E se de repente nos dissessem que o fado, o género musical elevado ao estatuto de canção nacional, não surgiu no tempo dos árabes, de D. Afonso Henriques, das caravelas… mas tem afinal origens no século XVIII e em terras brasileiras?
Nos inícios do século XIX, Lisboa uma cidade em completa recomposição, após as invasões francesas, as guerras liberais, o êxodo rural e os inícios da industrialização. A tudo isto acrescia a recente independência do Brasil, colónia que, até há pouco tempo, tinha sido a sede da capital do reino.
À semelhança do que aconteceu noutras paragens nos inícios do século XIX, Lisboa estava pronta para adotar – e transformar – uma nova forma musical, à semelhança do que acontecia, por exemplo, com outras cidades portuárias como Sevilha (flamenco), Buenos Aires (tango) ou Nova Orleães (jazz).
Originalmente dançado, ou “batido”, o género começou por ser exclusivamente praticado nos bairros pobres, populares, da zona ribeirinha, foi-se disseminando junto das novos bairros operários, nas zonas das primeiras fábricas da capital, nos eixos de lazer e recreio dos retiros campestres da zona saloia, agora totalmente urbanizados.
Raramente um género musical nacional se prestou a tantas apropriações, tão generalizadas, tão díspares e contraditórias. Foi marginal, música das classes populares, subiu aos salões burgueses, foi monárquico e republicano, anarco-sindicalista e marialva. Após ter feito parte da tríade salazarista Fado, Futebol e Fátima, chegou a ter-lhe decretado o óbito, mas renasceu e é hoje património imaterial da humanidade. A música que foi cantada por prostitutas é hoje escutada nas mais prestigiadas salas de espetáculo mundiais. Neste episódio das Histórias de Lisboa contamos uma História do Fado.
No episódio de Histórias de Lisboa, Miguel Franco de Andrade conversa com o musicólogo e historiador, Rui Vieira Nery, autor da obra “Para Uma História do Fado”. Oiça aqui a entrevista
Histórias de Lisboa é um podcast semanal do jornalista da SIC Miguel Franco de Andrade com sonoplastia de Salomé Rita e genérico de Nuno Rosa e Maria Antónia Mendes.
A capa é de Tiago Pereira Santos em azulejo da cozinha do Museu da Cidade - Palácio Pimenta.
Ouça aqui as ‘Histórias de Lisboa’: