Foi preciso “muita vontade de fazer, querer fazer, lutar para fazer e alguma dose de loucura” para criar em Portugal, na década de 80 do século passado, uma empresa farmacêutica, a Tecnimede, com a ambição de produzir e internacionalizar investigação. Mas Maria do Carmo Neves e o marido fizeram-no. A Tecnimede é hoje um grupo farmacêutico 100% nacional, com fábricas em Portugal e Marrocos, presença em mais de 100 países e uma equipa de quase 900 trabalhadores. O segredo? A atual presidente do grupo diz que é “dar saltos sempre do tamanho da nossa perna”.

Licenciada em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e especialista em Pneumologia, Maria do Carmo Neves exerceu carreira no Hospital Pulido Valente, em Lisboa. Mas a paixão assumida pela investigação científica levou-a a redirecionar a sua carreira e a criar, em conjunto com o marido, também médico de profissão, a Tecnimede. Com uma carreira de mais de 40 anos na indústria farmacêutica, a atual presidente sucedeu ao marido na direção executiva da empresa familiar que liderou durante mais de duas décadas, antes de passar o testemunho a um gestor profissional. A sucessão, diz, tem de ser decidida profissionalmente, “em termos familiares temos de separar a propriedade da gestão”. E reforça: “as empresas familiares têm sucesso quando não se transformam em monarquias”.

Maria do Carmo Neves, presidente e cofundadora da Tecnimede, durante a gravação do podcast
Maria do Carmo Neves, presidente e cofundadora da Tecnimede, durante a gravação do podcast José Fonseca Fernandes

Com quatro filhos, três dos quais ligados à empresa, Maria do Carmo Neves tem da liderança das empresas familiares uma visão muito pragmática, defendendo que “temos de colocar na sucessão quem estiver melhor preparado naquele momento, seja da família ou fora dela”. Ao longo da história da empresa, primeiro como CEO e agora como presidente, Maria do Carmo Neves, teve sempre uma regra de ouro: “não somos contra que as pessoas da família trabalhem na empresa da família, desde que passem no filtro que todas as pessoas passam, nos recursos humanos”. É isso que, sublinha, "permite às empresas caminhar".

Recordando que sendo uma empresa familiar, a Tecnimede é uma espécie de “corredora de fundo”, a atual presidente recorda que, desde o início, “a ambição [da empresa] era fazer investigação e desenvolvimento e para isso tínhamos de internacionalizar”. A equipa sabia que “Portugal não tinha retorno”, por isso, aponta "fomos caminhando, muitas vezes a marcar passo e com algum desânimo porque queríamos andar rápido e não andávamos. Mas tínhamos de internacionalizar, se não internacionalizássemos íamos cair".
Com alguma dose de loucura, a Tecnimede rumou a Marrocos, onde tem hoje uma das suas fábricas. "Era um país difícil, mas com isto também fomos ganhando músculo, músculo tecnológico e músculo financeiro, e evoluindo, acrescentando valor aos produtos", recorda Maria do Carmo Neves. A ambição continua lá e nas metas da empresa está a abertura de mais fábricas, se serão em Portugal ou fora de portas, a presidente da farmacêutica diz que “não está decidido”. O que tem como certo é que "c om a dimensão e a responsabilidade que temos com as 900 quase famílias que empregamos, não dá para fazermos asneiras. Portanto, seguiremos seguros, ponderados, dando saltos de acordo com a dimensão da nossa perna".


Cátia Mateus podcast O CEO é o limite
Cátia Mateus podcast O CEO é o limite SIC Notícias

O CEO é o limite é o podcast de liderança e carreira do Expresso. Todas as semanas a jornalista Cátia Mateus mostra-lhe quem são, como começaram e o que fizeram para chegar ao topo os gestores portugueses que marcaram o passado, os que dirigem a atualidade e os que prometem moldar o futuro. Histórias inspiradoras, contadas na primeira pessoa, por quem ousa fazer acontecer. Ouça outros episódios: