A afasia impacta a comunicação de milhões de pessoas em todo o mundo e, infelizmente, é frequentemente negligenciada na sociedade portuguesa. Trata-se de uma perturbação adquirida da comunicação, resultante do comprometimento das modalidades de linguagem, devido a uma lesão cerebral focal. Pode afetar a expressão verbal oral, a compreensão da fala, a leitura, a escrita e até o uso de gestos. Importa sublinhar que a afasia não afeta a inteligência.

A afasia mascara a competência de quem a apresenta e impacta significativamente a sua vida social, interferindo nos seus relacionamentos e atividades diárias. Afeta a inclusão social, o acesso a informação e serviços, a igualdade de direitos e o bem-estar da pessoa, bem como dos seus familiares e amigos.

A principal causa da afasia são os acidentes vasculares cerebrais (AVC), sendo que cerca de um terço dos casos de AVC resultam em afasia aguda. Outras condições, como tumores cerebrais, traumatismos crânio-encefálicos e infeções, podem estar também na sua origem. Quando surge devido a doenças neurodegenerativas, designa-se Afasia Progressiva Primária.

Em Portugal, onde o AVC é uma das principais causas de morte e incapacidade, a afasia surge como um dos maiores desafios para os pacientes e suas famílias. Muitas vezes, esta condição persiste ao longo da vida, exigindo adaptação e apoio contínuo. Compreender a afasia e as suas consequências no dia a dia é essencial para desenvolver intervenções centradas na pessoa. Estas intervenções devem responder às necessidades e objetivos individuais, promovendo mudanças significativas na vida da pessoa, mostrando-lhes que a vida é maior do que a afasia.

Neste contexto, a investigação sobre a afasia é crucial. Embora o conhecimento internacional seja essencial, não se pode assumir que as barreiras e necessidades das pessoas com afasia em Portugal sejam idênticas às de outros países. Assim, é fundamental desenvolver investigação nacional que reflita a realidade portuguesa.

O Instituto Português da Afasia (IPA) tem tido um papel central neste cenário, promovendo e apoiando a investigação nacional e o desenvolvimento de abordagens terapêuticas inovadoras. Está atualmente a desenvolver um projeto, em colaboração com a Unidade de AVC do Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, que pretende determinar a prevalência da afasia em sobreviventes de AVC ocorrido em 2023 nos concelhos de Matosinhos, Vila do Conde e Póvoa de Varzim, bem como as necessidades das pessoas com afasia e dos seus familiares relativamente aos serviços de reabilitação. O IPA também tem contribuído para a implementação de programas de intervenção que beneficiam as pessoas com afasia, os seus familiares e a sociedade. O seu trabalho tem sido essencial para aumentar a consciencialização sobre a afasia e fomentar a inclusão social das pessoas com afasia no nosso país.

Em conclusão, a investigação sobre a afasia em Portugal deve ser vista como uma necessidade urgente. O progresso científico, aliado ao compromisso de instituições como o IPA, é fundamental para garantir que as pessoas com afasia vivam com dignidade e qualidade de vida. Portugal necessita de mais investimento, conhecimento e ação para enfrentar este desafio, e o IPA deve ser reconhecido como um farol nesta jornada de mudança.