
Quase 1.700 espécies marinhas estão ameaçadas de extinção e, em 2024, o nível global do mar atingiu o valor mais elevado já registado, alerta um novo barómetro científico sobre a saúde dos oceanos.
Os dados constam do estudo Starfish que é apresentado hoje aos chefes de Estado e de governo que participam na Conferência dos Oceanos da ONU (UNOC3), em Nice, e que conclui que os oceanos estão em declínio, a registar recordes de temperaturas e de subida do nível do mar, com um declínio generalizado de espécies e com importantes ecossistemas ameaçados.
Segundo este primeiro barómetro global sobre a saúde dos oceanos, desenvolvido por uma equipa de especialistas de várias áreas e supervisionado pelo comité científico internacional do One Ocean Science Congress, 1.677 espécies marinhas estão ameaçadas de extinção, incluindo um terço dos tubarões e das raias, e 26% dos cetáceos estão em risco.
O documento alerta ainda que o nível global do mar aumentou 23 centímetros desde 1901 e, em 2024, atingiu o nível mais elevado alguma vez registado, enquanto a temperatura dos oceanos ultrapassou, no último ano, o recorde anterior em 0,25 graus à superfície.
Quanto à pressão das atividades humanas, o Starfish salienta que todos os indicadores estão a aumentar, apontando o exemplo das emissões provenientes do transporte marítimo, que subiram 2,7%, para 600 milhões de toneladas, representando 1,6% das emissões globais.
O barómetro, que é publicado hoje na revista State of The Planet, conclui também que a "pesca insustentável persiste a nível global", tendo em conta que 37,7% dos `stocks´ de peixe marinho foram sobre-explorados em 2021, face aos 10% de 1974, e que, em 2022, 75% das embarcações de grande porte - com mais de 15 metros - permaneceram sem monitorização.
A produção de alimentos marinhos atingiu o recorde de 115 milhões de toneladas para fazer face à procura global, com a pesca de pequena escala a contribuir com apenas 25 milhões de toneladas, mas a gerar 88% dos empregos no setor.
Os resíduos plásticos representam mais de 80% dos detritos aquáticos, com 75 a 199 milhões de toneladas acumuladas nos rios e no oceano em 2021, realça o documento, que estima que 500 milhões de pessoas são expostas anualmente a tempestades tropicais e furacões cada vez mais recorrentes.
De acordo com o Starfish, as perdas económicas destas catástrofes naturais atingiram os 102 mil milhões de dólares em 2023 (89 mil milhões de euros), ultrapassando regularmente os 100 mil milhões de dólares por ano (87 mil milhões de euros) e aumentando 25% a cada década.
Os investigadores salientam ainda que as áreas marinhas protegidas cobrem agora 8,34% do oceano, mas uma em cada quatro existe "apenas no papel e apenas um terço está total ou altamente protegida", avisando que ainda são necessárias ações urgentes para atingir eficazmente a meta de 30 x 30 - 30% das áreas protegidas até 2030.
A terceira conferência dos oceanos realiza-se em Nice, França, a partir de hoje até 13 de junho, depois de uma primeira que decorreu em Nova Iorque e da segunda em Lisboa, e vai contar com a participação do primeiro-ministro, Luís Montenegro, e de vários ministros do seu executivo.
Vai ter como tema "acelerar a ação e mobilizar todos os intervenientes para conservar e utilizar de forma sustentável os oceanos".