
Foi com estupefação e um profundo sentimento de injustiça que assistimos todos e principalmente muitos montijenses ao desfecho da última reunião da Câmara Municipal do Montijo, quando uma proposta para atribuição da Medalha de Ouro do concelho ao Professor Francisco Santos foi chumbada, não por falta de mérito, mas apenas por falta de unanimidade.
Uma decisão que ficará gravada na memória coletiva do Montijo como um lamentável episódio de mesquinhez política, protagonizado por quem, manifestamente, não esteve à altura do momento.
José Francisco dos Santos, natural de Portimão, mas residente no Montijo desde 1963, é uma figura maior da educação e da vida pública montijense. Engenheiro Técnico de Máquinas, licenciado em Administração e Gestão Escolar, dedicou uma vida inteira ao ensino, ao progresso da comunidade e à defesa do bem comum.
Professor do Ensino Secundário desde 1963, foi Diretor de Cursos Industriais e Noturnos, orientador de gerações de professores e Presidente do Conselho Diretivo da Escola Secundária Jorge Peixinho — funções onde conquistou o respeito, o prestígio e a admiração da comunidade educativa do Montijo.
Mais do que educador, Francisco Santos foi um visionário, integrando grupos de trabalho nacionais, publicando obras de referência e sendo peça-chave no estudo e criação de Centros de Formação Profissional e da própria Escola Profissional do Montijo.
O seu contributo ultrapassou largamente o âmbito da escola, tendo sido, também, autarca dedicado ao serviço público: membro da Assembleia Municipal, líder de bancada, Presidente da Junta de Freguesia do Montijo durante 15 anos e Vice-Presidente da Câmara durante mais 4. Foram 24 anos de entrega total ao município, sempre em prol dos montijenses.
Perante este percurso, custa a aceitar — para não dizer que revolta — que um só vereador, num gesto que muitos não hesitarão em classificar como pequeno e tacanho, tenha travado a unanimidade exigida para a merecidíssima atribuição da Medalha de Ouro. Ninguém compreenderá, fora do jogo partidário ou de qualquer ajuste de contas pessoal, que se negue tal distinção a alguém cujo nome é sinónimo de dedicação, competência e serviço ao Montijo.
A democracia vive do confronto de ideias, mas também do reconhecimento daquilo que é justo e evidente. Ao negar o voto favorável a esta homenagem, o vereador em causa não só desrespeitou Francisco Santos, como também ignorou a vontade e o sentimento da comunidade montijense.
Esta atitude, para além de ferir a dignidade institucional da Câmara, projeta uma imagem negativa da política local, feita de caprichos pessoais, ressentimentos e miopias partidárias.
O Montijo não se pode rever neste tipo de decisões. O Montijo sabe reconhecer os seus melhores, independentemente das cores políticas ou dos interesses do momento. E a verdade é que, hoje, quem saiu derrotado não foi apenas o Professor Francisco Santos — foi, sobretudo, o próprio vereador, que ficará associado, para sempre, a um gesto de ingratidão que os montijenses não esquecerão.
Que esta decisão fique, de facto, na memória coletiva do concelho. Mas não como uma homenagem adiada — e sim como um alerta para a urgência de uma política mais nobre, mais elevada e mais justa. Francisco Santos merece essa Medalha. E o Montijo, enquanto comunidade digna, saberá dar-lhe, mais cedo ou mais tarde, o reconhecimento que lhe foi negado por um só voto de incompreensível mesquinhez.