Mais de uma centena de concertos, colóquios, filmes, oficinas e um plano de salvaguarda e divulgação compõem o programa para assinalar os 100 anos do nascimento do guitarrista Carlos Paredes e celebrar o seu legado.

A programação, intitulada "Variações para Carlos Paredes", foi hoje apresentada no Museu do Fado, em Lisboa, com a ministra da Cultura, Dalila Rodrigues, a afirmar que o guitarrista "conseguiu unir a tradição e a modernidade, o passado e o presente de forma absolutamente singular, única". "O legado de Carlos Paredes tem um papel fundamental no que consideramos hoje serem elementos matriciais da nossa identidade", disse.

O programa de celebração do centenário do nascimento de Carlos Paredes inicia-se em fevereiro e vai estender-se pelos próximos meses, repartido em três linhas de atuação: A vertente performativa, com espetáculos, a vertente de investigação, com publicações e colóquios, e a vertente educativa, com oficinas, visitas e roteiros. Em fevereiro, mês do aniversário de Carlos Paredes (1925-2004), a programação terá três momentos inaugurais em Lisboa, mas ao grupo de trabalho que elaborou a programação foi pedida uma abrangência geográfica ampla para as celebrações. "Carlos Paredes estará presente em todo o país", sublinhou Dalila Rodrigues, acrescentando que haverá também concertos e eventos culturais em 12 países, em quatro continentes.

A abertura oficial do programa está marcada para 05 de fevereiro, em Lisboa, com a Orquestra Metropolitana de Lisboa no Teatro Municipal São Luiz, e no dia seguinte no Centro Cultural de Belém, com o espetáculo "Perpétuo", de música e dança, encenado pelo realizador Diogo Varela Silva. A 16 de fevereiro, dia em que Carlos Paredes faria 100 anos, a Aula Magna da Universidade de Lisboa acolhe um concerto com a presença de nomes como a guitarrista Luísa Amaro, a cravista Joana Bagulho, o pianista Mário Laginha e a cantora A Garota Não.

Nesta vertente performativa destaca-se ainda um concerto de Mário Laginha em Braga, uma digressão nacional dos guitarristas Norberto Lobo e Ben Chasny, uma atuação do grupo Alvorada na Exposição Mundial de Osaka 2025, no Japão, e uma série de festivais de fado pelo mundo, dedicados a Carlos Paredes, nomeadamente em Espanha, China, México, Panamá ou Argentina.

O Arquivo Nacional do Som vai desenvolver um plano para salvaguarda e preservação da obra fonográfica de Carlos Paredes, nomeadamente a recolha "de suportes de som e documentos sonoros", e a elaboração de uma discografia da obra do guitarrista, para disponibilizar 'online'. Haverá um plano de edições e reedições, pelas editoras Tradisom e Althum, nomeadamente "Carlos Paredes -- A guitarra de um povo", com uma investigação de Otávio Fonseca e com uma edição inédita de um concerto, e "Pioneirismo, genialidade e modernidade em Artur Paredes", de António Nunes, sobre o pai de Carlos Paredes, igualmente com gravações inéditas. No final do ano, estão ainda previstos dois colóquios no Museu do Fado, em Lisboa, e a exibição de vários projetos de cinema e audiovisual, nomeadamente dois documentários de Graça Castanheira e Ivan Dias.

Da vertente educativa, a 23 de maio será anunciada a plataforma digital TOCABEM, para o ensino de guitarra portuguesa e viola, em setembro estreia-se o espetáculo de teatro musical "100 Paredes", com crianças e jovens, e está prevista a criação de 'fanzines' com escolas do ensino secundário.

Para o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, o programa celebra "a imortalidade de um homem, o mestre da guitarra portuguesa. [...] Um homem que se confunde com a própria essencial da alma portuguesa". Toda a extensa programação está disponível para consulta numa página dedicada ao centenário do músico.

O programa foi elaborado por um grupo de trabalho, nomeado pelo Ministério da Cultura e coordenado por Levi Batista (executor do testamento de Carlos Paredes), do qual fizeram parte a diretora do Museu do Fado, Sara Pereira, o coordenador da equipa de instalação do Arquivo Nacional do Som, Pedro Félix, o historiador António Nunes e Filipa Alfaro (Ministério da Cultura).

Carlos Paredes na capa do EP de 1962, encabeçado por ‘Variações em Si Menor’
Carlos Paredes na capa do EP de 1962, encabeçado por ‘Variações em Si Menor’ Expresso

Carlos Paredes nasceu em Coimbra, em 16 de fevereiro de 1925, e morreu em Lisboa, em 23 de julho de 2004. Filho do guitarrista Artur Paredes, outro nome maior da guitarra portuguesa, Carlos Paredes deu continuidade a uma linha familiar de gerações de músicos, mantendo-se leal à tradição e ao estilo de origem, tocando a guitarra de Coimbra, com a afinação do fado de Coimbra. Imprimiu, porém, uma abordagem pessoal, que o levou aos principais palcos mundiais e a trabalhos conjuntos com outros grandes intérpretes, como o contrabaixista norte-americano de jazz Charlie Haden.

Carlos Paredes viveu sobretudo em Lisboa e a cidade inspirou muitas das suas composições. "Verdes Anos", uma das mais conhecidas da sua obra, foi composta para o filme homónimo de Paulo Rocha, marco do Novo Cinema português dos anos de 1960. Combatente antifascista, opôs-se à ditadura e foi preso pela PIDE, no final da década de 1950. Até à década de 1990, conciliou a guitarra com a sua atividade como administrativo no Hospital de São José, em Lisboa. Em dezembro de 1993 foi-lhe diagnosticada uma mielopatia, doença que lhe atacou a estrutura óssea e que o impediu de tocar a guitarra.