
O secretário-geral do PS criticou este domingo o "espetáculo degradante" que é ver várias estruturas do Estado a empurrar responsabilidades na área da saúde e prometeu apresentar uma resposta para a coordenação da emergência hospitalar. José Luís Carneiro acusou também o Governo de manobras nas leis da nacionalidade e de estrangeiros para desviar a atenção das pessoas daquilo que deveriam ser as prioridades do país.
“Há matérias tão vitais para a vida das pessoas que estão a passar à margem da agenda política, da prioridade política do país, e, do meu ponto de vista, muitas destas manobras, infelizmente, colocam em causa o saudável funcionamento das instituições”, afirmou José Luís Carneiro.
Questionado sobre a negociação entre Chega e Governo (liderado pela AD) no que toca à lei da nacionalidade, o líder do PS considerou que há, no âmbito dessa discussão, “algumas manobras de distração para tirar a atenção das pessoas daquilo que é o essencial”.
Apesar de considerar que a lei da nacionalidade e a lei de estrangeiros podem ser melhoradas, o líder socialista vincou que essa melhoria deve ser feita “com ponderação, nomeadamente, respeitando valores constitucionais”.
Para José Luís Carneiro, o Governo, com o apoio do Chega, forçou “uma votação de urgência de uma matéria que exige consulta, nomeadamente aos tribunais superiores”. A ausência dessa consulta “significa um atropelo grave da legalidade dos procedimentos que são tomados no coração da democracia, na Assembleia da República”, disse, considerando a atuação do Governo “muito grave”. “A minha expectativa é a de que o Governo honre a palavra que deu aos portugueses e não caia nos braços de quem quer capturar a agenda política do Governo”, acrescentou.
Para o secretário-geral do PS, é fundamental que o Estado português “garanta segurança nas migrações, reguladas e seguras”, reiterando que a forma como o debate está a ser discutido e dirigido pelo Governo é uma forma de desviar atenções, ao misturar “tudo – nacionalidade, migrações e segurança”.
Carneiro critica “espetáculo degradante” e “falta grave de coordenação” no Estado
O secretário-geral do PS, que falava aos jornalistas em Lousada, no distrito do Porto, onde participou na apresentação de Nelson Oliveira como candidato à Câmara Municipal nas autárquicas de 12 de outubro, antecipou que o tema da saúde e das urgências é um dos que levará ao debate do Estado da Nação.
Para José Luís Carneiro, o que se está a passar na saúde "é a ilustração de uma falta grave de coordenação entre diferentes serviços do Estado e mostra o quão grave foi a decisão do Governo de colocar em causa uma reforma que estava em curso e que foi adotada pelo Governo do PS". "Este Governo fez uma quebra com essa reforma que estava em curso, exonerou o responsável da estrutura executiva do SNS e avançou com medidas experimentais", criticou.
"Como se vê, hoje estamos muito pior do que aquilo que estávamos quando o PS estava em funções e assistimos a um espetáculo degradante de várias estruturas do Estado a empurrarem as suas responsabilidades de uns para os outros, da defesa para a saúde, da saúde para a defesa. Falta um plano estruturado relativo às emergências hospitalares", disse José Luís Carneiro.
“A habitação é outra das prioridades, o crescimento da economia é outra das prioridades. O primeiro-ministro foi a Bruxelas comprometer-se com 2% do PIB [Produto Interno Bruto] de investimento na defesa, depois comprometer-se com 3,5%. Onde é que vamos buscar esses recursos? Qual é o plano para aplicação?”, questionou.
Governo deve reunir-se “rapidamente” com setores afetados
O secretário-geral do PS aconselhou ainda o Governo a reunir-se “o mais rapidamente possível” com os representantes dos setores que estima que venham a ser “muito afetados” pelas tarifas impostas por Washington e estude “já medidas de mitigação”. José Luís Carneiro lembrou que, quando ocorreu o Brexit no Reino Unido, foi criada “uma equipa transversal de vários ministérios, coordenados pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros”, uma dinâmica que quer ver agora adotada pelo atual Governo.
Afirmando que “os impactos da política tarifária dos Estados Unidos vão sentir-se em toda a União Europeia e também em Portugal”, José Luís Carneiro disse que “já havia uma previsão de que, com taxas de 10%, a Europa em 2025 poderia ter uma quebra na sua riqueza de cerca de 30%” e que “se calculava para 2026 que a perda de rendimento europeu podia chegar a cerca de 50%”. “O que significa que, com taxas de 30%, os impactos vão ser muito significativos. É muito importante que o Governo tenha respostas pensadas e estruturadas para responder a estes impactos, a um autêntico choque na nossa economia”, disse.