
O funeral do Papa Francisco, que morreu esta segunda-feira com 88 anos, realiza-se nos próximos nove dias. Já o Conclave, para eleger o seu sucessor, começa dentro de um mês. O velório será na Basílica de São Pedro, onde o corpo estará exposto. Será depois enterrado na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma, e não na cripta da basílica.
Para já, não há ainda data oficial para o funeral do Papa Francisco, contudo, deverá realizar-se no espaço do nove dias.
A data do funeral e do enterro será decidida pelos cardeais, que começam a chegar a Roma. Segundo uma norma estabelecida por João Paulo II, em 1996, os funerais papais devem iniciar-se entre o quarto e o sexto dias após a morte.
Até ao funeral, o corpo do Papa estará exposto, a partir de quarta-feira, na Basílica de São Pedro para que os fieis se possam despedir.
Como será o funeral? Mais simples
O funeral vai ser diferente (e mais simples) do dos anteriores pontífices, uma vez que o Sumo Pontífice aprovou a modificação e simplificação do ritual das exéquias para exprimir "melhor a fé da Igreja em Cristo Ressuscitado".
As celebrações mantêm as três etapas clássicas- a residência do Papa falecido, a Basílica de São Pedro e o local da sepultura -, contudo, a verificação da morte passa a acontecer na capela privada do Papa, em vez do quarto.
Francisco eliminou a obrigação de os papas serem enterrados nos tradicionais três caixões, de cipreste, chumbo e carvalho, optando por apenas um caixão.
O corpo deve ser depositado num caixão de madeira, com interior de zinco, antes de ser transferido para a Basílica de São Pedro.
Na basílica, onde decorrerá o velório,o corpo deverá ser exposto diretamente no caixão. Francisco pediu para que não fosse exposto no topo de uma plataforma elevada. Depois, mais uma escolha sua: será enterrado na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma, e não na cripta da Basílica de São Pedro, onde estão enterrados a maioria dos papas.
Quando será o rito de certificação da morte e deposição do corpo em urna?
O corpo do Papa será depositado numa urna ao final da tarde na capela da residência de Santa Marta, no Vaticano, onde vivia desde a sua eleição, anuncia a Santa Sé.
"Esta noite, segunda-feira 21 de abril, às 20:00 locais (19:00 em Lisboa) , a sua eminência o reverendíssimo cardeal Kevin Joseph Farrell, cardeal camerlengo da Santa Igreja Romana, presidirá ao rito de certificação da morte e à colocação do corpo na urna", acrescenta o Vaticano num comunicado.
O cardeal camerlengo é uma figura dominante em toda esta fase chamada sede vacante, o período em que não há Papa na Igreja Católica. Durante esta fase, cabe-lhe gerir o quotidiano do palácio apostólico, em que não podem ser tomadas decisões de relevo.
Kevin Farrell foi nomeado em 2019 pelo próprio Papa Francisco.
O que é o Conclave?
Os cardeais vão definir a data para o início do Conclave nos próximos dias, depois que começarem a chegar a Roma. Tradicionalmente, fazem um período de luto de 15 dias (no máximo de 20) após a morte antes de iniciarem o Conclave.
O Conclave, como é denominado o processo de escolha do novo Papa, realiza-se com o máximo secretismo. É um processo que pode durar alguns dias. O Conclave mais longo durou quase três anos (dois anos e nove meses). Começou em 1268 e terminou em 1271. O mais curto foi de apenas 24 horas (para eleger Pio XII).
Os cardeais com direito a voto - com menos de 80 anos - reúnem-se na Capela Sistina, no Vaticano, e à porta fechada, sem qualquer contacto com o exterior, elegem o novo Santo Padre. Não são permitidos telemóveis, internet nem jornais. A polícia do Vaticano usa aparelhos eletrónicos de segurança para verificar o cumprimento das regras.
O isolamento é também verificado pelo cardeal Camerlengo, que organiza e supervisiona o processo. Atualmente, a função é desempenhada por Kevin Joseph Farrell, que assume a direção da Igreja quando um Sumo Pontífice morre ou abdica do cargo.
Longe de tudo e de todos, os cardeais juram sigilo e arriscam a excomunhão se não cumprirem. Apenas podem entrar nas instalações da igreja padres para as confissões, dois médicos e pessoal da manutenção e limpeza.
Para facilitar o processo, em 1996, João Paulo II chegou a alterar as regras para que o Papa pudesse ser eleito por uma maioria simples. Porém, a decisão foi revertida por Bento XVI, que voltou a impor a regra dos dois terços (e mais um voto se o número de votantes não for divisível por três).
Os cardeais devem escrever o nome de forma a que não seja possível identificá-los e dobrar o papel duas vezes.
No fim da votação, os nomes são anunciados e os cardeais que receberam votos são chamados. Os escrutinadores furam cada papel com uma agulha, e colocam-nos num único fio. As células são queimadas, libertando um fumo, visível do lado de fora. Se for preto, quer dizer que os cardeais não chegaram a nenhuma escolha, se for branco, quer dizer que há um novo Papa.
Escolha feita, falta apenas responder à pergunta: aceita a eleição canónica como Sumo Pontifíce? Com o consentimento dado, o Papa eleito escolhe o nome pelo qual quer ser chamado.Quando foi eleito em 2013, Jorge Mario Bergoglio escolheu Francisco.
Se recusar, o processo começa novamente.
Que cardeais portugueses podem votar?
Atualmente,o colégio eleitoral conta com 252 cardeais, mas apenas 138 são elegíveis(no máximo podem ser 140) para votar no próximo conclave, uma vez que 114 têm mais de 80 anos.
O Papa Francisco terá sido responsável por 78% dos cardeais escolhidos. No final do ano passado, nomeou mais 21.
Portugal conta, atualmente, com quatro cardeais elegíveis para escolher o próximo Papa: Américo Aguiar, José Tolentino de Mendonça, Manuel Clemente e António Marto.
A eles, juntam-se mais dois que, sendo também cardeais, não podem votar. São eles José Saraiva Martins, de 93 anos, e Manuel Monteiro de Castro, de 86 anos. Chegaram a Cardeais ainda pela mão de outros Papas.
Quem pode suceder?
Conhecido pela sua preocupação com os pobres, Jorge Mario Bergoglio foi eleito Papa no dia 13 de março de 2013.
Com a morte de Francisco, surge a especulação sobre quem o irá suceder. As nomeações de cardeais - colaboradores mais próximos e com departamentos 'chave' no Vaticano e nas dioceses de todo o mundo - serão fundamentais para a escolha.
Quanto mais cardeais um Papanomear, maior a possibilidade de o seu sucessor ser alguém com opiniões semelhantes sobre questões sociais e da Igreja.
Haverá alguma expectativa de que o sucessor do pontífice não seja europeu, tal como Francisco, e que seja progressista, aposto à ala conservadora da Igreja.
Contudo, nada será certo até haver fumo branco.Para já, há apenas possíveis nomes (um deles português).
A plataforma onlineCardinalii Collegii Recensio (em português O Colégio dos Cardinais: uma resenha), que é liderada por uma equipa de jornalistas e especialistas em assuntos do Vaticano, organizou uma lista de vários nomes que constam como possíveis escolhas.
- Péter Erdő, 72 anos, Hungria
- Matteo Zuppi, 69 anos, Itália
- Robert Sarah, 79 anos, Guiné
- Luis Antonio Tagle, 67 anos, Filipinas
- Malcolm Ranjith, 77 anos, Sri Lanka
- Pietro Parolin, 70 anos, Itália
- Pierbattista Pizzaballa, 59 anos, Itália
- FridolinAmbongo Besungu, 65 anos, República Democrática do Congo
- Willem Eijk, 71 anos, Holanda
- Anders Arborelius, 75 anos, Suíça
- Charles Bo, 76 anos, Mianmar
- Jean-Marc Aveline, 66 anos, França
- Tolentino de Mendonça, 59 anos, Portugal
- Alguns dos encontros mais marcantes entre o Papa Francisco e chefes de Estado
Morte do Papa Francisco
Francisco morreu, esta segunda-feira, às 07:35 (06:35 em Lisboa),após 12 anos de pontificado. Tinha 88 anos.
Morreu um dia depois doSumo Pontíficetersurpreendido os fiéisao aparecer na varanda da Basílica de São Pedro, no Vaticano, para a tradicional bênção "Urbi et Orbi".
De cadeira de rodas e visivelmente fragilizado, disse: "Feliz Páscoa".
Nascido em Buenos Aires, na Argentina, a 17 de dezembro de 1936, Francisco foi o primeiro jesuíta a chegar à liderança da Igreja Católica.
O Papa Francisco esteve internado durante 38 dias, noHospital Universitário Agostino Gemelli, em Roma,com uma pneumonia bilateral. Teve alta a 23 de março. A sua última aparição pública foi no domingo de Páscoa, no Vaticano, na véspera de morrer.
Francisco deixa um Pontificado - de 12 anos - marcado pelos afetos e pela dedicação aos pobres.
Com Lusa.