
Olhar para esta janela é entrar num mundo de fantasia onde figuras de super-heróis convivem com figuras de animais. É um ecrã duplo — quem passa na rua fica a pensar no que se passa lá dentro e quem está lá dentro, depois de abrir as portadas, fica a imaginar as aventuras que dali podem nascer.
A quadrícula desta janela, por outro lado, faz lembrar um livro de banda desenhada onde o Super-Homem encontra o universo da selva que Tarzan habitou. Todas as interpretações são possíveis e a imaginação pode navegar solta enquanto o olhar se fixa, de repente, neste horizonte urbano.
Acho fascinante passear nas ruas de uma cidade e deparar-me com surpresas como esta janela assim composta. Quando vejo e fotografo algo assim, sinto que ganhei o dia. Quando andamos de carro não vemos estes detalhes. É preciso andar a pé para fazer descobertas — as surpresas não estão escondidas, até estão à vista, como esta janela de aventuras. Mas para ver mesmo o que é evidente é preciso olhar, ter curiosidade, não andar de passo apressado, não olhar em frente e sim para todos os lados.
Há quem goste de passear nas ruas a olhar para as montras das lojas. Eu gosto de olhar para os prédios, para as suas paredes, para as portas e para as janelas. Estes super-heróis e estes animais são os guardiões de alguém que os reencontra ao chegar a casa e ao abrir as portadas da janela os vê, vigilantes, no seu horizonte. Coisas assim tornam as ruas melhores e estabelecem cumplicidades com quem passa. Esta janela é como que uma exposição de memórias partilhadas com desconhecidos. No fundo, é uma generosidade.
Estratégias de comunicação// Manuel Falcão escreve sempre à sexta-feira, no SAPO