Em menos de dois meses como ministro, Fernando Alexandre conseguiu o que mais de uma década de titulares da pasta da Educação, à direita e à esquerda e até com uma geringonça de extrema-esquerda montada para ajudar, não foram capazes de fazer: pôr de acordo sete sindicatos de professores e o governo no que respeita à recuperação do tempo de serviço perdido durante dezenas de anos letivos.
Sete sindicatos — se já está a perguntar-se afinal quantos sindicatos são necessários para defender os interesses de uma classe profissional, digo já, correndo o risco de estragar o final da história, que são pelo menos uma dúzia, e bem ativos — conseguiram negociar e fazer valer os interesses dos seus representados, conciliando-os com o que o ministro Fernando Alexandre, ele próprio professor, lhes levara à mesa, numa negociação feita de cedências de parte a parte. Como as negociações devem decorrer — ainda que esta começasse já com a ameaça de uma greve na semana que vem, caso as pretensões não fossem devidamente atendidas.
Apesar dos constrangimentos orçamentais costumeiros num país que não sai da cepa torta no que ao crescimento da riqueza diz respeito — nos últimos 23 anos, Portugal cresceu em média 1% ao ano, apenas 1 %, quase metade da média dos países europeus —, o governo fez o que os anteriores executivos socialistas não permitiram, mesmo com excedentes orçamentais, receitas fiscais extraordinárias e garantias de que o rumo das contas certas era firme e inabalável. Acedeu a garantir já com o arranque do novo ano letivo a devolução de 25% do tempo de serviço congelado, subindo a garantia para o dobro ao fim do primeiro ano. E assegurando patamares que os sete sindicatos consideraram aceitáveis, ainda que não se dessem por rendidos e prometessem continuar a levar à mesa do governo outras preocupações e injustiças que não consideram ter ficado resolvidas.
Ainda assim, o acordo permitia o que a falta dele não possibilitaria: que os professores finalmente vissem chegar, às carreiras e aos salários, melhores condições, recuperando a médio prazo a totalidade dos seis anos, seis meses e 23 dias reclamados. Um acordo "histórico", disseram os próprios dirigentes sindicais à saída do Ministério, que beneficiaria mais de 100 mil professores, acrescentou o ministro. Mas que ainda pode passar à história.
É que, se houve sete sindicatos a assinar a proposta do governo, a Fenprof e o Stop e outros três — a saber, a Associação Sindical de Professores Licenciados (ASPL), o Sindicato dos Educadores e Professores Licenciados pelas Escolas Superiores de Educação e Universidades (Sepleu) e a Pró-Ordem — entenderam que não era para concordar que lhes pagavam. E como tal, recusaram liminarmente aceitar fosse o que fosse, alegando "falta de vontade política" para dar melhores condições aos professores no topo de carreira ou simplesmente sublinhando o erro que é começar a negociar. Ou pior, a acordar condições que tragam melhorias, ainda que parciais — "os que assinaram o acordo, abdicaram da possibilidade da negociação suplementar", criticou a Fenprof, imune às conquistas desses sete para todos os professores, incluindo os que representam.
Não foi para isto que os sindicatos se fizeram, foi para protestar e contestar. Se começam a chegar a acordos, o que resta aos líderes sindicais? Dar aulas?
Diretora editorial