No tempo atual, depois da independência obtida em 2002, Timor-Leste tenta um novo padrão de desenvolvimento turístico, mais sustentável mas também, sobretudo, com o foco noutras áreas: a unidade nacional, o desenvolvimento económico, a divulgação da cultura, a eliminação da pobreza, o desenvolvimento tecnológico e muito mais. Organizaram-se diversas conferências e propagandas para mostrar o país ao mundo.
Uma das pessoas que continua a desenvolver este tema é José Ramos-Horta, ex-presidente da República de Timor-Leste, um dos laureados com o Nobel da Paz em 1998 e também um dos mais entendidos nesta área do turismo. Falámos com esta personalidade determinante na história de Timor-Leste e percebemos o seu esforço durante o período da presidência até aos dias de hoje. Ao SAPO explicou que foram décadas a lidar com temas internacionais mas também "décadas a viver nos EUA, percorrer a Europa e todo o mundo e observando com olhos de ver, estudando".
"Tenho feito muitas coisas na tentativa de promover Timor-Leste como um destino turístico. Fiz isto durante a minha presidência através de muitas iniciativas", recorda José Ramos-Horta, que exerceu a presidência do país de 20 de maio de 2007 a 20 de maio de 2012. As iniciativas importantes que promoveu durante este período foram o Tour de Timor, a Dili International Marathon, o Timor-Leste's First Ramelau Music Festival e lançou um Concurso de Fotografia Subaquática para promover, nas suas palavras, o “turismo da paz” e mostrar a unidade do país. Recentemente esteve envolvido na realização do Dili International Film Festival.
Timor-Leste faz parte do triângulo de coral, que inclui também as águas da Indonésia, Malásia, Filipinas, Papua Nova Guiné e as Ilhas Salomão. Por isso, Ramos-Horta pretende também promover o turismo marítimo.
Ramos-Horta trabalhou com a Organização Não Governamental Conservation International, que começou a atuar em Timor-Leste em 2009. Três anos depois, esta ONG realizou um estudo que concluiu existir mais riqueza da biodiversidade marinha nas águas timorenses, nomeadamente nas ilha de Ataúro e de Jaco, do que na ilha de Raja Ampat, na Indonésia. Naquelas duas ilhas existem, segundo Ramos-Horta, mais de 600 espécies marinhas.
Nos últimos 10 anos os agentes políticos e económicos não apostaram muito no turismo, alertou. Com algumas críticas aos políticos por não quererem, nas suas palavras, realizar "corridas de bicicletas" e também aos governos anteriores e ao atual Governo, Ramos-Horta nota que ainda existe muita falta de apoio nesta área. A sociedade civil timorense está a começar aderir à campanha que foi lançada em setembro, #hauniatimorleste, uma iniciativa que pretende mostrar a ideia de amor ao país, através do turismo e do orgulho nacional, mostrando os locais, os costumes, as tradições e os destinos mais ou menos conhecidos, mas "os timorenses precisam de formação na área da hotelaria, como receber as pessoas, isto porque ainda temos carência de infraestruturas", frisou.
Quando tocámos no tema "turismo religioso", Ramos-Horta insistiu que esta pode ser uma chave para atrair turistas porque Timor-Leste está rodeado por países como a "Indonésia, Malásia, Brunei, Singapura, Coreia do Sul e Japão, que têm minorias fiéis católicas, por isso pode aproveitar para fazer propaganda e assim realçar este valor religioso que possui".
José Ramos-Horta confessa que pretende levar consigo, nas próximas viagens que fizer, as fotografias que tirou, “para mostrar aos meus amigos que têm agências internacionais de turismo". Portugal vai ser o primeiro país que ele pretende visitar assim que esta pandemia termine. O ex-Presidente da República timorense alertou que a economia timorense vai sentir um grande impacto negativo, naturalmente afetando o turismo, devido à pandemia que está a assolar o mundo inteiro.
O "turismo comercial" no passado da ilha de Timor
A ilha está presente no Negarakertagama, uma obra cortesã, elaborada em 1365 durante o império javanês de Majapahit, com o objetivo de glorificar o rei Hayam Wuruk (1334- 1389). No seu canto 14, ao fazer referência às ilhas e reinos vassalos de Majapahit que se localizavam a leste de Java, consta o nome de Timor. A ilha também está amplamente incluída na literatura javanesa antiga e na rede de comércio chinesa e indiana do século XIV como exportadora de sândalo aromático, sendo referida igualmente nos versos de Luís de Camões, na sua obra mais conhecida Os Lusíadas, «Ali também Timor, que o lenho manda/ Sândalo, salutífero e cheiroso.» (Canto X).
A Suma Oriental de Tomé Pires, redigida em Malaca pouco depois da conquista portuguesa, reporta a abundância de sândalo que afluía à cidade e faz eco dos dados que circulavam nos meios mercantis acerca do assunto. A menção de duas ilhas com o nome de Timor diz respeito, possivelmente, à ilha em si e a Sumba, onde também existia sândalo. Escreve Tomé Pires: «Todas as ilhas de Java para diante se chamam Timor, porque na linguagem da terra Timor quer dizer “levante”, como se dissessem «as ilhas de Levante» (…). As ilhas de Timor são de reis gentios. (…) Dizem os mercadores malaios que Deus criou Timor de sândalos e Banda de maças e as de Maluco de cravo, e que no mundo não é sabido outra parte em que estas mercadorias haja, somente nestas.»
Em tempos, Sophia de Mello Breyner Andresen, referindo-se à “sua” Grécia (que tanto gostava de visitar) e exprimindo uma ideia que podemos transportar para aqui, disse que talvez assim (isto é, pelos mesmos motivos) tenha começado "o turismo comercial" para os lados da Oceânia.