Uma exposição dedicada a Rogério Ribeiro (1930-2008) com 250 obras do artista plástico, um dos maiores protagonistas do neorrealismo visual português, é inaugurada sábado, às 16:00, no Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira.

Intitulada “Fazer crescer a vida – Rogério Ribeiro e o neorrealismo”, a mostra, de entrada gratuita, tem curadoria de David Santos, estendendo-se pelos pisos 1 e 2 do museu, com peças de pintura, desenho, gravura e cerâmica de Rogério Ribeiro, abrangendo diversas fases do seu percurso artístico.

A seleção de obras do autor, segundo um comunicado do museu, “evidencia a importância do trabalho de Rogério Ribeiro na consolidação de uma linguagem estética e política profundamente ligada à realidade portuguesa do século XX”, numa altura em que o país viveu em ditadura.

As obras que compõem o percurso expositivo revelam “um compromisso constante com o valor da vida e do humanismo, traduzido numa expressão sensível e politicamente consciente da realidade” que Rogério Ribeiro presenciou numa ditadura, envolvendo-se muito cedo em ações de protesto, frequentando o ateliê de Júlio Pomar, de outros artistas e intelectuais ligados ao neorrealismo, o que influenciou a sua opção por uma arte figurativa e socialmente comprometida.

No texto, o curador sublinha que Rogério Ribeiro deixou “um exercício artístico indissociável das formas narrativas e simbólicas do neorrealismo, reinterpretando, nas suas fases mais tardias, muitos dos elementos temáticos, ideológicos e contemplativos desse realismo original”.

A exposição convida, por isso, à leitura de um legado que se prolonga além do seu tempo histórico, “onde o gesto criativo nunca se desliga da experiência humana”, acrescenta.

Neste artista, a prática do desenho e da pintura surge, assim, como uma ferramenta de intervenção e reflexão, “desocultando a força social da arte num diálogo direto com as transformações vividas pelo povo português”, salienta a curadoria.

David Santos sublinha ainda a permanência do impacto da obra de Rogério Ribeiro: “O resultado desse desígnio mantém-se ainda hoje na força de testemunho, no assombro do real que as cores e as formas da arte alcançam quando nos lembram o rosto de um povo.”

A exposição propõe um encontro entre a história, a estética e a ética da criação artística de Rogério Ribeiro, nascido em Estremoz em 1930, que iniciou a formação na Escola António Arroio e prosseguiu na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa (ESBAL).

A sua ligação ao real manifestou-se através de temáticas inspiradas na vida rural alentejana e nas vivências marítimas da Póvoa de Varzim, onde cumpriu o serviço militar.

Essa preocupação com o quotidiano e com a figura humana revelou-se também nas ilustrações que fez para obras de Fernando Namora e Alves Redol, culminando na sua primeira exposição individual, em 1955, com desenhos, gravuras e ilustrações.

Nos anos seguintes, expandiu a sua prática artística à cerâmica, gravura e tapeçaria, com obras públicas de destaque como os painéis para a Escola do Alto dos Moinhos e a Estação Avenida, em Lisboa.

Foi um dos fundadores da Cooperativa de Gravadores Portugueses – Gravura, em 1956, contribuindo para a dinamização da gravura contemporânea em Portugal, e desenvolvendo uma linguagem própria, “enraizada na observação do real e na busca por um discurso plástico ético e comprometido”.