"Votaremos a favor da moção de rejeição [apresentada pelo PCP] do programa do Governo porque este programa de Governo não é o que Portugal precisa", sustentou Isabel Mendes Lopes, no encerramento do debate sobre o programa do XXV Governo Constitucional, que decorre no parlamento.

Isabel Mendes Lopes garantiu que o Livre será uma "oposição leal e construtiva, mas muito atenta".

A deputada salientou que o executivo "pede estabilidade numa situação em que está assente numa minoria, mas não dialoga com o parlamento".

Depois de no primeiro dia de debate ter criticado o Governo por incluir 80 medidas da oposição no seu programa para a legislatura sem consultar os partidos, Isabel Mendes Lopes salientou que "diálogo pressupõe sentarmo-nos à mesa e conversarmos".

"Fazer 'copy paste' de medidas avulsas de programas de outros partidos sem sequer falarem connosco não é diálogo. Considerar que a discussão dos investimentos em Defesa só deve ser tida com os três maiores partidos não é respeitar o parlamento e não é respeitar todos os eleitores", afirmou, numa referência a reuniões do executivo esta tarde com PS e Chega.

A deputada do Livre avisou que "se o Governo quer estabilidade, precisa de trabalhar para essa estabilidade e respeitar o parlamento".

Isabel Mendes Lopes começou por citar uma frase do programa de Governo e repetiu-a várias vezes ao longo da sua intervenção: "Este é um tempo de grande significado histórico".

"Este programa de Governo não está à altura do momento histórico que vivemos. Pelo contrário, este programa lembra um passado recente de austeridade, de desrespeito pelos pensionistas e pelos trabalhadores. Um passado onde se entendia que o país era e devia ser um país de salários baixos, sem ambição", acusou.

A líder parlamentar do Livre notou que "uma agenda transformadora" do país que "não inclui ciência, não inclui ensino superior, não inclui cultura, não aposta no conhecimento, só mostra a falta de ambição em verdadeiramente transformar Portugal" e defendeu "um novo modelo de desenvolvimento baseado no conhecimento e na ecologia, onde toda a economia sobe na escala de valor".

Isabel Mendes Lopes concordou que para resolver a pobreza estrutural "é preciso criar riqueza", como aponta o Governo, mas criticou a forma como o executivo pretende fazê-lo.

"A forma como o colocam é: primeiro crescemos e depois resolvemos os problemas. Mas não é assim. Assegurar maior justiça social, investir nas famílias, investir nas pessoas, garantir que nenhuma criança cresce em pobreza é, em si, uma medida de criação de riqueza e de aumento da produtividade e não deve ser deixado nunca para segundo plano quando se discute a melhoria económica do país", argumentou.

A deputada do Livre acusou o Governo de levar a cabo uma "política fiscal que agrava as desigualdades" e criar "o papão da imigração" para desviar as atenções "dos problemas muito reais do país", como "o caos da saúde ou os problemas na escola pública e a falta de professores".

"Estar à altura do momento histórico que vivemos é honrar a nossa história de imigração e de emigração. É tratar os imigrantes como seres humanos que se são e não ir a reboque de uma retórica e de uma prática divisionista", avisou.

Além de alertas para a crise da habitação em Portugal ou o flagelo da violência doméstica, Isabel Mendes Lopes não esqueceu a guerra na Faixa de Gaza e salientou que "esta é a altura em que os democratas têm de saber claramente de que lado estão, dentro e fora de fronteiras, e defender os direitos humanos sem hesitar".

 

ARL // ACL

Lusa/Fim