A presença de grupos extremistas de ideologia neonazi em Portugal voltou a merecer atenção especial no Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) 2024, que sinaliza a existência de movimentos ativos, com potencial para desencadear ações violentas e coordenadas, nomeadamente mediante plataformas digitais.

As autoridades confirmam a existência de indivíduos e redes que professam doutrinas de supremacia racial, com ligações a grupos organizados internacionais e ligações ideológicas a correntes de extrema-direita que proliferam no espaço europeu. O relatório sublinha que estes grupos, embora ainda minoritários em número, têm ganho visibilidade e capacidade de mobilização, com destaque para o recrutamento, ‘online’, concertação de ações e partilha de propaganda racista, xenófoba e antissemita.

Em 2024 foram identificadas novas células e ligações transnacionais, especialmente com base em investigações conduzidas pela Polícia Judiciária e por estruturas especializadas no combate ao extremismo violento, incluindo o SIS e o SEF. Os serviços de segurança sublinham que a vigilância está reforçada, sobretudo em fóruns digitais fechados e redes de comunicação cifrada onde circula material de doutrinação e apelo à violência.

O RASI alerta ainda para a utilização crescente de simbologia nazi, incitação à violência contra minorias, negação do Holocausto e apologia de regimes totalitários, frequentemente associados a crimes de ódio. Há casos documentados de vandalismo de locais de culto e profanações de cemitérios, bem como agressões físicas a cidadãos estrangeiros e elementos de comunidades LGBTQIA+.

Entre os grupos referenciados encontram-se organizações com discurso explícito contra a Constituição da República e os princípios democráticos, o que levou a vigilância intensiva por parte do Ministério Público e da Unidade Nacional de Contraterrorismo da PJ. O relatório sublinha que a disseminação de conteúdo extremista está, em muitos casos, associada à radicalização de jovens e à delinquência grupal com base ideológica, fator agravante segundo o Código Penal.

O RASI 2024 assinala ainda que a radicalização violenta em Portugal é acompanhada de perto pelas autoridades internacionais, especialmente no contexto da cooperação com a Interpol, Europol e estruturas da União Europeia, tendo Portugal participado em ações conjuntas para desmantelar redes de propaganda neonazi na Europa Central e do Norte.

As autoridades reforçam que a prevenção do extremismo começa nas escolas e nas famílias, sublinhando a importância dos programas de sensibilização, literacia digital e intervenção precoce em jovens em risco. O relatório aponta como prioridade para 2025 o reforço da formação especializada das forças de segurança para detetar sinais de radicalização, quer ‘online’, quer em contextos sociais e escolares.