Várias investigações científicas já comprovaram a eficácia de diferentes micróbios na desintegração de plásticos, apresentando-se como possíveis soluções para ajudar na problemática ambiental.

Agora, investigadores da Universidade de Edimburgo descobriram que a Escherichia coli, uma bactéria comum e geralmente inofensiva, consegue fazer algo único: converter resíduos de plástico de garrafas de água ou recipientes de comida em paracetamol, noticia o jornal ABC.

O estudo publicado esta segunda-feira, 23 de junho, na Nature Chemistry, concluiu ainda que este método não gera praticamente nenhuma emissão de carbono e é mais sustentável do que a atual forma de fabrico do medicamento.

Tradicionalmente, o paracetamol é fabricado a partir de reservas de combustíveis fósseis, como petróleo, cada vez mais escassas, contribuindo para as alterações climáticas. De acordo com especialistas, citados pelo referido jornal, são necessárias milhares de toneladas de combustíveis fósseis para produzir o paracetamol e outros medicamentos e produtos químicos.

A conversão feita pela E. coli pode ainda ajudar na redução de lixo, uma vez que envolve a reutilização do plástico politereftalato de etileno (PET), que se encontra em muitos produtos de uso diário, e que gera mais de 350 milhões de toneladas de resíduos por ano.

Os autores do estudo descobriram que um tipo de reação química chamada 'rearranjo de Lossen' pode ocorrer em células vivas, catalisada pelo fosfato da E. coli. Esta reação química produz um tipo de composto orgânico que contém azoto, essencial para o metabolismo celular.

Os cientistas modificaram a bactéria em laboratório para transformar uma molécula derivada do PET, conhecida como ácido tereftálico, no ingrediente ativo do paracetamol. Para este método, foi utilizado um processo de fermentação, semelhante ao utilizado na produção de cerveja, para acelerar a conversão de resíduos industriais de PET em paracetamol em menos de 24 horas.

Apesar desta técnica não ter praticamente gerado emissões de carbono, e apresentar-se como uma forma sustentável de produzir paracetamol, o estudo indica que é necessário um maior desenvolvimento antes de poder ser produzido comercialmente.

"Este trabalho mostra que o plástico PET não é apenas um resíduo ou um material destinado a tornar-se mais plástico, mas pode ser transformado por microrganismos em novos produtos valiosos, incluindo aqueles com potencial para tratar doenças", afirmou Stephen Wallace, autor principal do estudo, citado pela referida publicação.