As alterações climáticas podem estar a levar os atuns mais para norte no Atlântico, com impactos potenciais na biodiversidade marinha e na gestão sustentável das pescas, indica um estudo hoje divulgado.

Publicado na revista científica "Biodiversity and Conservation", o estudo projeta "mudanças significativas na distribuição das principais espécies de atum capturadas no Oceano Atlântico, em resposta às alterações climáticas", indica um comunicado da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (Ciências ULisboa).

O estudo foi liderado por investigadores do MARE -- Centro de Ciências do Mar e do Ambiente, da Ciências ULisboa, em colaboração com o CESAM (Centro de Estudos do Ambiente e do Mar) e o Instituto de Investigaciones Marinas (CSIC, Espanha).

Usando modelos para prever como as condições ambientais podem afetar as áreas de atum no futuro, o estudo analisou três cenários de evolução do clima até final do século: um otimista, em que há um aumento médio da temperatura global de 2 °C (dois graus celsius), um intermédio, com aumentos entre +3,5 °C e +4 °C, e um severo em que a temperatura poderá subir mais de +5 °C.

As conclusões apontam para que as regiões equatoriais deixem de ser adequadas para os atuns como até agora, com as zonas temperadas a ganharem terreno.

"Esta tendência poderá afetar áreas de desova e zonas tradicionais de pesca, com potenciais implicações ecológicas e socioeconómicas, sobretudo para comunidades dependentes da pesca destas espécies em países tropicais", diz-se no comunicado.

Citando os autores, acrescenta-se que esse padrão representa "um risco de redução drástica da área de ocorrência", ou mesmo "extinção local dos atuns em regiões equatoriais".

E acrescenta a investigação que esta mudança na distribuição dos atuns para latitudes mais altas pode começar já em 2030, "acompanhada por fortes perdas de habitat nas zonas tropicais".

Os autores do documento notam que o atum é dos produtos do mar mais procurados para consumo humano e dizem que estas mudanças podem afetar a disponibilidade e a oferta no mercado.

"Este tipo de projeções é essencial para antecipar mudanças e apoiar a gestão adaptativa das pescas", explica Priscila Silva, investigadora do MARE-ULisboa/ARNET e primeira autora do estudo, citada no comunicado.

Francisco Borges, também autor do estudo e investigador do MARE-ULisboa/ARNET, acrescenta: "Os resultados mostram que a distribuição dos atuns pode mudar substancialmente nas próximas décadas, o que levanta desafios importantes para a gestão das pescas. Integrar cenários climáticos na tomada de decisão poderá ser fundamental para garantir a resiliência dos ecossistemas marinhos e das comunidades que deles dependem".

A investigação evidencia a importância da temperatura de superfície do oceano, do oxigénio dissolvido e da salinidade como os principais fatores ambientais que vão influenciar a distribuição futura dos atuns.

A Ciências ULisboa acolhe 13 centros de investigação.

O MARE- Centro de Ciências do Mar e do Ambiente é um centro de investigação criado em 2015 e que integra oito Unidades Regionais de Investigação.

O ARNET -- Rede de Investigação Aquática, é um Laboratório Associado multi-institucional que investiga nas áreas das ciências biológicas e ambientais.

Em 2022, as capturas mundiais de atuns ultrapassaram 8,3 milhões de toneladas, o valor mais alto alguma vez registado, com as principais espécies comerciais a representarem cerca de 60% dessa produção.