O português é a língua oficial da Guiné-Bissau, mas é em crioulo que os guineenses se entendem e nas mais de 30 línguas regionais que compõem o mosaico multiétnico do país africano.

"Há dias, entrei numa escola, onde falam balanta, disse bom dia e ninguém me entendeu", ilustrou o governante, na cerimónia de abertura do primeiro Congresso Internacional do Ensino da Língua Portuguesa na Guiné-Bissau, que junta, durante três dias, especialistas e académicos de vários países lusófonos.

O ministro da Educação Nacional, Ensino Superior e Investigação Científica da Guiné-Bissau, Herry Mané, espera deste congresso orientações para valorizar a língua portuguesa num país onde "fora das escolas não chega a cinco por cento aqueles que falam entre eles o português".

O crioulo é a língua mais falada na Guiné-Bissau, que tem ainda mais de 30 línguas maternas e uma realidade multilingue diferente de outros países lusófonos, como Angola ou Cabo Verde, onde se fala mais o português, apontou o ministro guineense.

Herry Mané assegurou que o Governo está a fazer um esforço e pediu empenho aos guineenses que sabem falar português.

"Temos de começar a falar entre nós, aqueles que já têm o conhecimento básico do português, temos de começar entre nós a falar o português fora das instituições", defendeu, em declarações à Lusa.

Questões culturais, como disse, contribuem para o uso da língua portuguesa que "muitas vezes é tido como uma forma de se mostrar (vaidade), entre os guineenses, por ser considerada uma língua da elite.

As fragilidades do sistema de ensino também têm afastado o português da população, uma realidade que o Governo guineense garante estar a mudar com a reforma que está a ser feita nas escolas.

"É importantíssima" para o ensino do português, frisou o ministro, indicando que "foi nessa base que se surgiu a harmonização dos manuais escolares e tablets nas escolas primárias, permitindo que os alunos comecem a pensar em português e falar em português".

A Guiné-Bissau distribui neste ano letivo pelas escolas públicas os primeiros manuais escolares para o primeiro ciclo e o Governo está à procura de financiamento para fazer chegar às escolas privadas e avançar com a harmonização do sistema de ensino.

O ministro destaca a importância de se compreender o português para se compreenderem as matérias nas escolas e defende que é uma obrigação da Guiné-Bissau valorizar a língua oficial.

"A língua portuguesa é uma língua falada a nível do mundo, deve ser a terceira língua mais falada, fala-se o português em muitas partes do mundo, portanto é nossa obrigação começarmos também a acompanhar esse processo", afirmou.

"Tem que começar a pensar em português, raciocinar em português e falar em português. Temos que começar a perceber em português, não a transmitir em crioulo", acrescentou.

Segundo o governante, "Portugal tem um papel importantíssimo" neste processo, nomeadamente com o apoio do instituto Camões na disponibilização de professores, apoio técnico e a projetos.

Além da licenciatura em Língua Portuguesa na Unidade Tchico Té da Escola Superior de Educação, o Camões está também a financiar o mestrado de Língua Portuguesa, o primeiro da Guiné-Bissau, que arranca em setembro naquele estabelecimento de ensino.

"Portugal está a fazer a sua parte, nós temos que aproveitar esta oportunidade e pedir também aos outros países onde se fala português que nos apoiem nesse sentido", declarou o ministro.

O primeiro Congresso Internacional do Ensino da Língua Portuguesa na Guiné-Bissau decorre até quarta-feira na Unidade Tchico Té e é coorganizado por esta escola e pelo Centro de Língua Portuguesa Camões I.P e financiado pelo instituto Camões, com várias parcerias.

 

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