Em entrevista ao podcast da Antena 1, Política com Assinatura, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, acusou o PS de estar mal habituado a estar na oposição. Sobre o Chega, diz que estão mais responsáveis, mas só o tempo dirá se "é só um fogacho".

Mais de duas décadas no Governo “habituou mal o PS”, acusou o primeiro-ministro salientando que o partido liderado por José Luís Carneiro "não está habituado a estar na oposição” e, por isso, ameaçam com uma "rutura com o Governo". Por isso, Luís Montenegro recomenda ao PS “humildade democrática de saber estar na oposição”.

Nas declarações esta segunda-feira tornadas públidas, o chefe de Estado acusa o PS de “arrogância democrática” que leva os socialistas a pensarem que “ou é como nós queremos, ou isto vai tudo abaixo”.

“Nós estamos no primeiro mês da legislatura, esta semana o PS ameaçou uma rutura com o governo. Mas alguém percebe uma dramatização, uma radicalização destas no PS, até contrária à linha política que era mais expectável hoje da atual liderança? Eu próprio fico assim um bocadinho surpreso”, afirma Montenegro referindo-se ao líder socialista que ameaçou romper com a AD se o Governo não afastar o Chega.

Na visão do primeiro-ministro, este comportamento não se coaduma com aquele que esperaria de José Luís Carneiro, que prima por uma postura mais moderada face ao antecessor Pedro Nuno Santos.

Chega mais responsável? Montenegro quer ver se é "fogacho ou trajetória consistente"

Em oposição, o Chega, afirma, está a "começar a demonstrar" mais responsabilidade ainda que admita querer ver "se se mantém", se isto "é sol de pouca dura, se é apenas um fogacho ou se é uma trajetória consistente”.

Sem revelar 'preferidos' na hora de negociar as medidas que quer aprovar no Parlamento e depois de pedir ao PS "humildade democrática”, Montenegro destaca o “histórico de maior fiabilidade, de maior capacidade de diálogo democrático, de maior responsabilidade política”, procurando não hostilizar o possível parceiro de negociações.

Mas ainda sobre o Chega, diz estar "normalizado há muito tempo na vida política portuguesa", recordando alguns diplomas aprovados na passada legislatura com os votos deste partido e do PS.

"Não é uma coisa nova, quando o Chega vota com o PS é normal, quando o Chega vota com o PSD já não é normal , somos nós que o estamos a normalizar?", questionou.

Na entrevista conduzida pela jornalista Natália Carvalho, Montenegro enquadrou a afirmação que fez na semana passada de que PS e Chega são ambos "alternativas de Governo", salientando que têm "uma representação equivalente, similar".

"É assim na democracia, quem fica ofendido com isto está no fundo a ficar ofendido com a vontade do povo português, e eu isso não faço", assegurou.

Primeiro-ministro acredita na viabilização do OE2026

Montenegro disse ter "fundada expectativa que os dois maiores partidos da oposição" possam viabilizar o Orçamento do Estado para 2026 e apelou a que PS e Chega não se voltem a unir para, por exemplo, aprovar um aumento permanente das pensões.

"Foi uma linha que o ano passado se ultrapassou e que espero que seja mesmo uma exceção, porque isso coloca em causa as condições de governabilidade e é uma irresponsabilidade", assinalou, considerando que o país só tem condições financeiras para ir avaliando, anualmente, a possibilidade de um bónus pontual aos reformados, como voltará a acontecer em setembro.

Sobre as contas públicas, Montenegro defendeu que a distribuição feita pelo Governo só tem sido possível graças a uma gestão orçamental de "muito rigor" e garantiu que fará tudo para que Portugal não volte a períodos de desequilíbrio, destacando que a situação do país é considerada exemplar a nível europeu.

Homenagem a António Costa por gestão orçamental de "muito rigor"?

Questionado se tal significa uma homenagem ao ex-primeiro-ministro do PS António Costa, preferiu destacar o seu antecessor do PSD.

"É uma homenagem que presto a Pedro Passos Coelho e aos governos que, desde então, perceberam que o equilíbrio das contas públicas não é o fim da política governativa, nem financeira, e muito menos económica, mas é um pressuposto", afirmou.

Em matéria internacional, o primeiro-ministro admitiu que o Governo "não está satisfeito" com a primeira versão do Orçamento comunitário, antevendo "meses intensos de negociação", e reconheceu que as tarifas dos Estados Unidos podem ter "impactos significativos" em Portugal.

Ainda assim, defendeu ser necessário "seguir uma linha de prudência" e rejeitar "ímpetos mais precipitados", como uma retaliação imediata, preferindo uma coordenação a nível europeu.


Com Lusa