
A crise ambiental global ameaça mais de 500 espécies de aves com extinção até ao final do século XXI, segundo um estudo publicado esta segunda-feira na conceituada revista Nature Ecology & Evolution. A investigação, conduzida por cientistas da Universidade de Reading, no Reino Unido, revela números alarmantes que triplicam todas as extinções registadas desde o ano 1500.
A análise, baseada em dados da Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), examinou quase 10 mil espécies de aves. As conclusões são claras: as alterações climáticas, a caça e a destruição de ‘habitats’ empurram centenas de espécies para o colapso ecológico.
Espécies emblemáticas como o pássaro-guarda-chuva-de-pescoço-pelado, o calau-de-capacete e o pássaro-sol-de-barriga-amarela estão entre as mais ameaçadas. A sua perda significaria não apenas a extinção de aves raras, mas também a diminuição drástica da diversidade de formas e funções nos ecossistemas, prejudicando a polinização, dispersão de sementes e controlo de pragas — tarefas que muitas destas aves desempenham.
“Muitas destas espécies já estão tão ameaçadas que reduzir os impactos humanos, não será suficiente. Precisam urgentemente de programas de recuperação, reprodução em cativeiro e restauração de ‘habitats’”, alerta Kerry Stewart, autora principal do estudo.
Mesmo com medidas rigorosas de proteção contra a ação humana, os investigadores estimam que cerca de 250 espécies não sobreviverão sem planos de conservação adicionais. Já com intervenções mais alargadas, que envolvam ações coordenadas para travar a caça, proteger habitats e prevenir mortes acidentais, o cenário poderá ser parcialmente revertido.
Manuela Gonzalez-Suarez, coautora do estudo, sublinha que salvar apenas 100 das aves mais raras poderá preservar quase 70% da diversidade funcional prevista para se perder, mantendo assim a resiliência dos ecossistemas e a saúde ambiental.
Os cientistas deixam um apelo claro à ação global: “Enfrentamos uma crise de extinção de aves sem precedentes. Precisamos de decisões imediatas e corajosas para proteger estas espécies e os serviços ecológicos vitais que proporcionam”.
O estudo fornece ainda recomendações concretas, indicando quais as medidas mais eficazes para travar esta extinção silenciosa. As aves de maior porte, vulneráveis à caça e às alterações climáticas, e as espécies com asas largas, particularmente afetadas pela fragmentação do habitat, são prioridades absolutas para os programas de conservação.
Este alerta científico surge numa altura em que os efeitos das alterações climáticas fazem-se sentir com mais intensidade e frequência, desde fenómenos extremos até perdas irreversíveis de biodiversidade. A comunidade científica volta a pedir uma resposta política e global robusta, sob pena de comprometer o equilíbrio de ecossistemas inteiros e, com eles, o futuro ambiental do planeta.