Num contexto marcado por "crises múltiplas e interconectadas, as línguas são ferramentas de comunicação global e indispensáveis veículo de entendimento e da esperança. São também um lugar de resistência contra quem pretende disseminar o ódio, a exclusão, a violência, o extremismo, a misoginia e a discriminação", afirmou António Guterres, num registo da rádio ONU.
Quando falamos da Língua como um instrumento da paz, podemos imaginar como vai ser o ambiente de uma sala de aula, de um país neutro, onde o multiculturalismo domina, em que uma criança ucraniana e uma criança russa, que falam russo, convivem e aprendem juntas. Será que ao falar a mesma língua, podemos construir a paz? Sem dúvida que é possível e já há casos de sucesso nas escolas, pois uma boa integração nas escolas, nas línguas nacionais significa que a política de imigração está a ter sucesso.
Outro exemplo é uma das escolas profissionais de Belgrado, na Sérvia, que é frequentada por alunos com deficiências de aprendizagem, além disso tem várias crianças de várias nacionalidades e de diversas crenças. Este ano, esta escola vai assinalar o Dia Europeu das Línguas através de algumas atividades inclusivas onde os alunos vão escrever cinco palavras da sua língua - sérvio, turco, albanês, romani e utilizar as palavras indicadas para escrever uma mensagem de amizade que irão afixar no quadro, um projeto que se chama “We are all connected by the same language - the language of love” e é uma das atividades que estão a ser feitas para assinalar a importância da diversidade linguística e cultural. A ideia de usar a língua como ferramenta para a paz deve ser implantada na sociedade, transformando a sociedade para ser um agente humanizador, para conseguir demonstrar a solidariedade e compaixão através das palavras.
Francisco Cardoso Gomes de Matos, conhecido como um importante defensor da linguística da paz, escreveu numas das suas obras o pedido para reforçar o objetivo da linguística do não-matar é usar “princípios da linguística para ajudar os usuários da linguagem a evitar e prevenir atos de violência comunicativa e assassinato”. Para ele a aprendizagem de línguas é humanizante: "Vamos aprender a usar palavras que criam afeto e seu papel em fazer o bem (...)".
Citando Gitanas Nausėda, Presidente da República da Lituânia que ocupa actualmente a Presidência do Comité de Ministros do Conselho da Europa, “O Dia Europeu das Línguas é também uma celebração da democracia, da liberdade e da solidariedade. Ao compreendermo-nos melhor, seremos mais capazes de encontrar soluções comuns e de construir um futuro comum em que todos são importantes, porque todos enriquecem a Europa onde nascemos. Valorizemos este dom da diversidade linguística e cultural, não só valorizando a nossa língua materna, mas também aprendendo outras línguas!
Em toda a Europa, 700 milhões de europeus estão representados nos 46 estados membros do Conselho da Europa e todos são encorajados a descobrir mais línguas em qualquer idade, como parte ou paralelamente aos seus estudos. Isto decorre da convicção do Conselho da Europa de que a diversidade linguística é uma ferramenta para alcançar uma maior compreensão intercultural e um elemento-chave no rico património cultural do velho continente.
Podemos dar, através da promoção do plurilinguismo em toda a Europa, o primeiro passo para reduzir a violência e criar um entendimento mútuo - basta que tenhamos uma consciência interna de paz na linguagem que utilizamos no quotidiano e que as línguas sejam mesmo uma ferramenta para a paz.