Se me querem ver bem disposto, basta largarem-me numa feira de velharias, a mirar as bancas. Uma das delícias de andar a ver o que por ali há é poder encontrar lado a lado coisas tão diversas como as que estão nesta fotografia: uma gravura de parte dos painéis de S.Vicente, uma fotografia de Marylin Monroe e uma imponente figura que evoca memórias de histórias de capa e espada.

Nestas feiras coexiste toda a espécie de objetos, dos decorativos aos utilitários, de velhos cadeados a ferramentas em desuso, passando por placas publicitárias esmaltadas e até esses objetos quase perseguidos e cada vez mais raros que são os cinzeiros publicitários.

Uma feira de velharias é um repositório de memórias abandonadas por alguém e de despojos vindos de uma casa que foi desfeita. Hoje em dia, ao lado de múltiplas variantes de estampas de O Menino da Lágrima, há LP de todos os géneros, gravadores de cassetes e gira-discos que não funcionam, louças para todos os gostos, brinquedos variados de miúdos e crescidos e maquinaria diversa. Atrás das bancas está quem vive de despachar o que foi a vida dos outros.

Por este andar, um dia destes começam a surgir por ali, em ornamentais medalhões, as credenciais oficiais de políticos deixados cair pelos partidos respetivos, desde os colecionadores de malas até governantes que criam umas empresasinhas para arredondarem o mês e precaverem o futuro. O país, ao poucos, transformou-se num bazar.

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