Quatro médicos do Hospital de Portimão estão a ser alvo de um inquérito interno por causa dos valores recebidos em SIGIC. Cirurgias feitas fora do horário de trabalho que custam ao hospital aproximadamente 1 milhão de euros, só na dermatologia. Um dos médicos, em apenas seis meses, recebeu 90 mil euros.

Uma médica referenciaria os casos para operação e os restantes, dois cirurgiões plásticos e um otorrinolaringologista, faziam as operações. Eram, sobretudo, remoções de sinais, procedimentos simples que seriam registados no sistema como complexos para que os envolvidos ganhassem mais dinheiro.

A denúncia enviada à SIC chegou há poucos meses à ULS do Algarve.

O SIGIC, criado para diminuir as listas de espera, paga aos médicos que aceitarem trabalhar no tempo livre, sobretudo ao sábado.

Um dos recibos de vencimento mostra como, só num mês, um dos médicos que está a ser investigado ganhou mais de 20 mil euros brutos a fazer estas operações. Noutro mês, 16 mil euros e noutro ainda quase 15 mil euros.

Os documentos consultados pela SIC indicam que, em seis meses, um médico ganhou 90 mil euros. um valor expressivo, tendo em conta que o salário base deste medico é de 3.500 euros por mês.

Antes de ser presidente da ULS do Algarve, Tiago Botelho liderava o departamento de cirurgia. Assinava, por isso, os valores do SIGIC pagos aos médicos. Diz que nunca viu qualquer indício de fraude, até porque quem atribui os códigos que definem quanto é que os médicos vão receber não são os próprios médicos que fazem os procedimentos, mas uma terceira pessoa que faz parte de uma equipa especializada de 10 elementos.

Por ano, a dermatologia da ULS do Algarve gasta quase 1 milhão de euros com cirurgias SIGIC - fora do horário de trabalho. A maior fatia vai para os dois cirurgiões da equipa e o restante para um anestesista, quatro enfermeiros e dois assistentes operacionais.

Numa região onde quase não há dermatologistas e são cirurgiões plásticos que estão a assumir o trabalho, o hospital quer saber se este é o preço a pagar e vai mandar o caso para a Justiça.

O resultado da averiguação em conjunto com a denuncia serão remetidos ao Ministério Público.

Seguem para a Justiça o conteúdo da denúncia e a própria denúncia, que teve acesso a documentos internos e confidenciais do hospital.