
Um bebé nasceu esta quinta-feira na via rápida IC21, no Barreiro, num veículo em movimento, numa situação limite que expôs, mais uma vez, as fragilidades da rede hospitalar na Margem Sul. A grávida, de 33 anos e com 37 semanas de gestação, seguia com o marido e a mãe em direção ao Hospital Garcia de Orta, em Almada, após encontrar encerrada a urgência de obstetrícia do Hospital do Barreiro. O parto acabou por acontecer sem qualquer apoio clínico, com o recém-nascido a vir ao mundo com o apoio da própria família.
O Correio da Manhã desta quinta-feira avança que o INEM adiantou que a primeira chamada de emergência foi registada às 17h14 pelo Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU), após contacto da família a solicitar auxílio. No entanto, houve dificuldades na comunicação e recusa dos contactantes em colaborar com a triagem, terminando a chamada abruptamente e indicando que seguiriam para o hospital pelos próprios meios.
Cerca de 15 minutos depois, uma nova chamada informava que o bebé já tinha nascido no veículo. Perante a urgência da situação, o CODU mobilizou de imediato uma Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER) e uma ambulância para o local.
Os Bombeiros Voluntários do Barreiro foram acionados pelas 17h49, tendo chegado rapidamente à via rápida onde se encontrava a família. A equipa prestou os primeiros cuidados clínicos à mãe e ao recém-nascido, tendo transmitido o quadro clínico ao CODU pelas 18h13. Posteriormente, mãe e filho foram transportados com segurança para o Hospital Garcia de Orta, em Almada, onde deram entrada para acompanhamento médico.
O comandante dos Bombeiros Voluntários do Barreiro, José Figueiredo, confirmou a intervenção e o transporte da família, sublinhando a prontidão das equipas de socorro, como avançou ao CM. Ainda assim, o caso levanta questões sérias sobre o impacto do encerramento da urgência obstétrica do Barreiro, que obriga gestantes a deslocações de risco e sem garantias de apoio médico imediato.
O INEM divulgou ao mesmo jornal que “não houve colaboração por parte dos contactantes para realização da triagem”, tendo sido impossível garantir apoio atempado na fase inicial. A instituição confirmou ainda que só após a segunda chamada foi possível mobilizar os meios de socorro para o local.
Este episódio dramático vem reacender a polémica sobre a insuficiência de serviços de saúde obstétrica no distrito de Setúbal, uma realidade que tem vindo a agravar-se que expõe famílias a perigos evitáveis. O encerramento temporário da urgência do Hospital do Barreiro — já recorrente — obriga mulheres grávidas a deslocações de dezenas de quilómetros, numa fase crítica da gravidez.
A mãe e o recém-nascido encontram-se bem, mas a situação poderia ter tido outro desfecho sem a rápida ação da família e dos meios de socorro.