas do curso de Medicina da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL), sempre com a finalidade de dar as boas vindas aos que arrancam nesta aventura e marcar o final de um percurso de 6 anos de grande exigência na licenciatura e em simultâneo ajudar uma associação ou IPSS.

"Não é apenas uma noite, é A noite! A noite das tradições, das emoções fortes, da nostalgia e da sátira, a noite que celebra a Medicina através da Arte, a noite dos que dizem olá e dos que dizem até já", resumem os organizadores. Com uma audiência que ronda as 3000 pessoas, cerca de 400 estudantes voltam a subir ao palco e, numa sátira por eles recriada, revivem o seu quotidiano académico, as inquietações e paixões que marcaram os seus dias de curso.

Para garantir que os valores levantados fazem a diferença, a Comissão de Honra, que organiza o evento, tem ainda a decorrer uma campanha de crowdfunding para viabilizar a execução de figurinos e adereços para dar vida ao projeto e assim assegurar que os fundos recolhidos com a casa sempre cheia constituem um levantamento importante para a associação que beneficia da solidariedade dos alunos de Medicina. O que encontra um sentido maior "numa altura em que o estado do SNS ocupa um papel central no espaço mediático português".

A tradição remonta a 5 de fevereiro de 1929, quando a então Associação de Estudantes de Medicina de Lisboa do curso de 1924/29 levou ao Politeama um teatro de revista com o título O Que Arde… Cura!. Quase um século passado, o espetáculo consiste em atuações de teatro, dança e música, mas também sketches e vídeos realizados pelos alunos do 2.º ao 6.º ano, que satirizaram o dia-a-dia dos estudantes de Medicina.

Mas há aqui também um lado pedagógico, assumem os estudantes. O espetáculo que há 95 anos é organizado pelos alunos de Medicina "é também o principal responsável por fazer mudar aquilo que está mal e fazer a FMUL cada vez melhor, ano após ano".