
Durante a primeira semana de março, o Pátio da Galé, em Lisboa, acolheu a 64.ª edição da ModaLisboa. Para além dos desfiles de criadores bem conhecidos, como Luís Carvalho ou Gonçalo Peixoto, na tarde de dia 8, sábado, os designers recém-formados do Istituto Europeo di Design, em Itália e Espanha, tiveram a oportunidade de dar a conhecer as suas primeiras coleções num desfile intitulado 'Nostalgia for the Future'.
Foi ao som de 'Eclipse', de Lorenzo Valleriani, que os designers apresentaram as suas propostas - onde exploram diferentes temáticas, da memória e imaginação à tradição e vanguarda. O alinhamento foi composto por Adele Domini (23 anos); Alexia Sedda (27 anos); Gaizka Albizu (24 anos); Leonardo Fizialetti (23 anos); Letizia Lucchini (23 anos); e Rat Borrell (23 anos).
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O Lifestyle ao Minuto aproveitou a ocasião para conversar com alguns dos designers sobre as preocupações dos jovens criadores e o futuro da moda.
Como surgiu a vontade de ser designer?
Adele Domini conta que tudo começou quando ainda era criança e aprendeu a coser. Rapidamente conseguiu perceber que a moda era a melhor forma de "expressar a criatividade", porque combina "manualidade com o coração".
"Sempre gostei de desenhar e de fazer coisas", revela Gaizka Albizu. É apaixonado por arte e na moda encontrou "uma forma interessante de trabalhar o corpo e o ser humano e não apenas com um objeto". Para Rat Borrell, a ambição surgiu da vontade de "criar e experimentar coisas novas". O facto de gostar de contar histórias também ajudou, claro.
Quando se fala de inspirações, Domini menciona Issey Miyake, designer japonês, e Albizu fala da estética dos anos 90, assim como de designers que marcaram a época - como Alexander McQueen e John Galliano, uma referência até aos dias de hoje. Já Borrell faz referência a várias marcas, como a Balenciaga, pela forma como usam os volumes, e a Gucci, pelo uso das cores.
Da esquerda para a direita: Letizia Lucchini; Gaizka Albizu; Adele Domini; Alexia Sedda; Rat Borrell; Leonardo Fizialetti.© Istituto Europeo di Design
Que tipo de mensagens podem (ou devem) os designers transmitir através das suas criações?
Gaizka Albizu prefere deixar que cada um interprete à sua maneira. "Não gosto de dizer às pessoas no devem pensar ou o que devem sentir", acrescenta.
Hoje em dia, a maioria das pessoas pensa apenas na estética, diz Adele Domini, reforçando que "a moda deve ter uma mensagem e não apenas estética". Já Rat Borrell encara as coisas de uma forma mais tranquila e incentiva a dar 'asas à imaginação'. Garante que "as pessoas vão gostar se fizermos o que sentimos".
Com que se preocupam os jovens designers? Quais são as maiores dificuldades?
É impossível negar que o defeito mais apontado à indústria da moda é o facto de ser uma das que mais desperdiça recursos, algo em grande parte relacionado com o ciclo de vida curto das roupas, e característico das marcas de 'fast fashion'.
Trata-se de algo que os próprios designers mencionam e, por exemplo, Adele Domini acredita que este aspeto da indústria "pode ser alterado e melhorado". Gaizka Albizu alerta para o consumismo desenfreado dos dias de hoje e diz que "as pessoas deviam consumir menos e ser mais ponderadas". Lembra ainda que pode ser "muito difícil resolver as coisas através da moda".
Já quando se fala em dificuldades, Domini realça o facto de o mundo da moda ser "muito fechado", e explica ainda que pode ser difícil para um jovem designer fazer frente às grandes marcas de 'fast fashion' - uma preocupação também manifestada por Borrell. Albizu realçou igualmente as dificuldades de acesso e diz que "existem muitos obstáculos para ultrapassar".
Como será o futuro?
Também perguntámos aos jovens designers quais são as ambições para o futuro. Adele Domini quer criar a sua própria marca, mas, antes disso, ganhar alguma experiência. Gaizka Albizu quer sobretudo continuar a trabalhar na área da moda. Já Rat Borrell está a planear continuar a estudar para eventualmente se conseguir focar em combinar duas áreas que adora: moda e audiovisual.
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